O papel do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anicuns no espaço agrario regional - Avanços e retrocessos.

O PAPEL DO SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE ANICUNS NO ESPAÇO AGRÁRIO REGIONAL: avanços e retrocessos

JOSÉ CARLOS RIBEIRO

RESUMO

O sindicalismo em Anicuns, passou por diversas fases, inicialmente, era voltado para atendimento aos trabalhadores rurais que necessitavam de auxilio para montagem de processos de aposentadoria, depois o atendimento aos trabalhadores assalariados de grandes propriedades rurais, já nos anos 90 e seguintes a atenção das lideranças voltaram para atendimento de assalariados da área canavieira. Quanto as lideranças, muitas diversidades de pensamento fizeram que o Sindicato não conseguisse um avanço continuo, a dificuldade da maioria das lideranças da assimilar o avanço do capitalismo, e também os avanços e retrocessos no espaço agrário regional fizeram a entidade enfrentar idas e vindas convivendo com momentos de conquyistas e também de derrotas, o nosso alerta é para que essa entidade continue representando os trabalhadores, mesmo sabendo que nem sempre se consegue ser vencedores.

1 - a relação entre a modernização da agricultura e o MSTR

O município de Anicuns está localizado a 75 km de Goiânia e tem uma ocupação fundiária diversificada e distribuída de maneira desigual. Dados do IBGE (2003) mostram que do total de 93.782,90 ha de terras referente às propriedades rurais de Anicuns, mais um terço delas estão nas mãos de apenas 50 grandes proprietários, ou seja, de 3,79 % do total de propriedades. Dos 195 donos de médias propriedades, que correspondem a 14,78 % do total de proprietários do município, dominam também um pouco mais de um terço das terras do município. O restante das terras, pouco menos de um terço do total de hectares, está nas mãos de 1074 proprietários, ou seja, de 81,42 % das propriedades oficiais do município. (tabela 1).

Tabela 1: Distribuição das Propriedades em Anicuns - 2003

Quantidade Classificação Total em Hectares

Pequenas propriedades 1074 0 - 88 29.007.30

Medias Propriedades 195 88 - 230 32.410.00

Grandes Propriedades 50 acima de 230 32.974.60

Total da área do Município 1319 93.782.90

FONTE: IBGE - 2003

A partir da análise dos dados, percebe-se uma desigualdade muito grande em relação à questão fundiária no município e uma acentuação dos problemas agrários na região. Percebe-se o que significa muita terra nas mãos de poucas famílias, seguindo, portanto uma tendência nacional.

Com o inicio da modernização do campo,e as novas tecnologias de desenvolvimento para o meio rual, o cerrado passa a ser objeto de interesse de grandes investidores e os governantes iniciam uma série de investimento de infra-estrutura na região, para facilitar o transporte de grãos.

Com os investimentos feitos na região e as novas tecnologias, o cerrado passa a ser produtivo e o município recebe muitos equipamentos agrícolas, principalmente tratores, que era utilizado para desbravar a região rural de Anicuns. (Anuário Estatístico, 2003).

A chegada da monocultura da cana de açúcar, acelerou o processo de modernização do espaço agrário no município, sobretudo após a década de 1980. Como resultado, além de modificar o uso da terra, também alterou as relações de trabalho no campo: ficam os agricultores familiares que sem terem recursos para modernizar suas pequenas propriedades, resolvem alugar suas terras ou vende-las para outros que têm condições de implantar a tecnologia; aumentam drasticamente o fluxo de trabalhadores temporários na cidade para trabalharem nas lavouras.

Aliadas às transformações da modernização destacam as mudanças no quadro populacional de Anicuns. Os dados do IBGE, nos anos de 1970, 1999 e 2005 do IBGE, retratam a mudança que a inserção do capitalismo impôs para o desenvolvimento da agricultura, do comércio e da industria no município. Na tabela 2, pode ser observado a decréscimo da população no município de Anicuns aconteceu com a queda da população rural. A população rural do município no ano em 1970 era predominante. Em 1999 e 2005 a situação se inverte e a população urbana torna-se predominante no município.

Tabela 2: A população de Anicuns: 1970 e 2005

POPULAÇÃO - 1970 POPULAÇÃO - 1999 POPULAÇÃO - 2005

urbana rural total urbana rural total Urbana rural Total

7.495 15.099 22.819 14.729 4.025 18.754 14.729 4.025 19.035

FONTE: IBGE 1970/1999/ 2005.

