Como Criar um Monstro

Criar um monstro nem sempre envolve laboratórios, relâmpagos e partes costuradas de corpos, como na clássica história de Frankenstein. Às vezes, o monstro surge de algo muito mais íntimo: uma relação de confiança. Ele não nasce, mas é "criado" pelo ato de ajudar alguém a crescer, prosperar e ocupar um espaço que, ironicamente, se volta contra você.

Tudo começa com as melhores intenções. Você encontra alguém com potencial, talvez inseguro, mas promissor. Decide investir seu tempo, sua experiência e até sua credibilidade para impulsioná-lo. Afinal, não é isso que nos faz humanos? Estender a mão, acreditar no próximo e ajudar alguém a alcançar o sucesso?

No início, há gratidão. Você sente que está fazendo a diferença na vida dessa pessoa. Ela busca conselhos, aceita orientações, e você se sente parte do progresso dela. Ela cresce sob sua tutela, mas, em algum momento, algo muda. O brilho da gratidão desaparece, substituído por um olhar calculista.

O que você não percebeu é que, ao moldar essa pessoa, também a equipou com ferramentas que ela usaria contra você. A confiança se torna uma arma; as informações que você compartilhou, munição. O monstro, agora plenamente formado, se volta contra seu criador, apunhalando pelas costas no momento mais inesperado.

Esse monstro não é como o de Frankenstein, que tinha consciência de sua própria tragédia. Ele age de forma fria, muitas vezes sem remorso. E a lição amarga que fica é que, assim como Victor Frankenstein, ao criar algo, você não tem controle sobre o que aquilo se tornará.

Mas há uma escolha: você pode permitir que isso endureça seu coração, fechando-o para novas oportunidades de ajudar outros, ou pode aceitar que, mesmo correndo o risco de criar outro "monstro", o ato de acreditar no próximo é parte do que nos torna humanos.

Assim, talvez a verdadeira moral da história não seja sobre o monstro que foi criado, mas sobre o criador que, apesar das decepções, escolhe continuar acreditando na bondade que ainda pode existir em outras pessoas.

*Vasco Toledo*