A Lógica dos Burros
No processo de reforma escolar em curso - a escola está em reforma desde que comecei a trabalhar!! - apraz-me indicar a leitura de um livro de alguém que sabe do que fala quando fala de Escola, porque é professor, livro esse que se intitula: A LÓGICA DOS BURROS - O LADO NEGRO DAS POLÍTICAS EDUCATIVAS e o seu autor é GABRIEL MITHÁ RIBEIRO. A obra, editada pelas Publicações Europa-América, tem prefácio do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
Convém dizer que este livro é impróprio para os que rezam pela cartilha do eduquês! Ele é totalmente anti-eduquês e denuncia os dogmas e as falácias impostas pelas Ciências da Educação, que vivem na crença de que se se tornar o ensino num sistema que se desenvolve em torno de reuniões, e de planos, e de grelhas, e de actividades culturais, e numa lógica de integração no meio, e da participação dos pais e etc., se contribui para o sucesso dos alunos. Reparem: no SUCESSO, essa coisa abstracta que não quer dizer nem aprendizagem, nem conhecimento, nem formação, nem nada. É o sucesso, ponto final. Num congresso a que assisti no Porto, ouvi o Prof. Nuno Crato dizer que não pode valer tudo em nome do sucesso e do combate ao abandono escolar. Eu não poderia concordar mais e, a julgar pelos aplausos da maioria dos professores presentes, não sou só eu a pensar assim.
Mithá Ribeiro acerta, a meu ver a cem por cento, quando identifica os dois verdadeiros males do ensino: a INDISCIPLINA e o FACILITISMO. Mais, diz porque é que sabendo TODOS - especialistas do eduquês incluídos - que são estes os verdadeiros problemas do ensino, não há medidas para os combater. Haveria um preço social alto a pagar. Logo, há que ir experimentando e convivendo com o monstro sem o afrontar. Tal como uma pessoa a quem é diagnosticada uma doença crónica, passado o choque inicial, se habitua a conviver com ela, assim nós, professores, vamos convivendo com o monstro e alguns até acabam por gostar dele e de lhe fazer festinhas. Certeira é também a forma como é descrita a função do professor:
«Mata-se a função intelectual do professor em prol de uma espécie de animador cultural pop acrescido, na nova versão, de burocrata-titular-animador-cultural, com a dramática consequência de se persistir na desvalorização do saber.»
No meu último relatório de avaliação crítica (que saudade!) abordei a questão do excesso de actividades extra-curriculares. Para meu agrado, Mithá Ribeiro também o faz e diz, a esse propósito, o seguinte:
«O resultado é ter-se produzido uma ESCOLA HISTÉRICA que toma como secundários o conhecimento, a tranquilidade, o silêncio, a leitura, a escrita, o cálculo ou o estudo(...)»
Não vou continuar, acho que já me fiz entender. Quero apenas, a terminar este artigo, indicar a leitura de um outro livro, para além do de Nuno Crato, já bem conhecido:
CRATO, Nuno, "O 'Eduquês' em Discurso Directo - Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista", Lisboa, Gradiva, 2006
BALIAN, Roger, et.al. "Eduquês: um flagelo sem fronteiras", Lisboa, Gradiva, 2007