O crescimento da população urbana no município aumentou a reserva de mão de obra nas regiões pobres das cidades formados por antigos pequenos proprietários e por trabalhadores temporários, oriundos de várias partes do estado de Goiás e do Nordeste brasileiro. Diante dessa situação os trabalhadores rurais que foram para a cidade, por se sentirem prejudicados com a modernização da agricultura, articularam-se e criou, em 1976, o sindicato dos trabalhadores rurais de Anicuns.

2 - A origem e ações do STR de Anicuns

De acordo com as informações de "Bento" (2006), os trabalhadores rurais de Anicuns, na década de 1970, ao perceberem que no Brasil passava por um movimento em torno da organização dos trabalhadores por categoria, assumem que a organização faz necessária também no município.

Inicialmente as ações sindicais eram voltadas para o assistencialismo, devido à política brasileira de repressão, as primeiras lideranças de trabalhadores em Anicuns, segundo Argemiro, filho de um dos fundadores do Sindicato, o trabalho social do Sindicato era muito importante para os trabalhadores.

Socialmente o STR de Anicuns, desde a sua fundação exerceu um papel de grande relevância para os trabalhadores rurais de Anicuns e região. Desde 1976, muitos trabalhadores foram beneficiados, com as atividades desenvolvidas pela entidade.

Nesse período de 1976 o governo federal criou, para funcionar sob responsabilidade do sindicato, o Fundo Rural (FUNRURAL). Este objetiva fazer uma triagem nos trabalhadores rurais que requeriam o beneficio previdenciário (INSS).

O STR de Anicuns, mesmo sem uma estrutura que correspondesse às expectativas dos trabalhadores e lideranças, conseguiu avançar em questões importantes para a categoria. Foram desenvolvidas ações relacionadas à previdência social, onde o Sindicato conquistou inúmeras vitórias para os trabalhadores rurais que tiveram problemas para se aposentarem e a interferência do sindicato conseguiu provar que muitos trabalhadores que estavam sendo vitimas de injustiça, fossem aposentados.

Politicamente, desde a fundação do STR em Anicuns, muitas lideranças contribuíram para o fortalecimento da categoria. O sindicato, no decorrer de sua existência, em vários momentos participou ativamente das atividades políticas do município, dando sua contribuição na formação política dos trabalhadores rurais.

Por muito tempo de sua história, a sede do STR de Anicuns localizou-se em muitos endereços. Este fato era uma agravante para a participação dos trabalhadores, pois muitas das vezes estes vinham na cidade e não encontravam a sede. Diante dessa problemática o sindicato, na administração de 2000 a 2003, em dezembro comprou a sede onde está localizada a sede da entidade.

O STR de Anicuns atendeu muitos trabalhadores rurais durante a administração 2000- 2003, em conseqüência manteve um número de associados razoável, aproximadamente 535 associados aposentados com desconto em folha , 200 trabalhadores da área canavieira e aproximadamente 200 trabalhadores na agricultura familiar. Além destes associados em dias cerca de 500 trabalhadores rurais estavam com suas mensalidades atrasadas .

Muitos trabalhadores rurais comparecem no sindicato faz sua sindicalização paga a primeira mensalidade e não voltam mais para continuar pagando as mensalidades.

Às vezes estes trabalhadores só queriam algum tipo de beneficio oferecido pelo sindicato, após conseguir seu intento não comparecem mais para continuar pagando as contribuições.Outros mudam de categoria, deixam de ser trabalhadores rurais e vão exercer outras funções.

Essas variações no numero de associados acabam prejudicando nas ações direcionadas a categoria uma vista que nem sempre pode contar com o que é previsto na previsão orçamentária

A seguir será descrito um pouco do que representa a instituição dos trabalhadores rurais para o município de Anicuns.

3. Os avanços e retrocessos nas/das ações políticas do STR de Anicuns

As lideranças sindicais que estiveram na direção do STR de Anicuns contribuíram para o crescimento político ideológico da categoria, mas enfrentou durante muito tempo um embate com a elite local, em especial no período da ditadura militar.

Durante a ditadura várias ações trabalhistas foram encaminhadas para a FETAEG e de lá seguia, quando não era possível um acordo com o empregador, a ação ao Ministério do Trabalho. Mas o problema que as lideranças mais enfrentavam eram as perseguições dos governos militares. Muitas delas foram intimadas a comparecer nas delegacias de polícia para esclarecer os motivos das reuniões com trabalhadores.

