Aprender uma lingua não é receita de bolo.
“Você concorda que uma receita de bolo não é um bolo?” Espero que sim. O que é mais gostoso, comer o bolo ou ver a sua receita? Sentir o aroma de uma comida ou apenas vê-la em um livro de receitas? Através da metáfora de Marcos Bagno, faço uma crítica a todos que ainda acreditam que língua é sinônimo de gramática.
“A gramática não é a língua, assim como uma receita não é um bolo”. Aliás, saber gramática é saber sobre a língua e não necessariamente como usá-la. Não podemos esperar que os estudantes possam saborear de verdade a aprendizagem de uma língua, quando tudo que se faz é repetidamente instruí-los com as receitas gramaticais ao longo dos cursos. É como se fizéssemos um curso de culinária completo sem nunca irmos à cozinha para preparar de fato pelo menos um prato.
Experimente assistir a um programa de culinária pela TV e tente fazer um prato mostrado pelo apresentador só anotando a receita. Provavelmente você não teria coragem de convidar os amigos para um jantar com essa única experiência. O mesmo acontece com os estudantes que após algumas aulas temperadas de gramática acumulam conteúdo sem saber o que fazer com ele. As aulas recheadas de receitas gramaticais só alimentam a insegurança e o medo de tentar.
O professor que não consegue ir além da gramática (livros de receitas da língua), se compara a um cozinheiro de meia tigela e acaba por assustar seus alunos com um excesso de regras e exercícios que só funcionam para as provas escolares – e isso quando funcionam! –; e os alunos de tão preocupados em memorizar tudo ou com as etapas do processo, se atrapalham e desistem, chegando ao final com uma indigestão gramatical. É preciso ir além das receitas (gramática); só assim os estudantes terão coragem de juntar os ingredientes, experimentar e saborear uns com os outros a delícia que é falar uma língua estrangeira. Se continuarmos a valorizar somente as receitas, os alunos voltarão para casa sem nunca saber o quanto é gostoso aprender a falar por exemplo uma língua estrangeira ou descobrir os "sabores" da língua portuguesa.
Jairo Souza.