NEOLOGISMOS POPULARES: A QUESTÃO DO VOCABULÁRIO DO HIP-HOP

NEOLOGISMOS POPULARES: A QUESTÃO DO VOCABULÁRIO DO HIP-HOP

Alexandre Melo de Sousa (UFAC)

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

É inegável o papel que a linguagem exerce na sociedade: é por meio dela que o homem se constitui sujeito, estabelecendo as diversas relações sociais e retratando o conhecimento de si próprio e do mundo (valores ideológicos e visões de mundo). Através da linguagem é possível reconhecer e diferençar: a) os sujeitos dos diferentes agrupamentos, b) os estratos sociais a que pertencem os referidos sujeitos, c) o grau de escolaridade dos usuários, entre outros aspectos. Como asseveram Leite e Callou (2002, p. 07), “é um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com a nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica e social, é freqüentemente usado para discriminar e estigmatizar o falante”.

Conforme Palhano (1958, p. 11), a língua é o veículo comum de interação entre os membros de uma comunidade, não importando a camada social a que pertencem. Acrescente-se, ainda, que, aqui devem ser considerados não só os aspectos sócio-econômicos, mas também os fatores étnico-culturais que são para condicionantes para o fenômeno da variação lingüística, que pode ser observada no léxico – integrante da língua em que se dão a realização e a transformação dos recortes culturais de uma sociedade.

A discussão aqui proposta repousa no sentido de apresentar um glossário a partir do léxico presente em cinco canções do estilo hip-hop/Rap; especificamente, os neologismos populares (gírias), de modo a verificar os aspectos sócio-culturais revelados no acervo selecionado.

1 LÍNGUA, LÉXICO E CULTURA: RELAÇÕES

O homem como ser social utiliza-se de diferentes sistemas de linguagem para interagir com os outros indivíduos e com o mundo em que está inserido. Dentre esses sistemas, a língua torna-se fundamental uma vez que é através dela (linguagem verbal) que as demais linguagens são manifestadas e compreendidas, e, ainda, é por meio da língua que o homem cria as muitas representações da realidade, categorizando-a e nomeando os elementos que o cerca. E para nomeá-los, o homem utiliza-se das unidades lexicais (componentes do sistema lingüístico).

Pode-se afirmar, desse modo, que a estrutura da língua sofre a ação de seus usuários de acordo com as práticas (e os contextos) sócio-culturais em que eles estão inseridos, a saber: espaço geográfico em que vivem, camada social (sócio-econômica) em que se enquadram, grupamentos humanos do qual fazem parte, faixa etária entre outros – características reveladas, especialmente, no léxico que utilizam. Afirma Biderman (1978, p. 139):

[Os membros dessa sociedade funcionam como sujeitos-agentes, no processo de perpetuação e reelaboração contínua do léxico de sua língua. Nesse processo em desenvolvimento, o léxico se expande, se altera e, às vezes, se contrai.]

Esse processo possibilita que o sistema lingüístico configure-se como “veículo de novas representações que vão continuamente surgindo” (CARVALHO, 2006, P. 194). É assim que o léxico expande-se com formações novas que são produtos da criatividade lingüística e humana.

Estabelecida a relação entre língua e cultura, estudo lexical permitirá compreender os aspectos ideológicos e as visões de mundo de uma sociedade. Sobre as referidas relações, Isquerdo (2001, p. 91), em análise sobre o vocabulário dos seringueiros acreanos, afirma:

[estudo do léxico regional pode fornecer, ao estudioso, dados que deixam transparecer elementos significativos relacionados à história, ao sistema de vida, à visão de mundo de um determinado grupo. Deste modo, no exame de um léxico regional, analisa-se e caracteriza-se não apenas a língua, mas também o fato cultural que nela se deixa transparecer.]