Após 1980, o sindicalismo em Anicuns vivia uma crise financeira, pois se por um lado renascia um sindicalismo livre por outro as lideranças não sabiam trabalhar sem o poder (Peleguismo). As lideranças que eram acostumadas a receber do governo a deliberação das ações, começam a traçar seu próprio caminho em busca de ações mais consistentes, pela democracia no país.

Um dos exemplos que retratam o fortalecimento da discussão política do sindicato e sua busca pela democratização do espaço agrário do município foi a implantação do Assentamento Ribeirão do Meio em 1985. Duas alternativas distintas permeavam o uso da fazenda devoluta. O governo tinha a intenção de implantar uma escola agrícola para formação de profissionais tratoristas e gerentes para as fazendas da região. Contudo, os líderes dos trabalhadores cobravam a implantação de um assentamento para fins de reforma agrária naquela mesma área. Com a intenção de agradar os trabalhadores o prefeito da cidade Sr. Getúlio Natividade dos Santos, resolveu atender o pedido dos trabalhadores e intercedeu junto ao governo do estado de Goiás, na época o Sr. de Íris Rezende Machado, para que fosse implantado o assentamento rural, atendendo os anseios da categoria.

Entretanto, segundo relatos dos trabalhadores rurais que participaram do processo de criação do Assentamento Ribeirão do Meio, a conquista do MSTR de Anicuns não atendeu apenas a categoria. A estratégia adotada pelo governo foi não somente satisfazer os trabalhadores, mas aumentar sua popularidade na região. Como a fazenda pertencia ao Estado, o governo concordou e o prefeito ficou responsável pelas inscrições. (FETAEG, 2005).

De acordo com Sr. Olavo, também líder do assentamento, a partir da aprovação do governo as lideranças trabalhistas foram avisadas da decisão das parcelas de terra e o prefeito mesmo fez as inscrições para os interessados em receber uma parcela de terra na fazenda Ribeirão do Meio.

• A década da crise política do sindicato - 1986/1996

Desde a fundação do Sindicato dos trabalhadores rurais de Anicuns, a entidade dividiu entre momentos de vitória para os trabalhadores e decepção, por duas vezes o STRA, fechou suas portas, a primeira vez em 1986, segundo informações de Bento, por falta de filiados, mas logo após reabriu. A partir daí, o sindicato conseguiu ficar por 10 anos aberto. Porém, as políticas locais para envolvimento da categoria fizeram com que em 1996, o STR de Anicuns fechasse novamente suas portas. Desta última vez o motivo foi falta de lideranças dispostas a assumir a entidade.

A partir de 1980 os sindicatos começaram a enfrentar muitos problemas, pois muitos benefícios fornecidos para estas instituições (médicos e os benefícios previdenciários do FUNRURAL), foram retirados como forma de frear as ações concretas que as novas lideranças implantavam no MSTR. Segundo Oliveira (1996) mesmo passando por represálias o MSTR conseguiu avançar em várias partes no Brasil.

Em Anicuns, entretanto, as questões sociais ficaram a quem da demanda exigida pelos trabalhadores, que por sua vez, não reconhecendo o papel político do STRA, afastou-se do movimento dos trabalhadores deixando que o Sindicato fechasse suas portas, no ano de 1996 .

O STRA, no ano de 1995, estava com muitos problemas, dentre estes podemos destacar a falta de representatividade junto aos trabalhadores rurais, os trabalhadores filiados deixaram de contribuir com o sindicato e com o fim da contribuição compulsória o sindicato passa a ter muitas dificuldades financeiras. A partir de junho realizou várias assembléias para a formação de uma equipe para formar uma direção para o STR de Anicuns, mas todas foram em vão e a direção que estava a frente do STR de Anicuns, teve que ficar mais um período na tentativa de organização do Sindicato.

Segundo os documentos de registro do STR de Anicuns, em 1996 foi devolvida a FETAEG, R$ 9.500,00 mais uma maquina de escrever que no período era único patrimônio que o Sindicato possuía.

No ano de 1996, no mês de abril, foi realizada uma assembléia onde a direção do Sindicato juntamente com os representantes da FETAEG, Srs. Antonio Pereira chagas e Divino Goulart, discutiram os problemas enfrentados pela direção e não tendo outra alternativa decidiram fechar o STRA, por tempo indeterminado .

O motivo alegado pela direção do STR de Anicuns e FETAEG foi a falta de trabalhadores rurais dispostos a assumirem a direção do sindicato. Nesse ano, o sindicato tinha apenas 7 associados em dia, o que significa que nem a própria direção estava em dia com a entidade dos trabalhadores.

