Dengue
A morte prematura de um pai de família é algo extremamente doloroso. Para a família, um fato que desestabiliza emocional, social e, na maioria dos casos, economicamente. Quando a família ainda é jovem a perda do pai pode trazer danos irreparáveis que certamente trazem prejuízos a toda a sociedade.
A morte prematura é revoltante quando é motivada por intempéries absolutamente controláveis. É o caso da dengue, doença transmitida por um mosquitozinho de nada, mas que é capaz de transportar um vírus de uma pessoa a outra. Esse vírus em si não é tão letal. Naturalmente, todo ser humano tem organismo capaz de reagir e suportar o mal-estar de uma virose. A gravidade é de ordem química: a reincidência de contaminações combinada com os esforços do organismo em desenvolver mecanismos de defesa ocasionam a queda de plaquetas do sangue e daí a hemorragia.
Entretanto, o que torna mais revoltante o contexto da dengue no Brasil é que tudo isso é um tapa na nossa cara. Sim, porque é revelador do quadro de desigualdade social que serve de modelo para o desenvolvimento do país.
Quinhentos anos de história são suficientes para colocar o Brasil com a mão no topo de algumas coisas sem tirar o pé da lama em outras tantas. Não apresento caro leitor, uma centena de exemplos para não cansar-lhe a leitura, como também aposto que você apresentaria duzentos. E então para que estou escrevendo isto? Talvez apenas para desabafo.
O que eu quero dizer é que não há uma política pública nesse país que não seja reprodutora da desigualdade. Havia um imposto que todos pagavam. Acabou-se. Era justo demais para existir. No Brasil só o consumidor paga imposto. É assim historicamente.
Quando julgo a dengue como uma intempérie controlável é por acreditar que existem meios de controlar o mosquito transmissor. Segundo a própria Fundação Nacional de Saúde – FNS - o caso é educativo.
Será que o nosso conhecimento ainda não é suficiente para providenciar algo mais eficiente do que jogar inseticida na água que bebemos? Acredito que sim. Será que meio século de desenvolvimento social, cultural, político, eleitoral e tecnológico ainda é insuficiente?
Será que o país que realiza o mais eficiente sistema eleitoral vai perder para um mero mosquito. Quero crer que não.
Acho que quem dispõe de meios tecnológicos para transmitir em tempo real um jogo de futebol que se realiza no outro lado do mundo ou quem dispõe de meios para realizar uma exitosa campanha eleitoral nacional vai morrer de vergonha se admitir que perdeu uma batalha para um mosquitozinho qualquer.
Penso que o que falta seja decisão e determinação. Não quero crer que falte autoridade e liderança. Falta?
Como se trata de um mosquito urbano, tenho uma idéia enquanto não sai uma campanha nacional para valer. Vamos todos criar o aedes aegipt. Colocamos um atrativo – água limpa em pequenos recipientes espalhados pela casa. Ali a fêmea porá seus ovos. Faremos vistorias semanais. E quando estiverem em fase de larva colocamos um pouco de água sanitária e acabamos com elas. Quebrando o ciclo reprodutivo do mosquito vamos acabar com ele. Ou será melhor esperarmos pelas autoridades? Pode demorar muito ainda. Eu não quero ser a próxima vítima. Ninguém quer.
(*) Professor das redes municipal e estadual de ensino.
E-mail: valdenirlcruz@yahoo.com.br
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