2 HETEROGENEIDADE LINGÜÍSTICA: AS VARIAÇÕES E OS NÍVEIS DE LINGUAGEM

Quando Biderman (2001, p. 14) diz que “o léxico de uma língua natural pode ser identificado como o patrimônio vocabular de uma dada comunidade lingüística ao longo de sua história”, fica clara a relação estabelecida entre língua e sociedade. Como o acervo lexical é formado, usado, renovado dentro dos grupos sociais, tendo em vista suas necessidades comunicativas, a partir da análise dos itens léxicos que compõem esse acervo é possível observar o sistema de valores compartilhados pelos grupos, assim como as mudanças sociais e culturais: por isso é possível dizer que as formas lexicais são geradoras de “realidade” e “depositárias de riquíssimo potencial de informação, concernente aos valores do grupo que as criou” (BARBOSA, 2001, p. 34-35).

Assim sendo, num contexto social tão heterogêneo como o que é observado no Brasil, associado ao dinamismo inerente às línguas, de um modo geral, é perfeitamente natural que a linguagem possua como uma de suas características a heterogeneidade (ou variação) lingüística.

Essas diversidades lingüísticas – influenciadas por fatores estruturais ou sociais – podem ocorrer, segundo Mollica (2004, p. 12):

[[...] nos eixos diatópico e diastrático. No primeiro, as alternâncias se expressam regionalmente, considerando-se os limites físico-geográficos; no segundo, elas se manifestam de acordo com os diferentes estratos sociais, levando-se em conta fronteiras sociais.]

Segundo Preti (2003, p. 24), as variedades diatópicas, ou geográficas, são aquelas responsáveis pelos “regionalismos, provenientes de dialetos ou falares locais”, e que conduzem à oposição linguagem urbana/linguagem rural.

Balizadas pelas linguagens urbana e rural podem, ainda, segundo o referido autor, ser verificadas outras variações motivadas seja pelo falante (ou grupo de falantes), seja pelo contexto de fala: as variações diastráticas ou socioculturais. Nesse caso, fatores como idade, sexo, nível de escolaridade, posição social serão as variantes responsáveis pela diversidade lingüística.

A variação pode, também, ser observada no uso da linguagem pelo mesmo falante. Explica Preti (2003, p. 39):

[[...] ou seja, a dos níveis de fala ou registros, poderia também ser chamada de variedade estilística, no sentido de que o usuário escolhe, de acordo com a situação, um estilo que julga conveniente para transmitir seu pensamento, em certas circunstâncias. Poderíamos, então, falar em um estilo formal e um estilo coloquial ou informal, [...].]

Neste estudo interessa mais de perto a variação diastrática, já que nosso foco está em um tipo de linguagem especial criada e utilizada por um grupo de pessoas unidas por um estilo de vida ou comportamento social comum, e que apresenta uma variedade lingüística distinta da linguagem corrente. Essa variedade é marcada ou pela criação de novos itens lexicais ou pela nova acepção semântica atribuída a itens já existentes. Dessa forma, partimos do pressuposto que o desempenho lingüístico e o comportamento social estão perenemente relacionados de forma dialética.

3 GÍRIA: LINGUAGEM ESPECIAL

Pelo que foi exposto até aqui, podemos afirmar que na formação e no estudo de uma língua é necessário levar em consideração a influência que os aspectos sociais – seja relacionados ao usuário, seja relacionados ao ambiente – exercem sobre ela, uma vez que a língua é produto e, ao mesmo tempo, veículo das experiências sociais. Em relação às abordagens léxicas, lembra Oliveira (2001, p. 109):

[De um modo geral, podemos considerar como princípio o fato de que um vocábulo é aceito como elemento da língua, a partir do momento em que ele passa a exprimir todos os valores de um determinado grupo social e, sobretudo, satisfazer suas necessidades de comunicação.]

Assim, a atuação social dos falantes favorece o surgimento de alterações e acréscimos à língua resultando na ampliação lexical por meio de vocábulos e expressões na linguagem “dita” comum, ou ainda o aparecimento de linguagens especiais utilizadas, restritamente, por determinados grupos sociais: as gírias.

Quanto ao seu uso, explica Preti (1984, p. 11), as gírias podem ser divididas em dois grandes grupos: a gíria de grupo e a gíria comum: na primeira categoria estão aquelas relacionadas a “grupos sociais restritos, como por exemplo, os das organizações do crime, do tóxico e da prostituição”.

