As expectativas libertadoras para a catequese
O cotidiano está repleto de certas anomalias que dificultam o desejo de ser-cristão e bloqueiam a efetiva inserção na Igreja. Eu fico imaginando as causas dessas distorções. O que se vê é um universalismo, do tipo “todas as religiões são boas”, um pluralismo como “para quê ir à igreja se Deus está em todo o lugar?”, uma ignorância doutrinária que indaga “o que acontece depois da morte?” ou ainda “sou católico, mas acredito na reencarnação”, etc. Esse tipo de pensamento revela um desconhecimento da doutrina cristã, deixando clara a ocorrência de uma catequese nula ou extremamente deficiente, onde um currículo burocrático se sobrepõe aos aspectos doutrinais, afetivos e conseqüentemente evangelizadores. As catequeses, em geral, como alguns cursos de teologia de fim-de-semana, incutem conhecimento, mas não evangelizam; dão formação intelectual, mas não são libertadoras. Nem tampouco transformadoras.
Desde os primórdios, a catequese tem sido a verdadeira práxis da Igreja que está a serviço do Reino. Como “o anúncio de Jesus” ela é (ou deveria ser) um instrumento da evangelização, e como tal deveria estar a serviço de todos, especialmente dos pobres, dos que têm fome de justiça e sede de Deus. Catequese libertadora é aquela que mostra o caminho do Reino, conduz ao seguimento de Jesus que, como causa incausada é o causante do Reino. Para tanto, ela deve ser esclarecedora, provocadora e questionadora. Só sendo assim, ela será libertadora e evangelizadora. Precisa estar centralizada na pessoa de Jesus Cristo. Hoje existe um Diretório Nacional de Catequese, como referencial para essa atividade no Brasil, que não passa de um “prato feito”, uma “receita de bolo”, que parece querer impor limites à ação do Espírito Santo.
Catequese libertadora é aquela que procura vencer a alienação, banir o formulismo e dissipar certas atitudes postiças como o pieguismo, as supertições ou certas práticas meramente sociais. É libertária a catequese que leva em conta o contexto das realidades básicas da vida humana. De que vale ensinar a rezar, falar em céu e explicitar os sete sacramentos se não despertarmos na criança a solidariedade para com os que têm fome, ou não levarmos a descobrir o pecado na origem da pobreza? É preciso compreender o engajamento na Igreja através das lutas do povo. Sobrevivência, cidadania e crescimento atual devem estar na base do ser-cristão.
Enquanto alguns utilizaam-se a Igreja de forma pragmática e interesseira, usando-a como um mero “pronto-socorro”, buscando tirar as mais diversas vantagens, outros buscam na participação alavancada na fé, a vivência de uma espiritualidade discernida, construtiva e comunicante. Essa atitude leva o cristão, a saber, enfrentar a falta de estabilidade e consistência moral que assalta a pessoa, a família, a sociedade.
A catequese libertária vem inserida em um processo dinâmico, abrangente, que busca reintegrar muitos batizados que vivem como pagãos. É preciso organizar, voltar a proclamar verdades de estão esquecidas, resgatando a consciência da presença de Deus no coração do ser humano, retirando-o de um contexto de individualismo e indiferença, e assim promovendo ações e atitudes capazes de transformar corações, famílias, grupos e a sociedade.
Carmen Sílvia Machado Galvão
Teóloga leiga, socióloga e escritora