A RUA NOVA

Quando eu era muito pequeno, por volta de 1969 ou 1970, tinha em torno de três ou quatro anos (pois nasci em dezembro de 1965), morávamos na Vila (ou Bairro) Santo André, a sudeste do Centro de São Leopoldo, na rua Botafogo, no terceiro terreno à esquerda de quem entra na rua pela a Avenida Jacob Uebel. Naquele tempo, a rua Botafogo era de chão batido e não tinha saída, culminando no mesmo mato que hoje se vê à direita da subida da lomba dos “Inheca”, na Avenida Feitoria. Também não existia a Rua Luiz Ebling e a André Ebling, que é paralela a Avenida Feitoria, terminava na Avenida Jacob Uebel, sendo interditada por uma roça e o mato da lomba dos “Inheca”.

Naquele tempo, a Avenida Felipe Uebel, que atualmente corta o Bairro desde a rua Álvares de Azevedo até a Juliana Fortuna, no Bairro Planalto, era de chão batido e interrompida no encontro com a Jacob Uebel. No local onde uma década mais tarde foi construído um hospital psiquiátrico, cujo prédio por muitos anos abrigou a empresa Sasun, havia um mato de eucaliptos e o terreno na frente, onde hoje passa a Avenida Felipe Uebel, terminava num grande barranco que caia na Avenida Jacob Uebel. Daí para cima, voltando até à rua Felipe Schiel, havia grama e mato, tendo um trilho de pessoas e animais de aí para adiante.

Por esse tempo, foi aberta uma rua a qual lembro coberta com fino barro vermelho, que ficou conhecida por Rua Nova, na qual transitávamos quando íamos, aos sábados, à igreja, no Centro, na garupa das bicicletas do pai e da mãe. Então saíamos da rua Botafogo em sentido oposto ao do ônibus do Osmar e do Dedinho, subindo até a Avenida Feitoria, na altura de onde está hoje a Madesandri, onde tinha antes a porteira da chácara do seu Leopoldo, e descíamos a rua Chicago, tomando, provavelmente, a rua Bolívia, por onde chegávamos na Rua Nova, tomando-a depois à esquerda, até alcançar a rua João Neves da Fontoura e a São Pedro. De ônibus, saía-se da Botafogo para o lado oposto, fazendo o mesmo trajeto que o coletivo faz ainda hoje.

A Rua Nova era quase deserta e bem estreita, porém, um pouco mais larga que a Avenida Jacob Uebel. Era ladeada de ponta a ponta por mato nativo que com o tempo foi invadindo seu leito e fazendo-o mais estreito, formando curvas ao longo de seu traçado. Por muito tempo ela pareceu abandonada e tempos mais tarde, em um período entre 1985 e 1992, quando estive morando em Caxias do Sul, nela foi feita de asfalto uma estreita faixa, que ia desde a rua Pedro Américo até a Avenida Feitoria, onde hoje há uma sinaleira, junto ao Cemitério Municipal. Então descobri que a Rua Nova era Avenida Imperatriz Leopoldina. Por este tempo também percebi que já havia nela mais algumas construções, principalmente na margem sul, desde a Rua Das Camélias, no Bairro Pinheiro, até a rua Leopoldo Zimermann, que encontra a Imperatriz na esquina onde está a pizzaria Império das Pizzas, ao lado da entrada para a caixa d’água do SEMAE. Provavelmente o nome da rua Leopoldo Zimermann deve-se ao seu Leopoldo, proprietário das terras a leste da rua Chicago, sendo que sua casa na chácara ficava próximo a onde a rua Leopoldo Zimermann se encontra com a Avenida Imperatriz.

No final da rua Jacob Uebel, ao sul, quase junto ao arroio, escondida em meio a muitas árvores, havia uma propriedade onde a mãe nos levava quando ia buscar leite, que vinha num tarro de alumínio. Nessa propriedade morava um senhor alemão magro que nós três pequenos tínhamos por Tio Leiteiro, porque era ele quem nos vendia o leite. Por volta daquele mesmo tempo em que éramos muito pequenos, bem antes de 1972, quando fomos morar em Taquara, ele com sua esposa tinha uma filha adolescente, uma moça loira muito linda, que era noiva de um rapaz tipo alemão, magro, alto, de óculos, que tinha uma Kombi branca bem novinha, ao menos a meu ver. Por aquele mesmo tempo, talvez um pouco mais tarde, mas não muito tempo depois, eles casaram-se e foram morar na Rua Nova, na esquina com a rua Paulo F. de S., onde por volta de 1974 fomos com a mãe no Mercado Independência, um grande mercado para a época, que tinha até os modernos tênis com listras. Era um comprido prédio de alvenaria branco no alto de um grande barranco, de frente para o novíssimo Bairro Independência.

O mercado Independência era desse casal e a casa do velho mercado lá está ainda, embora que a parte onde funcionava o mercado tenha sido demolida recentemente e com a duplicação da Avenida Imperatriz a casa ficou bem mais alta sobre o barranco e bem mais na beirada. Há muito tempo eles construíram um novo prédio no outro lado da Avenida, deslocado uns cinqüenta metros a oeste (em direção ao Centro), na esquina da rua Olentino Vila Câmara.

Em 1998 a Avenida Imperatriz fói duplicada, tendo três faixas asfaltadas para cada lado e recebendo uma excelente iluminação central com lâmpadas para ambos os lados. Mais tarde as faixas centrais de ambos os lado foram reduzidas e transformadas em ciclovias, restando apenas duas faixas de cada lado para os carros, embora que mais largas que as anteriores. E pelo fato de boa parte do trânsito do Centro à Feitoria ter sido desviada para ela, o encontro da Avenida Imperatriz com a Avenida Feitoria junto ao Cemitério tornou-se perigoso, pelo que foi instalada uma sinaleira no local. Hoje esse encontro possui, inclusive, câmara de vigilância eletrônica.

Após a duplicação, muitos novos estabelecimentos se instalaram na Avenida, entre eles, duas grandes pizzarias, uma grande madeireira, o Detran, uma revenda de automóveis usados, um parque municipal de lazer, uma loja de indumentárias gaúchas, sem contar o Hipermercado Big, no encontro desta com a Avenida Mauá, onde transita também o metrô. Atualmente, um grande conjunto habitacional está sendo construído em sua margem norte, quase em frente à caixa d’água do SEMAE.

Wilson do Amaral Escritor
Enviado por Wilson do Amaral Escritor em 08/02/2008
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