JOÃO HÉLIO...ALGUÉM LEMBRA?!...
Após um ano decorrido daquele sete de fevereiro macabro, a mesma Leilane Noibart deu a notícia semana passada no noticiário regional da cidade - curiosamente vestida de preto, do mesmo jeito como, visivelmente consternada, noticiou aquela tragédia inacreditável que baqueou o Rio de Janeiro e o país em peso num torpor de choque.
Saiu, finalmente, a condenação dos quatro monstros - somando-se as penas individuais, 167 anos de reclusão, que ainda permitem apelação na Justiça; assim distribuídas... 45 anos de prisão para dois; 39 para os outros dois. Só chega a trinta: a lei brasileira não permite mais.
O quinto menor "inocente", "vítima da sociedade", como gostam de alardear os representantes dos direitos humanos com os seus chavões que só se evocam enquanto a pancada ainda não aconteceu na própria cabeça... está cumprindo pena socio-educativa de três anos.
Um ano após o terrífico, inqualificável e maior demonstrativo de barbárie, de falência e de deterioração absoluta das instituições sociais vigentes no Brasil, sai a pena... depois da pressão violenta da sociedade desde aquela data inesquecível em que um estádio do Maracanã lotado, em peso, vociferou, estentoricamente por vários minutos, clamando por JUSTIÇA!...
Há um ano atrás por esta época eu também estava em estado de choque, e chorei durante longo tempo, a cada vez que pensava no anjinho indescritivelmente martirizado e na sua família atormentada pelo sofrimento atroz. Escrevi aqui mesmo, no Recanto das Letras, alguns artigos e textos a respeito. Desabafei...Esperneei... Efetuei monumental catarse literária de impotência e de indignação diante dos fatos implacáveis, impiedosos...
Mas quero dizer que continuo em estado de choque. Em silêncio. Com lágrimas que ainda me vêm aos olhos como vieram hoje no trajeto de volta para casa, quando já tinha tomado conhecimento da notícia veiculada de forma um tanto lacônica num jornal de grande circulação. Estranhamente, ao meu espírito ocorria o mesmo que talvez ocorra agora aos espíritos sofridos dos familiares do menininho mártir - e que se enfatize, sim, este termo! - apesar de já terem se manifestado satisfeitos com a atuação da Justiça.
Sim, a Justiça exerceu - sob o massacre brutal da opinião pública - o seu papel corretivo. Puniu, condenou, prendeu...
Mas... e daí?!...
E daí para a família que não tem mais junto a si o anjinho lindo?! E daí para estes facínoras que foram agora encarcerados na universidade de pós graduação do crime, que todos sabemos não possuir a mínima condição corretiva que seja, nenhuma esperança, nenhuma?!...
E daí para o descaso também monstruoso das autoridades que não modificam efetivamente as desigualdades sociais do país, e para a complacência morna da sociedade que, passado apenas um ano, dá mostras de novamente estar mergulhada na letargia quase que conivente...
Afinal, o garotinho era do asfalto, pertencia ao nosso universo... daí o choque, daí a tragédia ter nos atingido tão mais de perto ao ponto de nos ter despertado do sono, pelo menos durante aqueles dias sombrios. Ele não pertencia àquela banda da sociedade geradora de tais feras em virtude de ninguém nunca ter dado a mínima para as suas vidas e condições de vida - mas que importa?!... Isto é culpa das autoridades somente...
Será?!!
Será que o nosso silêncio pétreo, a nossa pusilanimidade morna para com um estado de coisas que já deu mostras de beirar as raias do absurdo também não nos inculpa?! Pois, efetivamente, onde foram parar os clamores, os protestos em massa, toda a gritaria monumental promovida por um país do tamanho do Brasil que, talvez que pela primeira vez em séculos, despertou de súbito e se indignou de fato?!! Para onde se foi a percepção de que o massacre impiedoso da opinião pública é que foi, sim, o grande fator determinante da polícia e Justiça agirem no caso como agiram, com inédita presteza?!!
Acorda, Brasil! E toma a consciência da sua força para exigir mudanças!!
E qual seria a proposta?! Oh, sim, para quê se preocupar?! Talvez os bandidos sejam linchados lá, na cadeia (oh, sim, já ouvi falar que existe um código de honra até mesmo entre criminosos, que em casos extremos exterminam, em insólito protesto: "Ah, tá pensando o quê?!! Somos bandidos, não monstros!!"); ou talvez se aprimorem no crime para quando sairem, daqui a trinta anos, continuarem fazendo vítimas; ou talvez não agüentem o tranco do inferno e morram naturalmente, ou em rebeliões, ou trucidados em lutas internas...
E daí?!...
Que sensação de vazio! Que tristeza, meu Deus! Que desamparo!
Cento e sessenta e sete anos de reclusão ao todo. A satisfação à sociedade enfurecida de indignação naquela época foi prestada. Mas acalmam, estas novidades, a dor indizível da família?! Difícil dizer...
Até que tudo afinal mude, Deus e a intimidade espiritual do casal de pais flagelados em dor o conhecem.
Então deixemo-los em paz - e que aqueles que lhes são mais próximos os auxiliem a encontrar em si mesmos forças para continuar.
Cento e sessenta e sete anos...
E daí?!...
Que o anjinho esteja bem, com Jesus, brincando com outros anjos entre as flores coloridas e perfumadas dos vastos jardins das mansões celestes...
