Linguística Textual e suas contribuições

Uma preocupação que aflige os professores de Língua Portuguesa está vinculada ao desempenho da escrita que os alunos apresentam no decorrer do processo ensino-aprendizagem. Tal competência que, aliás, é exigida no currículo educacional, independentemente da escolha profissional que o indivíduo fará, é passível de estudos norteadores de teorias contemporâneas, sobretudo de comparações entre estas e outras teorias importantes. Para tanto, levaremos em consideração a lingüística textual, mas precisamente sobre o ponto de vista de Ingedore Villaça Koch, que aborda a produção de texto como uma atividade interacional. Antes, porém, de abordarmos teorias de textos, é necessário salientarmos que tais teorias estão entrelaçadas às concepções de linguagem, e que por isso serão confrontadas ao longo desta dissertação.

O que percebemos nas aulas de Leitura e Redação, é que algumas propostas são feitas com atividades de metalinguagem e até mesmo com temas requeridos nos anos anteriores, temas estes que acabam por delimitar as experiências do indivíduo.

(...) a produção de texto é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais, portanto inserida em contextos mais complexos de atividade. É ainda, uma atividade intencional, da qual se leva em consideração o momento e o espaço em que o falante se situa. Sobretudo, é uma atividade interacionista, visto que os interactantes, de maneiras diversas, se acham envolvidos na atividade de produção textual. Pode-se dizer que a presença do outro é condição necessária para a existência do texto.( KOCH, 1998)

Tomando essa citação como fonte inspiradora deste tema, convém lembrar algumas concepções de linguagem que também são válidas para reflexão em torno desse assunto. Para Travaglia (2005), a linguagem é a comunicação verbal através de códigos, e o falante deve dominá-la para efetivação da comunicação, e esta deverá ocorrer de maneira semelhante e convencionada. Não queremos aqui afirmar que a língua não seja instrumento de comunicação, mas sim lembrar que ela não se resume a tal. O que ocorre, é que muitos professores acabam por reduzir a atividade escrita como parâmetro foral e não também como veiculadora de idéias.

Se considerarmos que toda expressão verbal comunicativa é uma expressão de cultura, experiência e ideologia, veremos que o sujeito pode e deve deixar suas marcas no texto, sobretudo sua contribuição à linguagem. O sujeito pode expressar no texto sua ideologia, mesmo que esteja implícita nas citações de outros autores.

Neste ponto, é importante que se tenha em mente que todo texto tem interlocutor pré-determinado, e que as idéias expressas nesta produção não estão acabadas ou vinculadas a verdades irrefutáveis. Uma vez que se produz um texto, coloca-se em evidência idéias que giram em torno a um tema que provavelmente estarão coerentes com a realidade social, ou seja, que o leitor conheça e tenha competência para discuti-las. Atentamos aqui para a concepção estruturalista, que tem por intenção elaborar uma teoria de texto considerando-o acabado e utilizá-lo para uma análise formal. Acrescentamos que nessa concepção não interação entre o produtor e o interlocutor, uma vez que não são consideradas a intenção e o meio social em que o produtor se manifesta.

Embasar-se na concepção interacionista para prática docente é possibilitar ao aluno a liberdade de expressão, desenvolver o espírito crítico, dar a ele a oportunidade de se descobrir no meio. Ninguém comunica aquilo que não entende, logo ninguém escreve sobre um tema que desconhece, tampouco o direciona a alguém que também ignora tal tema. É esta a consciência que o professor deve ter ao ministrar suas aulas de Redação. Antes de estruturar uma dissertação ou uma narração, é preciso esclarecer os objetivos; antes de qualquer coisa, é facilitar o desenvolvimento dos textos para cada um. Por exemplo, ao narrar o produtor necessita de personagens, de tempo, de ambiente, de enredo. Mas para que estes elementos estejam harmônicos no texto é imprescindível que se tenha o público alvo para a adequação de cada elemento, e acima de tudo para a escolha da linguagem adequada.

Geralmente, na sala de aula, o leitor mais focado pelo produtor é o próprio professor; o que acaba inibindo o aluno, que por sua vez procura sempre atender às expectativas do seu mestre. Isto nos faz retornar à concepção de Travaglia, porque na maioria dos casos, o professor se preocupa com “erros” gramaticais e desconsidera a intenção do aluno/produtor no discurso.

Qualquer produção escrita será inferida pelo leitor. Daí haverá o processo interacional, no qual será estabelecido um vínculo de idéias favoráveis ou contraditórias, mas que indubitavelmente serão coerentes com o tema abordado.

(...) há uma preocupação básica em levar o aluno não apenas ao conhecimento da gramática de sua língua, mas, sobretudo ao desenvolvimento da capacidade de refletir; de maneira crítica sobre o mundo que o cerca, sobre a utilização da língua como instrumento de interação social: e que o indivíduo se torne apto a compreender, analisar, interpretar e produzir textos verbais.( KOCH, 2000)

Inferimos aqui, por conseguinte, que a produção de texto não deve ser um esquema normativo sem objetivo e intenção; ela deve ser analisada e considerada através de uma visão macro, na qual evidencia-se a capacidade crítica do ser (produtor), destaca-se a participação do interlocutor(leitor) e assegura-se a interação entre ambos. Não desconsideramos, no entanto, as concepções da linguagem que a definem como expressão de pensamento ou como instrumento de comunicação; mas no trabalho quotidiano de sala de aula, implementar uma interseção destas com a concepção interacionista.

Sílvia Helena da Silva Marrafon é graduada em Letras e pós-graduada em Língua Portuguesa e professora de Língua Portuguesa no colégio e Faculdade UNIRG.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KOCH, I.V. A inter-Ação pela linguagem. 5.ed. São Paulo: Contexto, 2000.

KOCH, I.V. O Texto e a construção dos sentidos. 2.ed. São Paulo:Contexto,1998.

TRAVAGLIA, L.C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 10. ed.São Paulo: Cortez,2005.