Conversão Histérica
A teoria freudiana sobre o sintoma histérico, indicada no caso de Elizabeth von R, esclarece dois relevantes aspectos acerca da conversão histérica.
O primeiro aspecto revela que o sintoma é tecido de linguagem, e o segundo, que os órgãos - ou partes do corpo - anexados pelo sintoma são conduzidos a desempenharem um papel de zona erógena para o qual não foram destinados.
Esclarecendo a idéia de que uma cena traumática deixa uma marca impressa no corpo histérico através de uma representação simbólica recalcada, a teoria freudiana possibilita considerar a função orgânica do corpo como submetida ao campo de linguagem: quando algo “não anda” ao nível do pensamento inconsciente, o sujeito histérico não consegue mais dar um passo com suas pernas.
Através da releitura dos textos freudianos, Lacan demonstra que a apreensão freudiana do fenômeno analítico dirige-se ao plano da estrutura da linguagem, como observado nos relatos dos sonhos, dos chistes, dos lapsos, dos atos falhos e dos sintomas.
Retomando os escritos de Freud, Lacan elaborou a proposição de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, indicando que como ser de linguagem, o sujeito se constitui no campo da linguagem por meio de elementos simbólicos – significantes - que não portam um sentido em si constituído.
Diante disso, a experiência analítica estrutura seu dispositivo clínico na fala do analisante e apropria-se metodologicamente da associação livre como via de acesso ao inconsciente.
No seminário sobre As psicoses, Lacan nos apresenta a psicanálise como “uma nova abordagem para tratar a economia da linguagem” (LACAN, [1955-1956], 2002, p.186), em contraposição às demais abordagens clínicas que se ocupam em tratar o sofrimento psíquico.
A propósito do tratamento empregado nas abordagens psicológicas, Lacan demarca a diferença ética e metodológica entre estas e a experiência psicanalítica.
Podendo estabelecer uma relação “de ego a ego”, as práticas psicológicas dirigem suas intervenções para o reforço do eu, e conseqüentemente, para o sentido oposto ao da dissolução dos sintomas como sustentado na proposição freudiana sobre a relação da formação dos sintomas com a fantasia inconsciente.