CONCURSOS LITERÁRIOS – FESTA DE ENTREGA DE PRÊMIOS

Escritor tem que ter o olhar para o COLETIVO. Na vida literária – pelo que tenho visto – poucos colegas têm esta visão. Querem, como todo o brasileiro dos últimos quarenta anos, fazer valer a "lei do Gerson": levar vantagem em tudo.

Vivo constantemente preocupado com o prestigiamento das Casas de Poetas ou de Associação de Poetas e Escritores locais, ambas sempre em processo de consolidação, eis que em regra, sempre muito pobres e dependentes do prestígio de seus dirigentes e dos amigos deste.

A entidade associativa acaba tendo o prestígio decorrente de quem a dirige. Se o dirigente-maior tem prestígio, a entidade passa a ter esta convalidação perante a comunidade. Dificilmente a associação literária tem prestígio próprio, “descolado” do de seus dirigentes.

Em todos os atos públicos de sua história, a entidade – mercê da ação de seus dirigentes – é que deverá sair prestigiada, fortalecida.

O que recomendo ao pessoal da Casa do Poeta Brasileiro - POEBRAS é que uma entrega de prêmios – em certames literários – seja uma festa de congraçamento, de inter-relação social e de interação psíquica entre os escritores locais, público assistente e os premiados.

Que não se resuma a uma mera sessão formal (se for o caso) de entrega de prêmios com falatórios e apresentação de programas culturais aprovados pelo governo e que "irão entrar em funcionamento" no circuito local, etc.

Nestas oportunidades os ativistas públicos (pagos pelos governos federal, estadual e municipal) aproveitam para vender uma imagem local muito diferente do que ocorre no dia-a-dia da comunidade. Enfim, daquilo que ela está acostumada a ver e, na maioria das vezes, a criticar: a quase ausência de programas de apoio a iniciativas culturais por parte do Poder Público.

Os ativistas culturais que atuam nas diversas instâncias do Poder têm por objetivo “vender” a imagem do município aos eventuais visitantes e, normalmente, ornam os seus discursos de inverdades. Não se pode esquecer que dentre os presentes sempre haverá algum ativista político da oposição e pode haver incidentes verbais que jogarão um evento de séria proposta ao descaso público.

Em regra os escribas participantes de concursos literários não são bons oradores. Escrevem, mas não são bons falantes em oportunidades como esta – um evento de louvação ao coletivo. Não podemos esquecer que se está fazendo uma festa em louvor a vários premiados. Salvam-se quase sempre um ou dois bons discursos, nem sempre de laureados, mas de convidados e de autoridades públicas acostumados com a arte da oratória.

Isto sem falar que sempre há alguém do público assistente que quer orações curtas, não porque queiram um bom evento, mas sim apenas desejam se livrar rapidamente do compromisso e voltar pra casa.

Temos experiência, por aqui e alhures desde muitos anos, que cerimônias tipo churrascos, jantares informais em restaurantes públicos produzem maior entrosamento do que sessões formais em ambientes públicos tipo Prefeituras, Câmaras de Vereadores, Escolas, etc.

Nestes congraçamentos se consegue tratar com os dirigentes municipais (da área da Cultura e outras) alguns assuntos que normalmente não obtém acolhida nas repartições públicas nos dias de expediente administrativo. Deve-se, também, na oportunidade, aproveitar para conseguir o apoio do empresariado local para algumas iniciativas que necessitem do mecenato privado.

Como sempre, é importante que se tenha ajustado com a imprensa escrita local para que o jornal publique, em dias anteriores ao evento, um suplemento ou página literária contendo, no mínimo, os textos que obtiveram os primeiros lugares no concurso literário que ora atinge a sua culminância: a premiação dos laureados.

A referida anterioridade de veiculação ajuda na chamada de atenção do público para a cerimônia que virá a ocorrer em breve e também para dizer de sua importância na área cultural do todo comunitário.

Acaso não se logre a publicização dos textos agraciados com anterioridade, pode-se vir a fazê-la no dia seguinte ao evento de entrega de prêmios, aproveitando o “gancho” do ato público de premiação.

Aconselha-se, acaso possível, que haja a foto e breve currículo dos premiados junto a cada obra premiada, bem como seja remetida uma substanciosa “NOTA PARA A IMPRENSA” a todos os órgãos de comunicação locais.

A presença, no evento, de algum empresário simpático às causas associativo-literárias pode facilitar o pedido de que este venha a patrocinar a página ou o suplemento acima referido.

É importante que todos os textos premiados e os outros que participaram do certame sejam publicados numa Coletânea Literária, patrocinada pelo poder público ou custeada pelos participantes selecionados para a obra. Ressalte-se que é de todo conveniente e útil para a credibilidade da associação, que os três primeiros lugares na premiação obtenham “Prêmio de Edição”, ou seja, não tenham despesas pecuniárias com a publicação de seus textos.

É este o ato público mais importante na história de uma associação literária: o registro em obra individual. O livro é a materialidade histórica do esforço de seus dirigentes e apoiadores. Todos os esforços devem ser orientados nesta materialização.

Se quisermos atingir os objetivos gerais das associações, publiquemos os novatos. Aqueles que são bem tratados em eventos associativo-literários saem estimulados e confiantes de que podem realmente se tornar escritores.

Entregar ao público leitor mais um escritor é tarefa de brasilidade, de amor ao coletivo.

- Do livro, em preparo, CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/844213