Os autores marxistas e suas técnicas apuradas de “encher linguiça”
Tomemos como exemplo a frase a seguir retirada do livro Dialética do Esclarecimento de Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903 – 1969) e Max Horkheimer (1895 – 1973): “Assim como as imagens da geração a partir das águas do rio e da terra se tornaram, entre os gregos, princípios hilozoístas, elementos, assim também toda a luxuriante plurivocidade dos demônios míticos espiritualizou-se na forma pura das entidades ontológicas.”.
Nesta frase são usados os recursos estilísticos paralelismo e quiasmo.
O paralelismo ocorre quando há uma repetição de estruturas sintáticas semelhantes dentro de um enunciado para reforçar uma ideia ou criar ritmo no texto. Na frase apresentada, temos uma construção que estabelece uma relação de analogia entre dois processos históricos por meio da repetição da estrutura "assim como... assim também...".
Além do paralelismo, pode-se notar também o quiasmo, pois há uma inversão de ideias entre os dois segmentos comparados: no primeiro, menciona-se a materialidade dos elementos naturais que se tornam princípios filosóficos, e no segundo, a pluralidade dos demônios míticos que se torna formas espirituais puras. Isso cria um efeito espelhado na argumentação.
Os textos de muitos autores marxistas (e, de modo geral, de filosofia e teoria social) são repletos de construções complexas, longas cadeias de subordinação e uso frequente de paralelismos, quiasmos e repetições.
Esse exagero, que resulta em textos prolixos e desnecessariamente complicados, para mim tem o propósito de “encher linguiça” e limitar as críticas, pois coloca os “adversários” na posição de quem “não entendeu nada” e portanto, não podem “meter a colher”.
Assim, como disse Karl Marx, os críticos são “enfadonhos, presunçosos e medíocres epígonos, além de superficiais e meros sofistas e sicofantas das classes dominantes”.
Essa tática foi usada, por exemplo, além de Adorno e Horkheimer, por Simone de Beauvoir, Herbert Marcuse e Paulo Freire e exige muita disposição e força de vontade para se ler seus livros.