Contextualizando Antônia

Antônia teve alguns relacionamentos amorosos com homens casados, se envolvendo com várias pessoas na mesma época.

Por esse motivo, ao engravidar, não sabia quem era o pai da criança. Durante a gravidez Antônia residia com sua avó materna, sentia-se deprimida, chorava bastante, sentia arrependimento de algumas situações que passou.

Após o parto de sua filha, os sintomas de Antônia se intensificaram, apresentando alucinações auditivas e visuais e delírios inclusive de cunho persecutório.

Permaneceu com sua filha, residindo na casa de sua avó materna, até a menina completar 2 meses de vida. Após isso, foi adotada por um casal que Antônia conhecia. Antônia então fora internada no manicômio pela primeira vez.

Após sua alta, Antônia passou a visitar a filha, porém foi proibida por essa família de ver a filha pois teria tentado agredi-la algumas vezes.

Possuía uma vida promíscua, aos olhos da sociedade, por manter relações sexuais com vários parceiros.

Afirmou que, muitas vezes, optava por ter essas relações em troca de roupas e presentes com pouco valor financeiro, visto que vivia em condição de miséria.

Sentia-se culpada e deprimida por não conseguir seguir os dogmas impostos pela igreja que foi “obrigada” a frequentar pela tia materna, com quem passou a conviver após o abandono da genitora.

É possível perceber que sua condição de “ser louca” se relaciona ao julgamento do modo como a mulher vivencia.

Eu já tinha tomado o chá, minha tia não deixava tomar pílula, na última vez não deu certo, acho que o tempo, sei lá, eu tomei, era uma bruxa que dava o chá, eu era danada, gostava de sair, minha filha nasceu, eu chorava muito, pela doença, cheguei no hospital balançando minha filha, assim, sem estar com ela.

(Diz Antônia).

Após o parto, Antônia não conseguiu desempenhar as funções de maternagem, afirmando não conseguir realizar os cuidados necessários à criança. Passados três meses do nascimento de sua filha, os sintomas depressivos foram se intensificando, teve surtos frequentes de choro e impulsividade, e foi internada no manicômio, após entregar a bebê para adoção.

É possível observar que Antônia não conseguiu desempenhar o papel de boa filha, boa esposa e boa mãe que lhe era naturalmente esperado pelo fato de ser mulher.

A gestação foi indesejada, e após o nascimento, aparentemente, não conseguiu lidar com a condição de ser mãe. Devido aos seus comportamentos “inadequados”, não poderia mais conviver em sociedade e, por isso, as relações, os laços sociais e familiares foram rompidos em busca da normatização de comportamentos esperados.

Seu destino foi o manicômio.

Além do mais, vale problematizar a questão do aborto presente na vida de muitas mulheres, entendendo que, na estrutura da sociedade capitalista, patriarcal e racista, o corpo das mulheres está a serviço da lógica de produção, ou seja, servir ao trabalho doméstico, à manutenção do lar e da vida humana, sendo necessário o cumprimento dos papeis que lhes são fortemente impostos: o de mãe e esposa.

...Eu sempre fui danada, gosto de namorar, no manicômio não podia namorar, lá só tinha mulher tamém, e eu acho errado, pela força divina eu conheci J. no V., ele é um urso, me trata bem. ( Acrescenta Antônia, maio de 2017).

Will Juiz
Enviado por Will Juiz em 17/12/2024
Código do texto: T8221326
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