FANATISMO E INTOLERÂNCIA: O “DISCURSO DO OUTRO” EM ALGUÉM (REPUBLICAÇÃO E ATUALIZADO)
“O nacionalismo é um veneno, o patriotismo um entorpecente...”
(Krishnamurti)
Pois bem, antes de qualquer coisa já irei dizer que não se trata de um “artigo de Psicologia” no que se refere ao título. Bem, convido o leitor a me acompanhar nesta “prosa”, a se tratar de algo bem atual: fanatismo e intolerância. Tentarei não ser prolixo, e, como sempre, usarei do método de “fazer perguntas”, a incentivar o mecanismo não somente das respostas, mas também para poder “abrir os olhos” e ver os cenários e personagens em questão.
O QUE É FANATISMO?
Então...
* O que você entende por “fanatismo”?
* Você seria um “fanático”?
* E o que é “intolerância”?
* Você seria “intolerante”?
* Você chega a defender com unhas e dentes suas ideias?
* Você é somente “fã” (admirador) de alguém ou é, na verdade, um “adepto” ou "refém" dele?
* Como é o seu comportamento com uma pessoa que não compartilha de sua linha de pensamento ou sua ideologia? Você respeita ou menospreza quem não é “de seu lado”?
* Acaso, você se considera o “dono da verdade” e que a sua visão de mundo é a única certa?
* é “racional” ou “passional”?
Você chega a “copiar” o seu “ídolo” (imitá-lo)?
Ser fã ... e ... ser fanático!
Existe, é claro, uma grande diferença
E quem não é fã de alguém ... no universo cultural?
Eu mesmo sou fá de muitos (e alguns nomes nem estão aqui mais)
Como por exemplo, os Beatles, Pink Floyd, gosto muito de MPB, samba ...
Sou fã de carteirinha de Fernando Pessoa, Clarice Lispector, José Saramago ...
Curto "de montão" Millôr Fernandes, Guimarães Rosa, Krishnamurti ...
Sou apaixonado com Filosofia, Mística, Física, sou ávido pelo conhecimento ...
Mas, nunca m’esqueço de quem sou
Isso mesmo: ao que sou [pelos outros] apenas um “fã”
Mas não sou fanático por nada ... nem de "mortal" algum
A ponto de amar demais (cegamente!) ... e m’esquecer,
E assim, amo (racionalmente)
Mas sem ser “devoto” de nada nem de qualquer um que seja
E pelo que deste modo sou ... sou, portanto, livre
Diferente dos fanáticos (que não são, em essência, livres), ai! coitados!
E ENTÃO, POR QUE EXISTE O FANÁTICO?
Não sou “doutor” no assunto, mas arrisco um palpite de que tal pessoa é carente demais, no que ele vê em outro, ou mesmo n’uma ideologia, uma âncora que lhe dê segurança. Gosta de se sentir protegido em seu rebanho. E geralmente é um “maria-vai-com-as-outras".
COMO SE DESCREVE O PERFIL DOS INTOLERANTES?
* Têm a mente embotada e sendo individualistas;
* Repudiam os que não os seguem, tendo-os total aversão e classificando-os como “inimigos”;
* São preconceituosos (ao extremo);
* São “doutrináveis”, permitindo serem moralizados, razão pela qual se tornam presas fáceis do “fundamentalismo”. Sim, todo fanático já foi “doutrinado”, do contrário não seria um fanático. São facilmente manipuláveis por seu líder;
* São agressivos (e, por causa disto, bastante perigosos);
* Usam de costume, expressões peculiares, tais como, “do nosso lado” e “do lado deles”, discriminando e dividindo, portanto, as pessoas (por lados e partidos);
* Acreditam que “suas verdades” são inquestionáveis. E são incapazes de falar como Voltaire: “discordo do que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo”;
* São misoneístas e, por isso, conservadores, dando às costas a tudo o que é novo.
Bom, é sabido que o fanático é alguém tomado por uma espécie de “encantamento” por alguém ou mesmo por uma “ideia”, ou, melhor dizendo, por uma “ideologia”. E, sem perceber, vai nutrindo em sua mente um afeto irracional e cego a se transformar n’um apego e obsessão. E, à medida que segue, é como a proliferação de várias metástases a invadir a sua alma, tais como foi anteriormente dito:
* A aversão a pessoas que não concordam com eles (em termos de filosofia e ideologia);
* A intolerância para co’elas;
* O aparecimento do comportamento agressivo com relação aos outros (que não fazem parte de seu grupo);
* A “incorporação” de seu "carismático" líder em suas vidas (comportamento de imitação), no que passam a “copiar” a sua conduta em tudo. Isso mesmo: o líder será “encarnado” neles;
* O “efeito halo”, onde o fanático “adorador” defende em tudo o seu "deus", e configurando-se a ele devido ao fato de “sacrificar” a sua “faculdade de julgamento”. E tal aprovação e louvor a ele se dá a partir de uma única visão [nele]. E a partir dela o transforma em sua maior "divindade". Como a se dizer: o nosso líder (o “Führer “, o “Duce”, ou seja lá que designação tenha) é perfeito.