Nesta observação entre as duas vezes que o STR de Anicuns fechou podemos concluir que, fechou por falta de uma política de formação de lideranças, pois nos dois momentos o sindicato ficou sem lideres para uma articulação entre os trabalhadores.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e as lideranças do Assentamento Ribeirão do Meio tentaram ajudar a direção do STR de Anicuns, mostrando o verdadeiro papel do movimento sindical. Segundo Santana , ex-presidente do Sindicato em 1996, a ação do sindicato deve desenvolver políticas de proteção para a classe trabalhadora e também desenvolver uma consciência critica entre os trabalhadores do campo.

• A ascensão política do STR de Anicuns - 1997 a 2003

Em agosto de 1997, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Americano do Brasil, liderados pelo então presidente José Carlos Ribeiro e seu Vice-presidente Dílson Pereira, ambos cortadores de cana, apoiado pela FETAEG, e pelos trabalhadores rurais do Projeto Ribeirão do Meio, criou-se uma extensão de base do Sindicato dos trabalhadores rurais de Americano do Brasil no município de Anicuns.

A intenção da FETAEG, era a organização dos trabalhadores de Anicuns, pois no período existia uma grande demanda que acreditava nas lideranças do Sindicato dos trabalhadores rurais de Americano do Brasil, pois essas lideranças no período iniciaram um trabalho junto aos cortadores de cana que chamou a atenção dos outros trabalhadores rurais do município de Americano do Brasil e Também de Anicuns, a direção da FETAEG, também acreditou muito nas lideranças dos cortadores de cana que assumiu a direção do Sindicato.

Com o tempo, muitos trabalhadores rurais, começaram a identificar um trabalho diferenciado na direção do sindicato após o ano de 1996. Um grupo de trabalhadores rurais da área da cana, juntamente com trabalhadores familiares, desenvolveu um novo papel social e político as categorias: a necessidade de reivindicar os seus direitos como ter moradia, ter uma parcela de terra, receber seus salários em dia, receber benefícios previdenciários.

O movimento de associados foi tão grande que trabalhadores assalariados da área da cana, insatisfeitos com medidas patronais de pagamento de salário incompleto, medidas consideradas pelos trabalhadores injustas, se associaram. A extensão de base em Anicuns, já estava com um número de associados quase o dobro dos associados do município de Americano do Brasil, sede do Sindicato.

Diante disso os trabalhadores autorizam o presidente do Sindicato através de procuração, a mover uma ação trabalhista em nome de todos os trabalhadores da usina Vale Verde, localizada na GO – 156 km 05 saída para Americano do Brasil, que a partir de 2003 passou a chamar Grupo Farias.

Em janeiro do ano de 2000 um grupo de lideranças entre os quais podemos citar Divino Quintino e José Carlos Ribeiro, juntamente com o presidente do STR de Anicuns, vendo que era necessária a reabertura do Sindicato dos trabalhadores rurais pela importância política do município para os trabalhadores reabriu no dia 14 de fevereiro de 2000 o STRA. A direção começou muita acesa na primeira negociação da área da cana, fizeram uma greve que teve duração de sete dias.

Depois de ter se esgotado os argumentos dos usineiros do estado, Anicuns, Goianésia e Indiara municípios de usinas onde as lideranças contavam com respaldo dos trabalhadores resolveu em Assembléia fazer a greve para forçar o aumento. No sexto dia de greve a classe patronal resolveu negociar e o aumento foi concedido de acordo com as reivindicações laborais.

Com essa ação sindical realizada em 2000, o sindicato se firma com de grande relevância para os trabalhadores rurais e inicia uma fase de ocupação do espaço entre os trabalhadores do município de Anicuns e também de outros municípios que acompanharam as ações do STRA.

A ação pode não ter surtido grande efeito trabalhista, mas efeito político foi muito importante visto que as lideranças sindicais dos trabalhadores voltam a ser respeitadas pela comunidade local.

As lideranças sindicais de trabalhadores rurais de Americano do Brasil resolveram em comum acordo que um dos diretores, mudaria para Anicuns, o diretor escolhido para mudar para Anicuns Foi o Presidente José Carlos Ribeiro, Pois o mesmo estava disposto a fazer um trabalho em Anicuns e já mantinha um bom relacionamento com os trabalhadores rurais do município.

