O massacre sempre é mais fácil

Essa semana li a revista Piauí do mês de agosto de 2007, na qual vinha uma reportagem do ex presidente da república FHC, uma reportagem muito boa, respostas inteligentes, no entanto para uma pessoa que tenha algum conhecimento da política desta pessoa e de sociologia, conhecimento mínimo, porém para os leigos e palpiteiros de plantão não passa de uma avalanche de besteiras vindo de um mal caráter.

E foi exatamente o que fez alguns sites que reproduziram, parcialmente, a respectiva reportagem, da forma que editaram fizeram com que o conteúdo da reportagem se transformasse num deboche de um ex presidente para com o povo.

Isso me faz refletir como é mais fácil massacrar, esculachar as pessoas, indo em concordância com o senso comum , do que exprimir a realidade da causa. Ora não é por que eu não gosto de tal política, ou do que fez fulano que vou deixar de dizer que ele é bom articulador, que ele é inteligente.

Infelizmente no mundo atual inteligência tem ganhado o sinônimo de ser do bem. Eu não acredito nisso, e não concordo, pra mim inteligência é uma faculdade inerente a qualquer pessoa, independente de como ela use essa faculdade. Porém requer um prévio conhecimento de causa.

Ora vejamos por Marcola, o cara não tem estudo, mas é inteligente, ele lê, tem certa cultura, conhece muito bem o comportamento humano, para conseguir manipular tão bem as pessoas, e isso ficou muito claro em entrevistas dele em várias revistas ao longo dos tempos. Não é porque ele é um criminoso, que vai deixar de ser inteligente, o que difere aí, é a forma e em que ele aplica essa inteligência dele. O mesmo digo para Hitler, FHC, e tantos outros.

Quando li a reportagem editada de FHC, me senti lendo sobre o os famosos realitys shows que assistimos por aí. Editam o que querem que o povo acredite que é. Massacra quem o expositor da opinião e fica tudo bem. A grande maioria da sociedade gosta de ação, atitude, e falar mal das pessoas parece que é uma forma de se firmar como corajoso, o que não teme.

Na respectiva reportagem o ex presidente colocava que universalizou a escola, e perguntavas pra que, já que o que se ensina nas escolas é um desastre. Ele está mentindo quanto a isso? Absolutamente, a escola hoje se tornou um picadeiro de adestramento de robôs, que reproduzem conhecimentos prontos e aplaudem essas mesmas pessoas que se firmam numa profissão falando mal das outras.

No entanto essa frase no meio de tantas outras editadas também, soa como um deboche ao ensino, ao povo. E é exatamente isso que os autores dos artigos editados querem. Um comentário conotativo se transforma num insulto, como quando FHC fala que brasileiro não sabe marchar e sim sambar. Ele não quis dizer que brasileiro marcha mal, mas da falta de patriotismo nosso. E quando diz que a parada de 7 de setembro é uma palhaçada, está se referindo exatamente a incoerência nossa: somos patriotas no esporte, mas não na política, me temos o pau nos políticos o ano todo e dia 7 vamos pra avenida aplaudir os mesmos que falamos mal.

Pegar fragmentos de uma pessoa e colocar aquilo contra ela, é muito mais fácil do que entendê-la. É assim que acontece com as pessoas acometidas por transtorno mental: um pequeno erro delas, é o suficiente para boa parte do seu meio social a excluir por causa da doença, e marginalizar não só ela, mas a todos acometidos pela respectiva doença.

Quantas vezes fui vítima disso, e sempre serei, pois é mais fácil mandar ela se tratar ou se internar do que enfrentar o problema social que bate na sua porta, e aceitar as diferenças, ou simplesmente ajudar o próximo.

Lilian Gonçalves
Enviado por Lilian Gonçalves em 30/01/2008
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