O fanático é incapaz de enxergar os fatos. Aqui eu me lembro de um poema (o qual muito falo) do grande Fernando Pessoa (no heterônimo de Alberto Caeiro):
“O essencial é saber ver, mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida,
isso exige um estudo profundo, aprendizagem de desaprender.
Eu prefiro despir-me do que aprendi,
eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
desembrulhar-me e ser eu”.
Pois então, o fanático não consegue “ver” nenhuma verdade, já que ele se considera o único “dono da verdade”. Em outras palavras, é onde podemos enxergar nele o mal da “intolerância”. E por quê? Simplesmente por que ele tem a “certeza absoluta” de tudo. E tornando-se agressivo contra todos os que não compartilham de sua visão de mundo, já que é movido pelo entusiasmo e pela delirante paixão por suas ideias (e ideologia), as quais são “sagradas” para ele.
COMO PODE ALGUÉM SE LIBERTAR DO FANATISMO E DA INTOLERÂNCIA?
A resposta:
Quando os seus olhos começarem a dar indícios que estão se abrindo. Contudo, para isso, é preciso passar por várias decepções e “acordar” para a realidade, já que antes se portara como alguém “alucinado” pelo seu “divino representante" na terra. O segundo passo é ter a determinação de de "sair de sua roubada”. Mas, para tal precisará de forças para se “desfidelizar” de tudo. Digo “desfidelizar” pelo fato que a pessoa foi “doutrinada” e “moralizada” pelos princípios da ideologia a que cegamente praticava (seja ela religiosa ou política). E aqui, nem precisa dizer: não será um processo fácil!
DANDO PROSSEGUIMENTO:
Nenhum fanático aceita ser chamado deste nome. Assim como nenhum membro d'alguma seita concorda em dizer ser integrante dela. E por quê?
Antes de responder eu gostaria de dizer ao leitor que eu sou da época do Reverendo Moon, vivi no período auge do Hare Krishna, assim como eu me lembro muito bem da tragédia causada pelo pastor Jim Jones em função do suicídio e assassinato coletivo dos membros de sua seita, ocorrido em novembro de 1978 em Jonestown, na Guiana.
É interessante o quanto muitos deixam seus lares, alguns seus trabalhos, estudos e tudo o mais para “entrar n’uma empreitada dessas”. Ah! Tentem imaginar o sofrimento dos pais cujos filhos se embarcaram em tal "furada”! E por mais que alguém diga a eles: “vocês são membros de uma seita que está arruinando suas vidas”, eles simplesmente não escutam.
Bom, mas não quero aqui a falar de “seitas religiosas”. O meu foco é “fanatismo e intolerância política”. Embora seja certo afirmar que tanto os membros das seitas religiosas quanto os que se entregam a grupos de ideologia política se tornam cegos. E, quando “mergulham fundo” no lodo em que estão se tornam fanáticos e intolerantes. E qualquer coisa pode se esperar deles, incluindo assassinatos e até suicídios.
UM DESABAFO AGORA:
Infelizmente estamos passando por um cenário político crítico, onde recentemente aconteceu um homicídio em nosso país, mais precisamente na cidade de Foz do Iguaçu (PR), em função da conduta irracional de um certo cidadão, e fruto da intolerância política partidária. Na verdade, um bolsonarista matou a tiros um petista (na festa de seu aniversário). Aqui é onde o fanatismo está muito bem desenhado no comportamento de tantos, ao que eu o designaria como uma “síndrome neurótica obsessiva”.
Então, a verdade é que uma grande parte das pessoas está “perdida” e embriagada por uma visão messiânica, sobretudo, por um devido nome a propagar seus discursos de ódio e intolerância contra outros. Além de, é claro, disseminar frequentes “teorias da conspiração”.
Meu prezado leitor, tomo a liberdade de dizer que o país está tendo um “governo desgovernado”, cujo Chefe de Estado está entupindo a cabeça de muitos com seus pessoais rancores, e onde seus inimigos são (na sua ótica) os principais responsáveis pelo descontrole de tudo. Sim, tudo aqui é culpa do STF, dos grupos de esquerda, dos comunistas, da Rede Globo, etc. E o que acontece nesta estória? Os “adeptos” do "mito" incorporam em suas vidas os ódios e aversões dele.