A intenção era fazer ações cada vez mais fortes, inclusive movimentos a favor da reforma agrária. Em pouco tempo a extensão de base de Anicuns tinha 480 trabalhadores rurais sem terra filiados no Sindicato. As lideranças dos trabalhadores adeptos do Diretor que atendia a extensão de base estavam preparadas para assumir um trabalho na questão agrária.

• O retorno ao movimento de luta pela da terra

Na década de 1990 a 2000, as entidades sindicais perdem parte da renda do imposto compulsório (Imposto Sindical) após as deliberações do 7º congresso Nacional de trabalhadores rurais. Tal fato reforçou o tema reforma agrária como prioridade do MSTR, sobretudo após as últimas ações realizadas pelos movimentos de trabalhadores por todo Brasil, (Chagas, 2006).

Em Anicuns durante os anos de 1997 a 2003, existiam movimentos pela reforma agrária que eram coordenados pelo secretario geral do STRA e também pelo Sr. Divino Quintino, além de outras lideranças que colaboravam com o movimento de luta pela terra no município. O resultado da luta foi a territorialização dos trabalhadores sem terra em projetos de assentamento em outros municípios de Goiás.

Em dezembro do ano 1999, os trabalhadores rurais sem terra filiados a extensão de base do STR em Americano do Brasil conquistam o direito de ter uma parcela de terras no município de Rialma: 74 famílias passaram a ser proprietários do seu local de trabalho; e também saiu um grupo de Anicuns com 40 famílias aproximadamente para o município de Porangatu, onde estão assentados .

• O cooperativismo e o fortalecimento da agricultura familiar via Reforma Agrária

Em 1997 em uma reunião de jovens no assentamento Ribeirão do Meio a FETAEG, trouxe um palestrante para falar a respeito do cooperativismo em assentamentos rurais e durante à tarde lideranças da extensão de base Sindicato de Americano do Brasil e as lideranças do Assentamento discutiram juntamente com a FETAEG, possibilidades da implantação de uma Cooperativa no Assentamento Ribeirão do Meio.

Houve uma grande manifestação em defesa da implantação da cooperativa no assentamento por parte dos moradores locais, mas depois, houve um certo desânimo, outras pessoas começaram afirmar para os trabalhadores que o cooperativismo não daria certo porque as lideranças que assumem a direção ficam com o dinheiro do lucro e só passam para os trabalhadores os prejuízos, durante os cursos que foram feitos para as lideranças do assentamento Ribeirão do Meio tentaram barrar a fundação da cooperativa.

No ano de 2000, finalmente foi inaugurado a COOPERVARB - Cooperativa Mista Agropecuária do Vale Rio dos Bois - Projeto de Assentamento Ribeirão do meio. (COOPERVARB-2006).

De acordo com Silva (2006) . Além das atividades tipicamente de subsistência dos assentados, existe na cooperativa:

"Um tanque de resfriamento de leite com capacidade para armazenar 4 mil litros de leite [...]. A cooperativa recolhe não apenas a produção leiteira dos cooperados. Ela também negocia com demais produtores do assentamento e da região. Além da atividade leiteira a COOPERVAB mantém ainda uma granja de suínos (113 matrizes e 05 reprodutores)"

Durante o exercício anterior a direção do sindicato tinha uma maior proximidade com o assentamento e pelo visto, nesta administração 2003 – 2006, existem problemas de relacionamento entre as lideranças da cooperativa e do Sindicato.

Durante trabalho de Campo para realização desta pesquisa, Silva (membro do Conselho fiscal do STR de Anicuns) e demais lideranças afirma que os problemas de relacionamento existentes entre o presidente do STR de Anicuns, Manoel Vicente da Silva (Mané Peteco) e a cooperativa, deve-se ao fato do inespressível posicionamento classista deste. Ele completa sua opinião dizendo que a atuação do referido presidente é para ascensão política local.

Dessa foram, estes problemas só vêm a prejudicar o STR e também a Cooperativa, principalmente para quem acredita que o movimento Sindical é uma alternativa viável para o combate as injustiças que são cometidas contra os agricultores familiares, temos por exemplo, a dificuldade aos créditos oficiais e de adquirir insumos em razão do auto custo.

Assim sendo, o cooperativismo pode ser muito importante, pois facilita a compra em quantidades maiores fazendo com que os preços baixem. O MSTR no município de Anicuns, pode estar contribuindo para a expansão da agricultura familiar incentivando a criação de cooperativas no município, indiretamente estará fortalecendo os movimentos sociais, mas para isso é preciso que os trabalhadores também participem das ações desenvolvidas pelas lideranças do STR de Anicuns.

