O pregador mal informado
Século XIX, em uma pequena cidade no interior da França um pregador resolve abrir fogo de palavras contra uma doutrina que surgia, e que ele, do alto de seu conhecimento denominava de culto a Satã. A população da pequena cidade quis saber mais sobre a doutrina que segundo o pregador reverenciava o “Coisa Ruim”. Então livros foram encomendados, e não tardou para que naquela pequena cidade do interior francês um grupo de pessoas se encantasse com as lições da Doutrina Espírita, organizando um Centro Espírita, tudo graças aos ataques do mal informado pregador.
É o próprio codificador do Espiritismo que informa: “Os Espíritos tinham razão quando nos diziam, há alguns anos, que nossos próprios adversários, sem o quererem, serviriam à nossa causa”.
Essa pequena passagem que consta em o livro “Viagem Espírita em 1862”, publicado pela Casa Editora o Clarim, traz em suas entrelinhas uma mensagem de suma importância.
Em todos os tempos da história humana, dentro ou fora do seio cristão, grandes idéias encontraram obstáculos, mas cedo ou tarde triunfaram, apesar de todo o esforço de seus detratores para que se perdessem na poeira das críticas.
José Herculano Pires, afirma: “ O Cristianismo exigia das criaturas o uso desse poder misterioso do raciocínio, que as fazia senhoras de si mesmas, responsáveis pelos seus atos. Contra a autoridade das escrituras e dos rabinos, bem como da própria tradição, Jesus proclamava a sabedoria da consciência.” Pires p.81, 1985.
A realidade é que para o ser que cultiva o raciocínio as críticas funcionam como autêntica propaganda, uma forma de atiçar seu senso crítico, seu olhar pesquisador. Com o avançar intelectual do ser humano os boatos tendem a perder espaço para o que chamamos de: averiguação das situações.
O ser consciente antes de formar sua opinião averigua os acontecimentos e os submete à analise da razão. Já não bastam respostas vazias como: “Porque sim” ou “ É a vontade de Deus”. Ou seja, se uma crítica, um apontamento ou a resposta a uma pergunta não estiverem embasadas pelo bom senso, o ser que utiliza o raciocínio a recusa de imediato.
Com a maturidade intelectual o ser humano começa a se desvencilhar de incoerências e deixa de acreditar nisso ou naquilo porque determinada pessoa falou. É quando ocorre a incessante busca pelos porquês, e isto faz o homem ser melhor, porquanto o faz pensar. Por que sofro? Por que estou infeliz? Por que temos governantes autoritários? Por que estou feliz? Por que estou nesse mundo?
Ao fazer estes questionamentos e respondê-los com sinceridade o homem descobre melhores caminhos, e avança; progride pelo exercício da razão. O prezado leitor poderá contestar, afirmando: “Há pessoas inteligentes, que raciocinam, todavia optam pelo caminho dos equívocos.” Isso é verdade, porém, também é verdade que essas pessoas escolheram esses caminhos por vontade própria, equivocaram-se por si mesmas e não porque foram manipuladas por vontades outras.” São herdeiras de suas criações, inevitavelmente dia chegará em que terão de utilizar seu raciocínio para a reconstrução do próprio caminho.
Sem contar que os questionamentos são importantes porquanto abortam o fanatismo abrindo espaço ao raciocínio. Por isso, imperioso que exercitemos a razão, a análise, o raciocínio em todas as circunstâncias. Aliás, pensar é um direito inalienável de toda criatura. Ninguém pode nos podar no mister de pensar, de raciocinar, quem assim o faz quer nos manipular, controlar, colocar rédea em nosso pensamento, o que é inadmissível, se constituindo um crime à liberdade.
Se almejamos progresso ao nosso país, se queremos de fato uma pátria mais eqüitativa, solidária e fraterna, fundamental que pensemos e também que ajudemos a construir pensadores, porque será assim que transformaremos a sociedade. Um mundo melhor se faz com pessoas que pensam, porquanto estas não são manipuláveis por vontades escusas e ideais sombrios, próprios de pregadores que não sabem o que falam.
Pensemos nisso.