E neste instante eu me lembro do que dizia o psicanalista francês Jacques Lacan: ”O inconsciente é o discurso do outro”. O qual, segundo ele, a nossa personalidade pode muitas vezes estar nos domínios do outro (sem que percebamos). Darei aqui alguns exemplos:
* Quando você diz “eu tenho medo desta 'turma da esquerda’”, você está dizendo isto por si mesmo ou não estaria, na verdade, “copiando” (literalmente) o “discurso dele”?
* Quando você emprega as palavras “Globo-lixo”, ou "PT- lixo" tratam-se de expressões suas ou são, na realidade, um “discurso dele”?
* Quando você fala “os comunistas estão querendo acabar com o Brasil e querem transformá-lo numa Venezuela", tal dizer é algo seu ou é um “discurso dele”?
* Quando você diz “o STF está destruindo o Brasil” é um julgamento seu ou é, na verdade, um “discurso dele”?
Meu caríssimo leitor, percebeu só como é fácil a gente (de forma inconsiciente) se passar pelo ridículo de “copiar” alguém só porque somos movidos por uma espécie de deslumbramento [por ele]?
É o raciocínio de Lacan, em que praticamos (em nossa vida) o discurso do outro. Ou seja, sacrificamos nossa personalidade para viver à de quem “adoramos” e somos apaixonados. E todo fanático é assim, a esculpir em sua vida o perfil de fiel seguidor de seu “deus”: concorda em tudo com ele, apoia-o em tudo, em nada o questiona nem o julga, é “pau mandado” dele, obedecendo-o no que lhe foi “doutrinado”, e sempre de forma incondicional , sem protesto nem resistência alguma. E quando se enterra na “cova da intolerância” é capaz de qualquer coisa para provar que o ama, como, por exemplo, matar alguém (do "outro lado") ou até mesmo cometer suicídio. Alguém se recorda de Joseph Goebbels, sucessor de Hitler como Chanceler da Alemanha, o que ele fez em seu primeiro dia no novo cargo? Ele e a sua mulher se suicidaram, depois de terem assassinado com cianeto os seus seis filhos.
É isso aí, meu amigo. Se você estiver “nesta de fanatismo e intolerância” (político ou de qualquer outra "M") esteja certo que não lucrará nada vivendo deste jeito. Cai fora enquanto é tempo. Acorda de seu delírio, meu querido. Digo isto para o seu próprio bem!
TEXTO ESCRITO EM 12 de julho de 2022
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UM FATO ATUAL (13 de novembro de 2024):
Na quarta feira do dia 13 de novembro de 2024 um cidadão de nome Francisco Wanderley Luís, também conhecido por "Tio França", causou a explosão de artefatos em Brasília, mais precisamente na Praça dos Três Poderes, em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF). Nas redes sociais ele orgulhosamente anunciou que iria atacar o STF, onde havia postado em tom de ameaça: "Jogo acaba no dia 16/11. Boa sorte". Outras publicações foram reveladas durante a investigação de sua identidade, onde tomo a liberdade de anexar esta: "Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda: William Bonner, José Sarney, Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso ... Vocês 4 são VELHOS CEBÔSOS [sic] nojentos".
E durante a execução das bombas ele acabou morrendo, vítima de seus próprios artefatos. Trata-se, sem sombra de dúvida de um indivíduo fanático e que abrange todos os perfis do que foi aqui [neste texto] colocado. Não irei prolongar quanto ao fato em si, mas gostaria que o leitor pudesse avaliar e julgar a conduta do devido cidadão.
Pois bem, a verdade é que para os fanáticos que a ele se assemelham, com certeza [estes] o irão chamá-lo de "herói" ou mesmo um "mártir", enquanto para as pessoas sensatas o classificarão como um sujeito desequilibrado e que estava "precisando de ajuda [psicológica], dado ao grau de ódio a que tinha por certos nomes.
Pois bem, o que você acha disto?
UM PEQUENO RESUMO E MENSAGEM:
Você consegue ficar ... sozinho
.... e ser somente... você mesmo?
Você é dono de sua vida?
Oh! Quem te sequestrou a que nem pedindo dinheiro
... está por seu resgate?
E então!
Já se perguntou?
E eis que idólatra d'outros se acha ...
E fanático se tornou
E o que é pior: se desorientou
Nenhum fanático aceita ser chamado ...de fanático
Nenhum sectário ou prosélito aceita que alguém lhe diga
... que é prisioneiro ... de sua seita
(seja ela qual for: religiosa, ideológica, política ...)
Mas, infelizmente ... é!
A verdade é esta!
Seja fã, mas somente fã
E principalmente (ou unicamente) ... de si mesmo
E jamais seja fanático por alguém
E assim seja ... amém!
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12 de julho de 2022
INDICAÇÃO PARA LEITURA:
“A MENTE MORALISTA (Por que pessoas boas são segregadas por política e religião)”
Autor: Jonathan Haidt
Editora ALTA/CULT