Todo o nosso amor e ternura, João Hélio!...
Após um ano decorrido daquele sete de fevereiro macabro, a mesma Leilane Noibart deu a notícia semana passada no noticiário regional da cidade - curiosamente vestida de preto, do mesmo jeito como, visivelmente consternada, noticiou aquela tragédia inacreditável que baqueou o Rio de Janeiro e o país em peso num torpor de choque.
Saiu, finalmente, a condenação dos quatro monstros - somando-se as penas individuais, 167 anos de reclusão, que ainda permitem apelação na Justiça; assim distribuídas... 45 anos de prisão para dois; 39 para os outros dois. Só chega a trinta: a lei brasileira não permite mais.
O quinto menor "inocente", "vítima da sociedade", como gostam de alardear os representantes dos direitos humanos com os seus chavões que só se evocam enquanto a pancada ainda não aconteceu na própria cabeça... está cumprindo pena socio-educativa de três anos.
Um ano após o terrífico, inqualificável e maior demonstrativo de barbárie, de falência e de deterioração absoluta das instituições sociais vigentes no Brasil, sai a pena... depois da pressão violenta da sociedade desde aquela data inesquecível em que um estádio do Maracanã lotado, em peso, vociferou, estentoricamente por vários minutos, clamando por JUSTIÇA!...
Há um ano atrás por esta época eu também estava em estado de choque, e chorei durante longo tempo, a cada vez que pensava no anjinho indescritivelmente martirizado e na sua família atormentada pelo sofrimento atroz. Escrevi aqui mesmo, no Recanto das Letras, alguns artigos e textos a respeito. Desabafei...Esperneei... Efetuei monumental catarse literária de impotência e de indignação diante dos fatos implacáveis, impiedosos...
Mas quero dizer que continuo em estado de choque. Em silêncio. Com lágrimas que ainda me vêm aos olhos como vieram hoje no trajeto de volta para casa, quando já tinha tomado conhecimento da notícia veiculada de forma um tanto lacônica num jornal de grande circulação. Estranhamente, ao meu espírito ocorria o mesmo que talvez ocorra agora aos espíritos sofridos dos familiares do menininho mártir - e que se enfatize, sim, este termo! - apesar de já terem se manifestado satisfeitos com a atuação da Justiça.
Sim, a Justiça exerceu - sob o massacre brutal da opinião pública - o seu papel corretivo. Puniu, condenou, prendeu...
Mas... e daí?!...
E daí para a família que não tem mais junto a si o anjinho lindo?! E daí para estes facínoras que foram agora encarcerados na universidade de pós graduação do crime, que todos sabemos não possuir a mínima condição corretiva que seja, nenhuma esperança, nenhuma?!...
E daí para o descaso também monstruoso das autoridades que não modificam efetivamente as desigualdades sociais do país, e para a complacência morna da sociedade que, passado apenas um ano, dá mostras de novamente estar mergulhada na letargia quase que conivente...
Afinal, o garotinho era do asfalto, pertencia ao nosso universo... daí o choque, daí a tragédia ter nos atingido tão mais de perto ao ponto de nos ter despertado do sono, pelo menos durante aqueles dias sombrios. Ele não pertencia àquela banda da sociedade geradora de tais feras em virtude de ninguém nunca ter dado a mínima para as suas vidas e condições de vida - mas que importa?!... Isto é culpa das autoridades somente...
Será?!!
Será que o nosso silêncio pétreo, a nossa pusilanimidade morna para com um estado de coisas que já deu mostras de beirar as raias do absurdo também não nos inculpa?! Pois, efetivamente, onde foram parar os clamores, os protestos em massa, toda a gritaria monumental promovida por um país do tamanho do Brasil que, talvez que pela primeira vez em séculos, despertou de súbito e se indignou de fato?!! Para onde se foi a percepção de que o massacre impiedoso da opinião pública é que foi, sim, o grande fator determinante da polícia e Justiça agirem no caso como agiram, com inédita presteza?!!
Acorda, Brasil! E toma a consciência da sua força para exigir mudanças!!
E qual seria a proposta?! Oh, sim, para quê se preocupar?! Talvez os bandidos sejam linchados lá, na cadeia (oh, sim, já ouvi falar que existe um código de honra até mesmo entre criminosos, que em casos extremos exterminam, em insólito protesto: "Ah, tá pensando o quê?!! Somos bandidos, não monstros!!"); ou talvez se aprimorem no crime para quando sairem, daqui a trinta anos, continuarem fazendo vítimas; ou talvez não agüentem o tranco do inferno e morram naturalmente, ou em rebeliões, ou trucidados em lutas internas...
E daí?!...
Que sensação de vazio! Que tristeza, meu Deus! Que desamparo!
Cento e sessenta e sete anos de reclusão ao todo. A satisfação à sociedade enfurecida de indignação naquela época foi prestada. Mas acalmam, estas novidades, a dor indizível da família?! Difícil dizer...
Até que tudo afinal mude, Deus e a intimidade espiritual do casal de pais flagelados em dor o conhecem.
Então deixemo-los em paz - e que aqueles que lhes são mais próximos os auxiliem a encontrar em si mesmos forças para continuar.
Cento e sessenta e sete anos...
E daí?!...
Que o anjinho esteja bem, com Jesus, brincando com outros anjos entre as flores coloridas e perfumadas dos vastos jardins das mansões celestes...
Todo o nosso amor e ternura, João Hélio!...