Na segunda categoria, continua o referido autor, estão as que são de uso da sociedade em geral, utilizadas como recurso de expressividade, como no caso da linguagem obscena.

No tocante ao caráter expressivo da gíria, Preti (2000a, p. 219) diz que seu uso

[[...] conduz a um espírito de irreverência, de intimidade, de aproximação maior entre os interlocutores, o que vem a facilitar certas situações de comunicação. Trata-se de uma forma de aliviar a tensão conversacional e atender a nossos interesses interacionais.]

Preti (1999, p. 38) explica que o surgimento da gíria, “como fenômeno de grupo restrito” é conseqüência da dinâmica social e lingüística. Segundo o autor, são três as características inerentes à gíria: dinamismo, mudança e renovação. Em outra obra, assim Preti (2000b, p. 67) assim descreve a trajetória da gíria:

[[...] perdida a sua condição de signo de grupo, elemento identificador, que faz parte do processo de auto-afirmação do falante no grupo social, a gíria se dilui na linguagem comum. A rigor, nessa etapa, na sua condição de vocabulário não marcado, a gíria poderia mesmo ser simplesmente classificada de linguagem comum.]

No caso da gíria comum, à medida que os demais níveis sociais passam a utilizá-la, embora conservando traços característicos de “inadequação”, sua relação com o eixo diastrático vai, paulatinamente, sendo perdida. Como Santos (2007, p. 08) exemplifica:

[Um bom exemplo é o vocábulo presunto o qual em sua origem era uso exclusivo de pequenos grupos marginais e, atualmente, figura no léxico do senso comum. Contudo, pode-se perceber que a palavra ainda apresenta algumas restrições de uso. Soaria estranho ouvir um professor universitário dizer “o presunto vai ser velado à noite”.]

4 GÍRIAS: NEOLOGISMOS LEXICAIS POPULARES

Carvalho (2006, p. 191) assim define a neologia lexical:

[A neologia lexical é o estudo da criação de palavras ou conjunto de palavras, de sua produção e aparecimento, num momento dado da história da língua. Isto conduz, evidentemente à análise do contexto sociolingüístico. Mas, para que o uso do neologismo se torne efetivo, é preciso que, além das pressões sociais, o sistema lingüístico esteja apto a absorvê-lo.]

A criação neológica, como explica a referida autora, é de suma importância para a revitalização do acervo lexical de uma língua, uma vez que o léxico reflete e acompanha as mudanças sociais e culturais humanas. No dinamismo inerente à língua pode-se observar não apenas o desaparecimento de formas velhas e o surgimento de novas, mas também mudanças relacionadas entre formas e conteúdos. “Qualquer extensão no significado de uma forma, envolve uma redução correspondente no significado das que dela depender” (CARVALHO, 2006, p. 194).

O estudo do neologismo, dependendo do enfoque (prescritivo ou descritivo), apresenta conceitos e classificações que acabam por distinguir dois tipos neológicos: o conceptual e o formal.

[No primeiro caso, teríamos uma nova acepção que se incorpora ao campo semântioco de um significante ou mesmo através de uma conotação nova dada a uma palavra. Neste caso temos como exemplos atuais, linkar, bombado, ficar, para significar ligação sexual sem compromisso.

O neologismo formal constitui uma palavra nova introduzida no idioma, podendo ser vernáculo ou estrangeiro (CARVALHO, 2006, p. 195).]

As gírias – neologismos populares –, por exemplo, têm sua origem motivada, ou pela busca de uma maior expressividade na linguagem, ou para dificultar a decodificação da linguagem por aqueles que não fazem parte do grupo que as utiliza.

Sobre a gênese e evolução da gíria, vale citar Rector (1975, p. 14):

[É onde vida e língua se conjugam numa unidade dependente e indivisível. As palavras nascem por acaso e se desenvolvem nos mais variados sentidos. Do mesmo modo, desaparecem. Nascem na rua, nos afazeres cotidianos. Nesse vai e vem que se transforma num nervosismo criador e como surgem por acaso, nem todas chegam à maturidade. Muitas morrem antes de adquirir força que lhes permuta sobreviver por sua própria conta.]

