Tirando dúvidas dos leitores
Tirando as dúvidas dos leitores
Por Rodrigo Capella*
No texto de hoje, vou fazer algo diferente. Em vez de discorrer sobre o mundo literário, vou, com muito prazer, responder as perguntas de alguns leitores. Escolhi três delas, que me foram enviadas por e-mail. Então, meu caro leitor, acompanhe a seguir algumas questões, que, com certeza, também vão ajudá-lo a escrever mais e mais.
Robson Serradilha me enviou a seguinte questão: “olá, acredito que devas receber esse tipo de e-mail todos os dias, mas presciso de dois minutos de sua atenção. Há muito tempo, venho construindo uma história em minha cabeça e sonho em escrevê-la, mas ainda me falta técnica. Gostaria de uma ajuda para começar a história. Tenho a dificuldade de escrever o tal do esqueleto do livro, que alias é do gênero romance aventura, com contos do tipo senhor dos anéis. Espero uma resposta positiva e obrigado”.
Caro Robson, vou dar algumas dicas, mas antes proponho um exercício: comece a descrever uma cena qualquer em detalhes, algo de seu cotidiano. Um exemplo: o que a sua casa tem de diferente? O que você gosta de fazer nela? Você tem animais de estimação, costuma brincar com eles em casa? Escreva sobre isso. Depois, repita esse exercício descrevendo uma cena que está ocorrendo na rua. Para isso, converse com as pessoas, faça pequenas entrevistas e vá em frente: coloque tudo no papel. Pronto, agora você já pode começar a escrever o livro.
Mas, antes de pensar na história, reserve uma parte do seu tempo para fazer uma ampla pesquisa, todos os dias, sem pressa. É preciso ter disciplina e dedicação total. Tranque a porta de seu quarto, não atenda o telefone, não brinque no computador. Pense apenas em ler e absorver conteúdo. É preciso ter muito conhecimento, antes de iniciar uma obra.
Depois de concluir essa fase, escreva sem a pretensão de concluir a obra, escreva com motivação e entusiasmo. Esqueça o tal esqueleto e escreva simplesmente por escrever. Comece descrevendo uma cena, tal como você fez nos dois exercícios. Depois, apresente o personagem principal, descreva as características dele. Deixe a coisa fluir, deixe o personagem conduzir a história.Concentre-se, tenha calma e vá em frente! Nunca se desespere.
A segunda dúvida de hoje é de Ernesto Magalhães. Ele me enviou a seguinte pergunta: “Oi Rodrigo, tenho uma dúvida: o que são os originais? Pode parecer uma pergunta boba, mas nunca sei se é o rascunho do livro todo, apenas os primeiros capítulos ou a apresentação junto com o projeto. Pergunto pois estou no início de pesquisa para escrever uma biografia. Já tenho autorização dos biografados, mas estou ainda redigindo o primeiro capítulo. Devo mandar para as editoras o projeto com um capítulo ou esperar até terminar o livro todo?”
Ótimo, Ernesto, vejo que você está conduzindo a sua pesquisa muito bem. Essa é uma fase muito importante e crucial. Se ela for mal executada, o livro não terá uma boa condução e sua obra, provavelmente, não será publicada. Parabéns por esse início de trabalho.
Vamos ás respostas: os originais correspondem ao livro completo, com apresentação, capítulos e prefácio. Algumas editoras solicitam o original completo; outras somente parte dele. Por isso, é preciso estar atento e cumprir as regras. Visite o site das editoras, informe-se e prepare o material de acordo com o que for pedido.
Mas, antes é preciso terminar o livro. Uma editora que solicitou, inicialmente, o primeiro capítulo pode – e isso é muito comum – requisitar o livro todo para avaliar melhor a obra e dar um parecer. Por isso, verifique se a ortografia está correta, leia todos os capitulos, tenha a certeza de que os leitores vão gostar da história e, principalmente, escreva uma história confortável, que você se sinta bem.
A terceira e última dúvida é de Letícia Torres. Ela perguntou: “oi Rodrigo, eu sempre tive muita vontade de publicar um livro. Escrevo há algum tempo, tenho textos o suficiente pra formar um. Muitas pessoas dão sorrisos quando os lêem e me dizem que eu deveria publicá-los. Mas o fato é que eu sou meio medrosa pra essas coisas. Tenho medo das críticas. Gostaria de saber quais os ingredientes necessários para seguir em frente”.
Letícia, nunca tenha medo: se você tiver essa postura, não será escritora e nunca publicará um livro. O escritor não pode ser influenciado pela crítica, não pode se abalar com palavras negativas, não pode nunca desistir. Não pode ter dúvidas se continuará a escrever. O escritor é, acima de tudo, um ser que vive em outra atmosfera, um ser sensível e dono de suas palavras.
O principal ingrediente de um livro é a sensibilidade do escritor e ela nunca poderá ser julgada pela crítica. O crítico, muitas vezes, não tem conhecimentos necessários para julgar uma outra; ele analisa um livro sem ter a certeza de que está fazendo uma boa avaliação. Portanto, desconsidere o crítico e pense apenas em escrever. Se as pessoas aprovaram o seu livro, vá em frente. Esse é um bom sinal.
Releia todos os seus textos, faça as correções necessária, monte um belo projeto e envie para as editoras. Não perca as esperanças. Você tem muita sensibilidade, tem determinação e tem metas definidas – publicar um livro -, portanto, termine a sua obra e mostre que você tem talento.
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles “Rir ou chorar”, “Poesia não vende” e “Transroca, o navio proibido”, que está sendo adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Se você tem dúvidas, escreva para contato@rodrigocapella.com.br