O executivo e o prisioneiro

Há quem diga que o trabalho enobrece, enquanto outros afirmam que dignifica o homem, mas rasga a sua roupa. Quando eu trabalhava (hoje estou aposentado) ouvia dizer que quando a gente trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro. De fato, o trabalhador, a não ser que seja safado ou comedor de bola fica restrito ao seu salário, uma vez que não tem tempo livre para exercer outras atividades.

Conheci gente que fazia o mesmo trabalho que eu (ou até menos), no mesmo período de anos, e hoje tem patrimônio três vezes o meu. Será boa administração? Sorte? Herança? Ou o quê?

Uns dizem que o trabalho é uma prisão.

Outros, usando uma verve mais ferina, afirmam ser pior. O texto é piada que adaptei da Internet, mas tem consistência lógica. Vamos ver as comparações?

No presídio, por exemplo, você passa a maior parte do tempo numa cela 5x6m. Já no ambiente de trabalho, você passa a maior parte do tempo numa sala 3x4m. No presídio você recebe três refeições por dia, de graça, enquanto no trabalho só tem uma, no horário de almoço, e você tem que pagar por ela.

No sistema carcerário você é libertado se tiver um bom comportamento; no emprego ocorre o inverso: se tiver bom comportamento, você ganha mais trabalho.

No xadrez há guardas que abrem e fecham as portas. No trabalho essa tarefa cabe a você, a não ser que seja barrado pela “segurança” se esquecer o crachá. Na cadeia você assiste tevê, joga cartas e pratica esportes. Se fizer estas coisas no emprego você é demitido. No presídio você pode receber a visita de amigos e parentes; no trabalho você nem tem tempo de se lembrar deles.

No presídio todas as suas despesas são pagas pelos contribuintes, sem seu esforço. Trabalhando você tem que pagar suas despesas e ainda paga impostos e taxas sobre seu salário que servem para cobrir as despesas dos presos. Na cadeia surge, vez que outra, carcereiros sádicos.

No ambiente de trabalho eles têm nomes específicos: Superintendente, Diretor, Prior, Gerente, Supervisor, Chefe, Madre-superiora, etc. Se você denuncia um carcereiro torturador, ele é excluído. Se, no trabalho, você denuncia um chefe torturador, quem vai embora é você.

Preso, você tem tempo de estudar, ler livros e contar piadinhas. No trabalho, ah, se te pegam! O tempo de pena na cadeia é de 15 anos; no trabalho você precisa ficar 35 anos ou atingir 65 anos de idade. E não adianta ter bom comportamento.

Uma vez – agora é sério – quando trabalhava na “pastoral carcerária” eu ouvi um preso dizer que se sentia mais livre dentro da cadeia que aqui fora. Talvez consciente dessa distorção é que se observa que volta-e-meia tem ex-apenado pedindo para voltar para atrás das grades.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 23/01/2008
Código do texto: T829280