A gíria pode ser caracterizada por: a) léxico próprio – biba (homossexual); b) alteração fonética – rapá (rapaz); e c) modificações intencionais, em que há interferência da criatividade, diferentemente do dialeto regional, cujas modificações são naturais – profe (professor).

Para finalizar a presente seção, damos a palavra a Carvalho (2006, p. 201):

[As palavras dos diversos falares especiais, penetrando na língua padrão, popularizam seu emprego, em sentidos metafóricos. As transformações lingüísticas, que nos vêm do povo, do uso, assim como as transformações sociais, escapam o nosso governo e vontade, pertencem ao domínio do inconsciente. Nas criações populares, o valor semântico normal é desprezado e a palavra é usada em associações que valorizam seu emprego no contexto.]

5 SOBRE O CORPUS E OS PROCEDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO GLOSSÁRIO

5.1 DO CORPUS

Como explicitamos anteriormente, neste estudo analisaremos o léxico de cinco composições de grupos de Hip-Hop e de Rap brasileiros, focalizando, especialmente, os neologismos populares (as gírias). O Quadro 01 a seguir apresenta os títulos das canções selecionadas para este estudo e a identificação dos grupos que as interpretam:

Quadro 01: composições (e seus respectivos intérpretes) selecionados

COMPOSIÇÕES INTÉRPRETES

Mantenha o respeito C01 Planet Hemp

Muita treta C02 Apocalipse 16

Não compre, plante! C03 Planet Hemp

Negro drama C04 Racionais MC’s

O diário de um detento C05 Racionais MC’s

Fonte: Pesquisa direta.

De uma maneira geral, as letras das canções dos referidos estilos (Hip-Hop e Rap) caracterizam-se por seu caráter informativo-descritivo da realidade social das periferias, favelas, presídios; e denunciativo. Said (1992, p. 13) assevera que:

[[...] as histórias estão no cerne daquilo que dizem os exploradores e os romancistas acerca das regiões estranhas do mundo; elas também se tornam o método usado pelos povos colonizados para afirmar sua identidade e a existência de uma história própria deles.]

O conteúdo desses textos geralmente propõem uma inserção social radical e revolucionária, e trazem questionamentos e protestos contra a realidade política vigente. Essa é uma marca importante presente nas letras do Hip-Hop e do Rap: a focalização da realidade local nas narrativas desenvolvidas nas canções. Conforme Andrade (1997, p. 182):

[[...] os Hip-Hoppers têm uma localização territorial mais forte, a área, e isso traz um laço maior com a comunidade, é a cultura da rua no bairro, o que encerra um grande poder de transformação para a própria comunidade.]

5.2 DA CONSTRUÇÃO DO GLOSSÁRIO

A macroestrutura do glossário foi definida a partir da caracterização, e conseqüente divisão, dos tipos de gíria apresentada por Carvalho (2006, p. 201). Assim, distribuímos o léxico selecionado em três grupos: a) léxico (ou expressão) próprio; b) alteração fonética; e, c) modificações intencionais.

Quanto à microestrutura, os verbetes foram assim organizados: termo de entrada + (definição) + [código de indicação do texto de onde foi extraída a ocorrência].

6 GLOSSÁRIO DO HIP-HOP/RAP

a) léxico (ou expressão) próprio

171 (mentira, fato enganoso) [C03]

Acerto de contas (vingança) [C05]

área (espaço “demarcado” por um grupo) [C02]

arrastão (grupo de pessoas que se unem para praticar determinada ação) [C02]

assinar um cento e vinte e um (responder judicialmente por homicídio) [C05]

bacana (aquele pertencente a uma classe social superior) [C04]

chapado (drogado) [C01]

chupeta (sexo oral) [C05]

cuzão (aquele que tem, ou acredita ter, poder) [C04]

de fé (que possui credibilidade) [C04]

demorar (no momento certo) [C04]

