"*AH, INSENSATEZ... QUE VOCÊ FEZ?"
* Alusivo ao verso de Vinìcius de Morais/Música Insensatez/Tom Jobim)
O assunto de hoje é o carnaval, e é fato que os tempos mudaram.
Na atualidade, embora ainda com forte raízes culturais e artísticas, a festa muitas vezes assume proporções sociais um pouco preocupantes.
E quem tem filhos na 'flor-da idade" acaba por se preocupar ainda mais.
É um ir e vir danado, estradas lotadas, maior consumo de álcool e drogas, sexo liberado e estimulado e o que mais nos preocupa, a falta da sensatez.
Mas, insensatez foi o motivo do meu título, porque pretendo comentar o que hoje foi notícia na mídia, a proibição dum carro alégórico duma escola de samba do primeiro grupo do Rio de Janeiro.
O que venho observando é que a despeito de todas as qualidades positivas e negativas da festa, o primordial para quem é do ramo é "ganhar o carnaval".
E faz tempo que o verbo "ganhar" faz parte do carnaval..."ganhei o carnaval e você me perdeu", já dizia um SAMBA dos velhos tempos.
E "ganhar' o carnaval me parece significar ser o 'melhor "no compartilhar e no agregar as "artes'.
Mas infelizmente o que vale é o tudo para se ser "campeão!
O enredo sempre é a chave mestra, o que abre o tão disputado caminho da vitória, e nos últimos anos os carnavalescos têm ousado muito, mas ousadia e insensatez muitas vezes têm um preço alto...o de acabar se 'perdendo" no carnaval.
Num momento em que o nú não faz tanto sucesso, caiu na rotina da banalização, é mister criar novos fatos inusitados, mas o mais difícil e artístico seria manter a ética e o respeito na escolha e desenvolvimento dos temas.
Dessa vez acredito que ousaram demais.
Ao que me pareceu o tema deve ser o Holocausto, pois pelo que pude perceber o carro proibido fazia alusão à que é considerada uma das maiores e lamentáveis tragédias da humanidade, movida pela insensatez das psicoses...
Realmente só poderia ter dado no que deu! E culminado com a proibição da alegoria.
Mas o que há que se entender é que a liberdade de expressão é como qualquer outro DIREITO, não é ilimitada: Termina quando começa o direito do outro. O direito de sentir, o direito de calar a sua dor.
E dentro do que representa históricamente e socialmente o carnaval, o referido tema foi infeliz demais, por mais que possa haver intenções de se condenar a história, o que eu acredito que deva ter havido.
Carnaval não combina com tristeza, com preconceito, com massacre, e vale lembrar que a História altamente dolorosa para a humanidade como um todo, deva ser respeitada e silenciada nos momentos de festa e não lembrada no asfalto da Sapucaí.
O que assusta nesse episódio, é a insensatez por parte de quem, sendo artista, geralmente tem uma sensibilidade mais aflorada e deveria ter intuido que desenvolver tal tema não daria muito certo.
Mas não é o que vem ocorrendo.
Tenho percebido uma certa apelação carnavalesca, e nem sempre o melhor conjunto é o presenteado depois de desfilar pela avenida.
Parece-me que outros quesitos, talvez não tão claros aos meros espectadores e torcedores, estejam influenciando nos resultados.
Que pena!
Não sei se carnaval se ganha ou se perde.
A arte verdadeira...é sempre vitoriosa.
Talvez estejamos sim, perdendo a oportunidade de valorizar a arte na sua origem, o samba no pé, o choro dos cavaquinhos, o repique das cuícas,o tudo que vem da poesia pura que o carnaval em si significa.
Dizem que o povo gosta de luxo. Pode ser.Mas o luxo com ética, respeito e sensatez...brilha muito mais, e por isto, tem mais força na avenida...porque enaltece a arte.
Nesse contexto, que tenhamos todos, um vitorioso carnaval, pelas avenidas da vida.