Se a obra-prima de Rodin O pensador (1880) oferece uma visão do poder masculino e do homem como sujeito do seu próprio pensamento com sua mente e corpo, suas representações do feminino se diferenciam bastante.
Conforme Higonnet, a obra de Rodin estabelecia uma diferença clara no modo de encarar a sexualidade feminina e a masculina.
Da mesma forma, havia uma distinção entre a sexualidade das modelos - criaturas sexuais anônimas - e a das mulheres da classe alta registradas em retratos. De qualquer forma, "nenhuma mulher possuía o poder social necessário para transformar-se em uma Pensadora". A maioria das figuras esculpidas por Camille Claudel é de figuras femininas, revelando a preocupação com a sua própria condição sexual.
Nas suas representações do corpo feminino, nega-se a dividir as mulheres entre virgens e prostitutas, como era comum. Em seus nus, corpos não idealizados fisicamente segundo os cânones da época, os faz passar do estado visual de objeto passivo ao de sujeito desejante.
As diferenças entre Rodin e Camille Claudel na representação de nus femininos e masculinos e da própria sexualidade ficam mais explícitas ao analisarmos duas obras importantes dos dois artistas: O beijo (1880-1889), de Rodin, e a obra batizada sucessivamente de Abandono, Vertumno e Pomona e Sakountala (1905), de Camille Claudel. As duas obras tratam aparentemente do mesmo tema, o amor erótico heterossexual. Na obra de Rodin, o homem tem o poder do desejo sobre a mulher; é ele quem domina o beijo.
Na escultura de Camille Claudel, ela atreve-se a representar um nu masculino que se ajoelha diante da mulher, que por sua vez entrega-se marcando a reciprocidade do desejo erótico.
Os corpos femininos de Claudel são corpos desejantes, não simples objetos do prazer masculino. Talvez justamente por essa ousadia, incomum às mulheres de sua época, sua obra e história tenham sido esquecidas por tanto tempo.