Erva (maconha) [C03]

fazer fumaça (fumar ‘maconha’) [C01]

fudido (adjetivo usado para indicar a pessoa em péssima situação) [C04]

gueto (favela, comunidade) [C04]

ir pruma gelada (morrer) [C01]

leão (presidiário) [C04]

mano (parceiro, amigo) [C02]

meter marra (agir como) [C02]

mil fita (muita bagunça) [C04]

milho (vacilo) [C04]

mococa (lugar perigoso, geralmente utilizado para cometer homicídios) [C05]

morar (entender) [C04]

morro (favela) [C02]

negro drama (situação muito ruim; um indivíduo negro que vive um drama) [C04]

pagar de otário (proceder como ingênuo, bobo) [C02]

país das calças bege (cemitério) [C05]

pegar de gatão (sentir-se superior) [C05]

playboy (indivíduo que pertence a uma camada social superior) [C02]

pó (cocaína) [C05]

pôr as barbas de molho (ficar atento, tomar cuidado) [C01]

pretinho (indivíduo negro) [C04]

preto (indivíduo negro) [C04]

puta ganso (aquele que está marcado para morrer) [C05]

quebrada (determinado lugar) [C05]

quiaca (problema, complicação) [C05]

rango (comida) [C05]

sangue-bom (indivíduo do bem, pessoa legal) [C03]

se garantir (ser competente para) [C03]

se ligar (ficar atento, prestar atenção, tomar cuidado) [C01]

selva (presídio) [C04]

sentir o drama (colocar-se em dada situação, geralmente, ruim) [C04]

treta (situação problemática, confusão) [C02]

trombar (encontrar-se com alguém) [C05]

truta (parceiro, amigo) [C04]

vich (interjeição que indica surpresa ou decepção) [C02]

zorra (confusão) [C04]

b) alteração fonética

cupadi /compadre/ (compamheiro) [C03]

mermão /meu irmão/ (amigo, parceiro) [C03]

pruma /para uma/ v. ir pruma gelada [C01]

c) modificações intencionais

cê /você/ (pronome de tratamento) [C03] [C05]

mina /menina/ (garota, mulher) [C02] [C05]

rapá / rapaz/ (tratamento usado para indivíduos do sexo masculino) [C01]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurou-se enfatizar, neste trabalho, como as unidades léxicas atualizam-se, articulando-se no interior das práticas lingüísticas por meio dos interlocutores possuidores de saberes sócio-culturais compartilhados.

Também se discutiu a respeito das criações neológicas populares – as gírias – e sobre elas, viu-se que dois são os principais motivadores interferentes no processo de criação: a) a busca pela maior expressividade da linguagem e b) a função criptológica, ou seja, essas criações têm a intenção de serem decodificadas apenas pelos membros que fazem parte do mesmo grupo.

Expostos os fundamentos teóricos, apresentou-se um glossário, cujos itens léxicos foram extraídos de cinco letras musicais do Hip-Hop/Rap – estilos musicais que se caracterizam pelos aspectos de informação/descrição e denúncia das mazelas sociais e políticas presentes em suas composições; e ainda, pela linguagem utilizada em suas letras, que busca aproximar, ao máximo, da linguagem de seu público alvo.

Por fim, por meio da organização do glossário pôde-se verificar que, dentre os tipos de gíria, prevaleceu a que ocorre com léxico (ou expressão) próprio. Vale ressaltar, ainda, que a maioria, apresentou mudança de sentido.

Assim, ficou claro que os interesses e as características peculiares a um grupo refletem-se no próprio conjunto de expressões lingüísticas por ele utilizado. O sistema lexical de um grupo, portanto, “denuncia” particularidades de sua organização social. Como bem caracteriza Sapir (1961, p. 45), “O léxico completo de uma língua pode se considerar, na verdade, como um complexo inventário de todas as idéias, interesses e ocupações que açambarcam a atenção de uma comunidade”.

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OBS: Usaram-se [ ] para destacar as citações.