• Tendências e Perspectivas da ação do STR de Anicuns em 2006

Apesar dos avanços a partir da segunda metade da década de 1990 até 2003, aproximadamente, o movimento sindical dos trabalhadores parece retomar o ciclo da crise.

O Sr. Francisco José da Silva é Diretor do STRA, membro do conselho fiscal do sindicato nas duas últimas administrações, tem essa preocupação. Segundo ele, os trabalhos do sindicato nos últimos anos, tem encontrado dificuldades por falta de companheirismo. No seu depoimento ele nos leva a entender que existem problemas que necessitam ser resolvidos no STR com o máximo de urgência, pois a entidade está próxima a uma eleição e muitos trabalhadores não estão satisfeitos com as ações desenvolvidas pela entidade vejamos o que ele afirma:

Filiei no Sindicato por ser uma entidade que ajudava o trabalhador e sempre tive vontade de ajudar o trabalhador, a gente trabalhava um período que eu me dispus, o trabalhador e acho que ajudei bastante os trabalhadores, mais por questão de oportunidade afastei um pouco, hoje vejo que o Sindicato cresceu financeiramente mais no social, no meu ponto de vista ainda deixa a desejar. A assistência para o trabalhador hoje não é igual, na época que a gente iniciou os trabalhos no Sindicato em 2000, hoje muitos trabalhadores estão reclamando da ação do Sindicato.

Para ele, o sindicato está deixando a desejar, principalmente com os trabalhadores do setor sucroalcooleiro. Segundo sua opinião, os trabalhadores não estão mais procurando o sindicato, estão buscando soluções alternativas, como advogados e outros dirigentes sindicais que não estão a frente na direção do sindicato.

O que se vê é que os problemas enfrentados pela direção do STR são de ordem interna, pois as lideranças pensam em política partidária e esquecem da política sindical, dessa forma a preocupação das lideranças é de não deixarem outras lideranças aparecerem.

A direção não tem um planejamento para políticas sindicais trabalhando sempre para resolver problemas imediatos que surgem sem levar em conta a necessidade de programar uma política para melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores rurais.

Outro ponto que deve ser respeitado e levado em conta, é o descumprimento do Código de ética do MSTR, principalmente o artigo a segundo inciso V, que fala sobre a formação de novas lideranças, o artigo 2 inciso VI, que cita a elaboração e construção do desenvolvimento rural sustentável, o inciso VIII do artigo segundo, que fala da reforma agrária , também deixa a desejar o inciso XIII, que fala da questão da mulher no MSTR.

Esses pontos que precisam ser aprimorados pelo STR de Anicuns. É preciso que a direção seja mais flexível para que os trabalhadores possam participar das atividades sindicais.

Diante do número de trabalhadores rurais que possui o município o que se percebe é a necessidade de repensar a forma que as lideranças trabalham, nos últimos anos o STR, teve um grande esforço e segundo as informações do IBGE - 2005, ainda existem mais de 4.000 trabalhadores rurais em Anicuns, no entanto o número de filiados não chega a 20% deste numero e isto é preocupante, pois não se representa uma categoria com uma menoria.

As lideranças sindicais ao serem entrevistadas, nos afirmaram que o STR perdeu um pouco sua função social que é a de representar o trabalhador, diante dessa declaração se observa que na direção não existe um planejamento conjunto, o que faz surgir problemas de comunicação entre as lideranças.

REFERENCIAS

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RIBEIRO, Ana Maria. O Terror e o Tigre Peru, Chile e Reforma Agrária na América Latina. Rio de Janeiro, FASE, 1994.

SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 5 ed. São Paulo, EDUSP, 2004.

Secretária do trabalho do Estado de Goiás. A vida da trabalhadora rural e sua organização sindical. Goiânia, Departamento de Assuntos Sindicais, S/D/P.

SILVA, José Gomes. Caindo Por Terra. Crises da Reforma Agrária na Nova República. São Paulo, Busca Vida, 1987.

SILVA, Francisco José. Entrevista sobre o papel do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Anicuns. Outubro, 2006.

DAICENA, Olavo. Palestra Sobre o Cooperativismo no Assentamento Ribeirão Do Meio, Entrevista sobre o papel social do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anicuns. 2006.

BENTO, Eliezer Alves. Entrevista Sobre o histórico do MSTR em Anicuns e o papel do STRA, Frente aos movimentos sociais, Anicuns - 2006

Filho, Argemiro da Silva. Entrevista Sobre o Papel do Sindicato. E os movimentos sociais, Anicuns – 2006