MANIFESTO AGRUPAMENTO

Para pessoas de livre pensamento que desejam mudar algo.

Todos os domingos é assim: igrejas e bares lotados. Nas igrejas as pessoas procuram algo mais que Deus. Procuram a si mesmas e, talvez principalmente, outras pessoas. E lá conseguem isso. As igrejas, na maioria das vezes, cumprem boa parte dos objetivos a que se propõem, e fazem até mais que isso, pois além de oferecer esperança para a cura de todos os males da humanidade, elas oferecem um local onde pessoas se agrupam com propósitos mais ou menos semelhantes. Cumprem bem o seu papel social. O que se ensina nelas e os meios e métodos usados em suas estruturas, não nos cabe discutir neste momento. E entendamos por igreja, aqui num contexto simplificado, toda reunião de pessoas religiosas ou místicas que seguem um mesmo código doutrinário de conduta e pensamento, sejam quais forem os seus deuses. E trata-se aqui, sobretudo, do “ambiente” igreja.

Enquanto isso, nos bares gasta-se tempo e dinheiro em torno de um “agrupamento” muito mais liberal, não doutrinado. A relação custo-benefício da freqüência de bares e igrejas é sempre subjetiva. Os religiosos diriam que sua contribuição, seu dízimo, é uma cota justa e o que se lucra em forma de dividendos “espirituais” é bem maior. De outro lado, é certo que quase sempre se gasta mais dinheiro em bares. E muitos voltam deles não muito felizes e satisfeitos pras suas casas. Mas há também os que usufruem de alguns benefícios do álcool, com toda a sua ritualística e gestuais envolvidos no ato de beber com os amigos, sem sofrer grandes transtornos colaterais. Um bar pode ser também um ambiente social de alegria e até contentamento. Se estamos falando meramente de contentamento momentâneo, não importa. Na verdade, nenhum ser humano pode mesmo ser contente por tempo integral em sua vida. Falar dos males do álcool é redundante. O fato é que bares e igrejas cumprem seus papéis sociais oferecendo, em muitos casos, o que seus freqüentadores procuram. E dentre os objetos dessa procura, destacamos a associação por si só. O agrupamento de “iguais”. Embora Jesus tenha pregado a oração solitária, em seu sermão da montanha, as pessoas religiosas parecem mesmo preferir orar em grupo. Tão ou mais importante que a oração para estas pessoas é a comunhão. Mas não apenas a insólita comunhão com o divino, e sim, sobretudo, a comunhão com o humano, podendo assim se descobrir, vendo-se no outro e compartilhado idéias e sentido a vida como uma coisa praticada em conjunto, e sentindo, enfim, que não se está sozinho.

Há, entretanto, um gigantesco contingente de pessoas no planeta que não conseguem ver atrativos em uma igreja – por não quererem, ou pelo fato de não serem mesmo visíveis tais atrativos, ou mesmo por não existirem de fato coisas que as atraiam nesses locais. E ainda pessoas que não se sentem exatamente felizes no ambiente de um bar. Até mesmo há os que não consomem álcool. Para este tipo de pessoa – que não freqüenta igrejas e bares – não restam na verdade muitas opções de agrupamento social num dia de domingo. É preciso reunir essa gente.

Um outro tipo de “agrupamento” social se faz necessário.

O GRUPO

Poderão participar dO Grupo:

· Pessoas “espiritualizadas”, porém sem religião, ou que tenham religião mas não freqüentem nenhum templo ou local de culto, por não se sentirem bem neste tipo de lugar. Ou ainda, religiosos freqüentadores, que sintam a necessidade de participar de algo diferente do ambiente religioso. Pessoas oriundas de religiões minoritárias, não divulgadas pela mídia e de fundamentos desconhecidos pela maioria da população. Religiosos em geral, que não sejam presos a aspectos doutrinários. Religiosos que admirem o livre pensamento.

· Agnósticos, ateus, céticos, “indecisos” e livres pensadores em geral.

· Pessoas que não crêem em verdades absolutas.

· Pessoas interessadas em ciências humanas.

· Pessoas com grande interesse em música, teatro, cinema, fotografia, ates plásticas, literatura e artes em geral, sejam artistas ou simplesmente admiradores. Pessoas que queiram compartilhar o que produzem ou conhecem sobre esses assuntos envolvendo artes.

· Pessoas interessadas em filantropia.

· Pessoas interessadas em melhorar o mundo.

O local onde se reunirá O Grupo será um local para:

· Discussão de temas ligados à espiritualidade ou “não-espiritualidade”

· Discussão de temas ligados à atualidade, incluindo Política, Economia e Arte.

· Discussão de temas ligados à História, Filosofia, Psicologia e Sociologia.

· Discussão de temas ligados à Ecologia.

· Discussão de temas ligados à Educação.

· Discussão dos seguintes temas: tecnologia, mídia, ética, cidadania, lazer, saúde, bem estar, felicidade.

· Exibição de filmes, incluindo debates conseguintes sobre os mesmos.

· Exposição de produção artística dos participantes. Desenho, pintura, escultura, artesanato em geral, fotografia, música, literatura.

· Realização de produção artística ao vivo – em forma de exibição, apresentação ou workshops.

· Sarau de poesia.

· Esquetes teatrais.

· Apresentações musicais.

· Palestras.

· Intercâmbio de experiências e conhecimento.

Para O Grupo e seus participantes são necessários os seguintes pré-requisitos e normas básicas:

· Já terem completos 18 anos (por possíveis motivos legais).

· Serem adeptos da idéia de resolução pacífica de problemas.

· No local de reunião não deverão ser consumidas bebidas alcoólicas e, por motivos legais, tampouco drogas ilícitas.

· Nenhum tipo de agressão será aceita entre os participantes nos encontros semanais.

· Não deverá haver nenhum tipo de propaganda de partidos políticos dentro do local de reuniões.

São características indispensáveis para os integrantes dO Grupo:

· Receptividade

· Respeito às diferenças

· Compreensão

O Grupo pretende atingir os seguintes objetivos:

· Oferecer aos participantes a possibilidade de um novo ciclo de amizades.

· Oferecer aos participantes um local de divulgação de suas idéias ou produção artística.

· Oferecer aos participantes um local de reunião e aprendizado, livre de dogmas e de preconceitos, onde sua cultura, seu saber próprio, e suas características pessoais sejam respeitadas.

· Oferecer à comunidade um espaço que abranja um novo conceito de reunião social, onde se inclua a valorização do conhecimento e das artes e que englobe as mais variadas vertentes de ambos.

· Fomentar a produção artística por meio da comunicação direta entre os participantes.

· Ser uma entidade não oficial de apóio mútuo entre seus participantes.

· Ser o embrião de um novo paradigma de ambiente social, alternativo ao ambiente religioso.

Estas são as bases para a criação dO Grupo. Os pontos aqui expostos não constituem uma pré-doutrina fechada. São apenas idéias iniciais para a criação desta “sociedade”. Não pretende esta ser uma confraria sectária, mas sim uma sociedade aberta a todas as pessoas não-preconceituosas, de boa-vontade e de livre pensamento. Novas idéias e novos caminhos podem vir a serem apontados pelos seus integrantes, ou potenciais integrantes.

O objetivo desse manifesto não é totalmente claro nem mesmo para seu redator, mas já terá sido algo bastante satisfatório se, após lê-lo, algumas poucas dezenas de pessoas possam responder SIM à seguinte pergunta: você participaria de uma sociedade assim?

(L.F.S.)

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Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 24/01/2008
Código do texto: T830989