Liberdade Pelo Pensamento

É possível que o temor da morte provenha do fato de se pensar que tudo termina com a vida.

A morte verdadeira é o não pensar, uma tirania que aprisiona a inteligência, uma escravidão mental.

Como sentir a eternidade dentro de si?

Não estamos morrendo todas as noites para despertar no dia seguinte?

Na Comédia de Dante, diz o poeta: “O pior dos suplícios é sentir-se morto sem acabar de morrer, é sentir-se quase vivo estando morto, e ansiando morrer, seguir vivendo”.

A morte tem a ver com a falta de estímulos, com a falta de interesse e de esperança pelo futuro.

O essencial é a atividade, o movimento, o equilíbrio. É necessário abandonar a inércia e a desesperança, construir um novo futuro e um novo passado, ressurgir das cinzas como o pássaro imortal, uma verdadeira ressurreição que a lenda de Lázaro não pôde explicar.

Por que o espírito humano busca o conhecimento e o aperfeiçoamento? Por que busca o acercamento com Deus?

A liberdade do homem é construída sobre o pensar. Quanto mais pensar, mais livre será. Mas o que é pensar? Esta movimentação discricionária de pensamentos na mente seria o pensar? Não, isso não é pensar, quer dizer, criar soluções luminosas, optar por caminhos, selecionar o que convém para o bem e felicidade de todos.

Ao pensar, opomo-nos à fatalidade e liberamo-nos do destino comum, da vida comum, da mediocridade.Trata-se de opor à fatalidade um destino próprio, construído pela pessoa, que será viável através do conhecimento, do domínio dos pensamentos.

Qualquer obstáculo pode ser transformado em instrumento do aperfeiçoamento pessoal através da utilização da inteligência. Um defeito pessoal que nos incomoda poderá mover-nos para combatê-lo, extirpá-lo, para mudar. E mudando poderemos ir construindo um novo futuro, um novo destino. Nenhuma idéia diferente ou oposta à do aperfeiçoamento poderá nos impulsionar para a construção de uma vida mais ampla e feliz.

Um dos preceitos gravados no Templo de Delfos era o “Conhece a ti Mesmo”. Platão diz através de Sócrates - personagem de um de seus escritos -: “Parece-me ridículo, pois, não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me ponha a examinar coisas que não me dizem respeito... Não são as fábulas que investigo; é a mim mesmo”.

Esse conhecimento implica, conhecer os próprios defeitos. É muito comum censurarmos os defeitos dos outros. Ao evitar, em nós, os defeitos que censuramos, estaríamos realizando uma pequena parte daquele Conhecimento inscrito no Templo grego.

Assim como a fome e a sede são sinais de nosso organismo indicando que precisamos nos alimentar, nossos defeitos são sinais que nosso organismo psicológico nos dá indicando que devemos mudar. E o nome dessas mudanças é “educação espiritual”; construção de uma nova conduta que deverá nos ocupar diariamente, da mesma forma como dormimos e nos alimentamos, para não cair na inanição mental, na indigência espiritual.

Para González Pecothe, o criador da Logosofia, “o quadro das deficiências que a criatura humana apresenta, desde que nasce até o final de seus dias, poderia parecer desalentador. Todavia, isso não deve abater o seu ânimo, porquanto é preferível conhecer que inimigos temos dentro, para combatê-los com lucidez mental, a ignorá-los, enquanto ficamos à mercê de sua influência despótica, suportando docilmente a maioria dos desgostos e depressões que diariamente ocasionam”.

Nagib Anderáos Neto

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