O SILENCIO DO LOBO
Sempre fui só. Mesmo sendo filho único, cresci em um ambiente onde a ausência de afeto não era apenas uma falta, mas uma presença opressiva, quase palpável. Meu pai, um homem de caráter sólido e princípios inflexíveis, nunca soubera transitar pelos territórios mais suaves da emoção. Ele era um homem honrado, mas sua honra não se traduzia em carícias ou gestos de ternura. A disciplina implacável era seu modo de vida, e o afeto, para ele, parecia ser um sinal de fraqueza, algo a ser evitado a todo custo. Cresci sem saber o que era um abraço sincero, sem jamais sentir o peso da preocupação de um pai. O que me restava eram os silêncios: o silêncio da casa, o silêncio dos olhos que nunca se encontravam, o silêncio de um amor que jamais se expressava.
Por ser filho único, as necessidades afetivas que surgiram em mim se multiplicaram, intensificaram. Mas, como um poço seco, esse vazio nunca foi preenchido. Quando me casei aos 20 anos, pensei que, finalmente, encontraria a reciprocidade que me faltava. Mas o que encontrei foi outra forma de solidão disfarçada de convivência. Foram 37 anos ao lado de alguém que, apesar de sua presença constante, nunca conseguiu ver quem eu realmente era. Mesmo com uma casa cheia de filhos, eu me sentia imerso em uma solidão que não se dissipava, mas se aprofundava com o tempo. Como poderia não me sentir assim, quando os meus filhos pareciam viver suas vidas como se eu fosse uma sombra, uma presença esquecida, dispensável? Perguntava-me, em silêncio, se algum deles, sequer uma vez, se importaria com o que eu sentia, se algum deles notaria minha ausência, caso eu não estivesse mais ali. Mas as respostas nunca vinham. O telefone nunca tocava, as palavras de apoio nunca chegavam, e as visitas, quando aconteciam, eram motivadas pela obrigação, nunca pela vontade. Eu era invisível para eles.
Eles seguiam suas rotinas, cada um mergulhado em sua própria vida, sem que eu fosse, de fato, parte dela. Os aniversários, os feriados, os encontros familiares passavam como uma sucessão de momentos em que eu estava ali fisicamente, mas emocionalmente ausente. O silêncio deles, a indiferença, cortava mais fundo do que qualquer palavra dura, mais devastadora do que qualquer expressão de rejeição explícita.
Hoje, estou casado novamente. Encontrei alguém que se importa comigo, alguém que me cuida, que compartilha os dias bons e os ruins comigo. Ela me faz sentir visível, me faz sentir querido, por vezes até amado. Mas, no fundo, uma sombra persistente me acompanha: sei que o tempo é implacável, que tudo é transitório, e que, mais uma vez, talvez, o abandono será o destino que me espera. A solidão, afinal, sempre esteve comigo. Ela se fez presente nas paredes frias da casa onde cresci, nas tardes vazias ao lado de minha ex-esposa, e talvez, no fim das contas, a solidão estará comigo até o último suspiro.
Eu gostaria de acreditar que as coisas são diferentes agora, que as pessoas ao meu redor realmente me amam, que meu ser tem valor. Mas, lá no fundo, sei que nunca soube o que é ser verdadeiramente amado. O que tenho, o que sempre tive, é a solidão. Esposa, filhos amigos, as palavras de carinho, são apenas uma fuga temporária da realidade. No final das contas, é ela quem ficará comigo — a solidão, constante e imutável, a única companheira que nunca me abandonou. E talvez seja isso que restará de mim quando o fim chegar: a certeza de que, no fundo, nunca pertenci de fato a ninguém.