O esporte como caminho
Os espetáculos que os quase seis mil atletas, representando as Américas, nos proporcionaram, por ocasião dos Jogos Pan-americanos, no Rio de Janeiro, nos mostraram, uma vez mais, que o esporte é um caminho seguro para desenvolvimento físico, emocional, psíquico e social, do ser humano. E que, por isso mesmo, deve merecer dos governantes investimentos cada vez maiores, para que possa assegurar, a um número cada vez mais extenso de pessoas, o acesso a seus benefícios, já nos primeiros anos de existência.
Estou falando em massificação das práticas esportivas, a partir da primeira escola, onde a criança deve ser apresentada a uma diversidade de atividades físicas, de caráter recreativo, que possam despertar-lhe o gosto pela prática esportiva, em modalidades que lhe venham a ser oferecidas, em seguida.
Os benefícios que adviriam de uma política permanente, focada para resultados sempre mais abrangentes, seriam imensos. Essa prática estaria contribuindo para o desenvolvimento mais saudável de nossas crianças e nossos jovens, levando-os a serem adultos com muito mais segurança e determinação, com vida mais saudável e mais longa.
O investimento em programas dessa natureza diminuiria, em muito, o investimento em saúde, o gasto com hospitais, com medicamentos, uma vez que a prática de atividades esportivas é aliada de uma vida saudável, desde que possa estar assegurada uma alimentação adequada.
Educação é um processo que vai acontecendo ao longo da vida. Portanto, quanto mais cedo a prática de atividades físicas começa, no processo educativo da família e da escola, é melhor para o jovem cidadão que vai usufruindo de seus benefícios, ao tempo em que constrói seu desenvolvimento pleno, capacitando-se para os desafios que continuará enfrentando no curso de toda a sua vida.
Além disso, com certeza, nossos jovens teriam um grande aliado no enfrentamento de seus problemas, na definição de suas profissões, nos rumos que tomarem; pela autoconfiança que o praticante de esporte adquire, como condição inerente às próprias competições.
Tudo, na prática de atividades esportivas, é construtivo e educa. Seja esporte individual ou coletivo. O praticante habitual desenvolve confiança, respeito, determinação, controle, coordenação, superação de seus próprios limites, obediência a regras, aceitação de derrotas e vitórias. Além disso, a auto-estima de um atleta é sempre elevada, mesmo que ele não seja um medalhista. Ele é um vitorioso de seus próprios limites e de suas próprias fragilidades.
Muitas organizações não governamentais estão desenvolvendo, em nosso país, projetos de inclusão social, que estão retirando meninos de rua ou em outras situações de risco, para a prática de atividades esportivas ou artísticas, dando-lhes, assim, chance de uma nova vida.
Esses projetos, que são de iniciativa privada, vêm, de acerta forma, atender a uma situação emergencial, em busca de recuperar o tempo perdido, tentando uma solução pontual, não duradoura, para mitigar uma realidade social adversa, uma vez que essas crianças são recolhidas entre aquelas que já estão nas ruas, dormindo, pedindo e, muitas vezes, sendo cooptadas pelo crime.
A existência de políticas públicas, nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal, que dote as escolas de aparelhos, de professores; que estabeleça um programa de prática esportiva, a partir da primeira escola, até ao ensino superior, será um estímulo aos novos cidadãos, aos novos atletas, a uma vida mais saudável, com perspectivas de futuro que hoje estão sendo toldadas por um futuro incerto, cheio de sombras.
O noticiário dos jornais, do rádio, da televisão, tem mostrado, ao país, os crimes que crianças e adolescentes estão cometendo, nas mais diversas regiões, nas mais diversas classes sociais, dando mostras de uma infância e juventude, meio perdidas em seus valores; meio descrentes, talvez, de seus futuros.
O uso de drogas, a partir do álcool. A prática habitual da violência. A ociosidade. A criminalidade como forma de obtenção de recursos e poder. Tudo isso parece realçado nas matérias que divulgam as práticas criminosas de jovens e crianças, quando tais fatos têm sido noticiados.
Não é isso que esperamos de nossa juventude, para o futuro de nosso país. Não é isso que vislumbramos, enquanto pais e cidadãos, para a sociedade em que vivemos, para o tempo em que fomentamos nossos sonhos e esparzimos nossas esperanças, para que elas contagiem o coração dos outros.
Precisamos, urgentemente, abrir perspectivas para essas crianças, para esses jovens que estão começando a vida agora, para que eles possam estar fortalecidos para evitarem o caminho sombrio das drogas, dos crimes, da destruição.
O esporte, além da família e da religião, deve ser o nosso grande aliado, por ajudar na formação, no preparo; por instrumentar para os desafios, por incentivar o aperfeiçoamento, por abrir oportunidades de ganhos financeiros para os que quiserem e puderem se profissionalizar.
imirante.globo.com/ivansarney