SER BOM OU SER BOBO? SER HUMILDE SEM SER BOBO

Heitor é um grande amigo meu. Há alguns dias, conversamos durante muito tempo sobre o assunto que passo a narrar. Ele me autorizou publicar este relato, o qual achei interessante. Claro que ele não se chama Heitor. Adotei esse nome para não o comprometer. Foi mais ou menos assim:

Certo dia, do nada, este tema começou a mexer com a cabeça de Heitor. Durante sua vida inteira, seguindo os exemplos de seus pais, procurou levar uma vida digna, respeitando seu próximo, procurando não fazer mal a ninguém e ajudando a quem precisasse, dentro de suas possibilidades. O tempo foi passando. Fez faculdade. Alcançou uma profissão, casou-se, teve filhos, criou-os, procurando sempre mostrar a eles o caminho da verdade e da honestidade.

Hoje, com mais de setenta anos, resolveu fazer um retrospecto de sua existência, e, acabou por descobrir que, infelizmente, não foram poucas as vezes que não agira com a devida inteligência. Como? Perguntaria o leitor. Achava que estava sendo uma pessoa boa, no entanto, somente nos últimos anos de sua vida descobrira que tinha sido demasiadamente tolo ao tomar decisões inacertadas em momentos difíceis. Quando deveria dizer um "não", por pena ou piedade, muitas vezes, cedia à esposa, filhos ou pessoas muito próximas, às pretensões que lhe eram impostas. É claro que, ao dizer não, em algumas oportunidades, não significava que estava errando.

Posteriormente, ou até mesmo quase que imediatamente, com certeza, poderia ser avaliado, como sendo uma pessoa fácil de manipular e que, em outras oportunidades, seria possível conseguir dele outros benefícios.

Heitor vivia fazendo reflexões. Dirigindo seu carro, parado em um sinal de trânsito, cabisbaixo, sentado em uma cadeira de um consultório, aguardando atendimento, quase sempre muito triste, concluiu que acabara se prejudicando e que poderia ter trazido durante sua vida prejuízos para si e para membros de sua família.

Meu personagem levava uma vida financeira tranquila, sem dificuldades. No entanto, sua cabeça vivia cheia de culpas. Gostava de boas leituras, a fim de encontrar, quem sabe, um caminho mais ameno para viver um final de vida mais feliz e fazer também as pessoas a seu redor mais contentes. Nas reflexões que abordava incluiu também um outro tema que, a seu ver, se assemelhava ao mencionara nos parágrafos anteriores. Referiu-se à humildade. Julgou que se excedera, muitas das vezes, nesse comportamento. Ao invés de ser humilde, na concepção da palavra, colocara-se na posição de inferioridade, deixando que as pessoas se aproveitassem dele através de sua fraqueza. Isso o machucava profundamente, segundo seu ponto de vista. Considerava-se um bobo. Preferiu não identificar tantas situações que isso ocorrera.

Bem, como se pode perceber, Heitor, era um homem consciente de tudo que havia feito até a idade em que se encontrava. No entanto, durante sua vida inteira teve dificuldade para impor-se, e, com isso, as pessoas se aproveitavam dele. Tinha um bom coração. Mas ele se esquecia de que, nem sempre, o coração poderia falar mais alto. Havia momentos que, apesar do sofrimento momentâneo, a razão deveria prevalecer. Era impossível juntar todos os cacos e colar a louça que quebrara ao longo da vida. Apesar de tudo, dizia ele, construiu muitos castelos. Conheceu muitas pessoas, fez amigos, trouxe alegria e felicidade para muitos que conviveram com ele. Assim me disse. E eu concordei plenamente. Afinal, Heitor não poderia carregar nos ombros somente sofrimentos. Ele, como todo ser humano, tem suas qualidades, e sabe compartilhá-las com muitas pessoas com as quais conviveu e convive.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 03/01/2025
Reeditado em 05/01/2025
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