O Saber Inconsciente
Na tentativa de corresponder ao método clínico que foi utilizada no século XIX, a teoria etiológica da neurose histérica formulada por Freud não deixou de acompanhar o que sua experiência clínica lhe trazia.
Ao escutar as histéricas, Freud foi impulsionado a refletir sobre a estreita relação entre a linguagem e o sintoma no terreno da transferência.
Como mencionado anteriormente, a teoria etiológica da neurose originou-se a partir da interrogação de Freud sobre os sintomas histéricos no encontro com Charcot, levando-o a postular uma causalidade psíquica e indicar o papel da representação mental no inconsciente atuando no corpo.
O avanço nessa teoria constituiu um rompimento com os estudos da psiquiatria clássica, e o possibilitou descobrir a origem psíquica do sintoma histérico, sustentando a determinação simbólica e sexual figurada na fantasia histérica.
Em Estudos sobre a histeria (FREUD, [1893-1895], 1996-b, p.161), Freud demonstra que o sintoma histérico não é o negativo do orgânico, como considerado no campo científico.
A propósito do caso de Elizabeth von R., Freud afirma a existência de uma interseção entre a dor física e a palavra falada, emitida pela própria paciente.
O sintoma da paralisia da perna de Elizabeth von R. surgiu quando ela caminhava sozinha com o cunhado, marido de sua irmã, e mais adiante essa dor se tornou uma paralisia.
Em tratamento analítico, Freud a diagnostica com uma expressão precisa: “Trata-se de uma paralisia funcional baseada na simbolização” (p.177), revelando a descoberta do significado da palavra Alleistehen que o sintoma simbolizava: “ficar só, ficar de pé”.
A solidão de que sua analisante tanto se queixava e da qual tanto sofria, estaria inscrita na paralisia das pernas: Elizabeth não conseguia ficar só, não conseguia ficar de pé nem caminhar. Daí Freud retira mais um ensinamento precioso para o tratamento analítico da histeria: “Uma simbolização como essa pode gerar sintomas somáticos na histeria.” (p.200), ratificando que a conversão histérica não obedece à anatomia, mas a um excesso de simbolização inscrita no corpo capaz de lhe retirar a função orgânica.
Ao longo do tratamento de Elizabeth, Freud esclarece: “a dor foi desfeita pela fala” (p.187), ratificando a importância do tratamento analítico da histeria, como dispositivo clínico que assume a função de fazer o sujeito falar a palavra que foi recalcada.