Longe tão perto, a China.

Quem viajou à China sabe que é uma maratona: 10 a 11 horas para alguma capital Européia ou Costa Oeste dos Estados Unidos e mais 11 a 12 horas até Shangai ou Beijing(Pequim). Somando tudo, incluindo tempo em aeroportos, a viagem total porta-a-porta pode chegar a 40 horas ou mais!

As razões que me levaram nesta semana pela 2ª. vez a esse país fascinante são profissionais, mas é irresistível aproveitar o pouco tempo livre para traçar comparações, rever conceitos e imaginar o futuro.

O futuro da China como potência mundial começou no passado(final dos anos 70), quando o país começou a substituir dogmas de Karl Marx por outros de Adam Smith ... mas não é disso que eu quero falar, pois há textos disponíveis de analistas muito mais preparados do que eu. Quero me ater a percepções, já antecipando o pedido de desculpa pela certeza de falha na tentativa de passar em poucas linhas uma imagem mesmo que pálida desse intrigante país:

Com a população de mais de 1,3 bilhão, está em ebulição e num frenético crescimento, especialmente nas grandes cidades. Essas mudam a sua paisagem praticamente a cada dia e algo similar acontece também nas menores.

Fui para uma cidade que fica a meio caminho entre Shangai e Pequim, 800 km para Sul e Norte respectivamente , não aparece entre as 50 maiores da China mas que tem aproximadamente 10 milhões de habitantes!!! Absorveu o pulsar incessante e rápido de toda a China urbana. A referência cultural que eu tinha a respeito dessa “pequena" cidade era o manuscrito do livro “A Arte da Guerra” que foi encontrado em suas imediações nos anos 70 e do qual recebi de presente uma réplica em madeira. No mais, o dever profissional e uma boa dose de curiosidade.

Há uma surpreendente limitação logística na cidade que fica eqüidistante das 2 maiores metrópoles Chinesas, pois apesar da pujança do comercio, da agricultura e da indústria regional, o aeroporto mais parece uma rodoviária de cidade do interior, com apenas um ou dois vôos diários. Dá para imaginar que essa situação vai mudar em breve. Menciono isso apenas por ser possivelmente um entre milhares de exemplos do que vai garantir e impulsionar o crescimento pelos próximos anos.

Em Shangai o progresso é consolidado e evidente. Guindastes/gruas para onde quer que se olhe, prédios modernos e “modernosos” dependendo do gosto arquitetônico de cada um, mas sem dúvida uma coleção impressionante de edifícios prontos ou em construção por todo lado... Febre do crescimento... Aeroporto em que os portões de embarque se contam às centenas... Trem que liga ao Aeroporto a inacreditáveis 431 km/hora!!! deslocando-se por campo magnético sem atrito... e os indicadores econômicos asseguram que esse fervilhar empreendedor vai continuar: Olimpíadas em 2008, Exposição Mundial em 2010...

Trata-se de um país cujo “milagre econômico” ocorre num momento em que o apoio oficial, os investimentos estrangeiros, a mão-de-obra abundante e as condições do mercado mundial estão favorecendo. Por lá, sente-se um clima de “precisa trabalhar duro para ganhar” e não de “já ganhou”. E isso faz uma grande diferença.

Sente-se muito o frio, pois na semana passada fazia entre menos 5 e menos 8 graus, mas a cordialidade e o esforço para agradar compensam e aquecem. Chega-se no aeroporto e se nota instantaneamente que os funcionários são gentís e bem humorados, que se alegram genuinamente em receber o visitante. Isso é um sinal para quem quer continuar crescendo e depende do exterior.

O trânsito pode ser caótico em Shangai, parecendo que todos os Chineses resolveram sair em suas bicicletas, carros, caminhões, triciclos (se é que assim se pode chamar os milhares de veículos utilitários que cruzam as ruas em todas as direções), mas entre buzinadas e zigue-zagues, se vai avançando: estradas de primeiro mundo, pontes grandiosas e inevitáveis congestionamentos, mas com paciência e bom humor se chega lá.

Comida? Os Chineses desenvolveram através dos séculos uma variedade de opções culinárias que vão dos vegetais (muitos), aos cogumelos (todos), peixes estranhos, carnes variadas (sim, se come em algumas regiões o animalzinho doméstico que V. pensou, só que eles justificam que não é doméstico e sim criado especialmente para servir de alimento...), escorpiões crocantes !!! e partes de animais que V. jamais pensou que pudessem servir de alimento, mas digamos que 60% do que se come por lá tem correspondência aproximada com o padrão Brasileiro inclusive o arroz que fecha as refeições. Quase tudo pode ser "enfrentado", mesmo para os paladares mais exigentes ou menos dispostos a experiências gastronômicas. 

Parece que tudo na China tem um propósito, uma história e uma explicação quase poética (com as exceções já mencionadas). E tem o chá (dezenas de opções, uma melhor que a outra), que se toma a qualquer momento e que entre outros benefícios tem o de consertar um estômago mais revolto.

É uma sociedade que tem as suas particularidades e alguns aspectos de cultura ainda exótica para os padrões ocidentais, famílias pequenas, predominância masculina e ausência de irmãos, primos e tios devido ao rigoroso controle da natalidade.

Outro aspecto é o espaço ainda a ser percorrido para chegar a padrões estáveis de qualidade de alguns produtos, mas não podem existir dúvidas quanto à tendência de melhoria (e rápida) pois o contato com o exterior está influenciando positivamente.

Mesmo com a distância e o idioma que em nada facilita os contatos, há muita boa vontade e um desejo férreo de progresso.

Beijing 2008 promete e a China de daqui a 3 ou 5 anos promete muito mais. Quem quiser se interessar sobre as possibilidades desse futuro tão próximo, não estará desperdiçando o seu tempo.


Leo Della Volpe
Enviado por Leo Della Volpe em 29/01/2008
Reeditado em 26/02/2011
Código do texto: T837071
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