TRABALHAR MENOS: QUALIDADE DE VIDA?
A deputada Érica Hilton, do PSOL, apresentou uma PEC nos últimos dias que vem ganhando bastante força no governo Lula e repercussão nas redes sociais: o fim da jornada de trabalho 6X1.
Segundo ela, a jornada 6X1 é uma forma de "escravidão" que faz o trabalhador perder diversas outras coisas importantes da vida, como tempo com a família, capacitação profissional por meio de cursos, lazer etc.
Bem, o debate certamente será acalorado, pois, de um lado, estão os pequenos, médios e grandes empresários; do outro, políticos (não digo nem o povo) que, seja lá qual for o motivo, querem acabar com a escala 6X1.
Particularmente (lá vou eu palpitar mais uma vez sobre tudo sem entender quase nada, rs) acho que a proposta não irá para frente, mas, se for, ficam algumas ressalvas. Vejam:
1º Trabalhar menos não é garantia de que as pessoas terão mais tempo de qualidade com suas famílias. Vejam, por exemplo, na época da pandemia (tudo bem que era outro contexto), quando as pessoas ficaram confinadas em seus lares, o que elas faziam. Muitos homens ficaram nas ruas empinando pipas, enquanto muitas mulheres estavam com os filhos ou fazendo outra coisa. Fora a agressão que muitas delas sofreram de seus parceiros. Portanto, trabalhar menos não necessariamente significa qualidade de vida familiar. As coisas podem até piorar.
2° Como disse ontem um jornalista, não existe almoço grátis; ou seja, diminuiu a carga de trabalho, mas certamente o governo vai embutir encargos em algum bem de consumo necessário. Ou vocês acham que a liberação dos ônibus aos domingos em São Paulo é realmente de graça? Óbvio que não. A prefeitura repassa isso em alguma coisa que pagamos e nem percebemos.
3° Dizer que só empresários lucram e trabalhadores trabalham também não é de toda uma realidade, principalmente quando se fala de pequenos e médios empresários. Um dono de um lava-jato não pode ser comparado a um acionista majoritário do banco Itaú, por exemplo. Este dono (do lava-jato) trabalha tanto quanto seus empregados. O mesmo se aplica ao dono de uma pequena farmácia de bairro.
4° O desemprego poderá crescer, muitas empresas poderão fechar e, ao invés de melhorar, as coisas poderão piorar.
5° E, por fim, uma mudança dessas não pode ser do dia para a noite. Deve haver debates públicos, convenções, participação popular etc. durante um tempo razoável, tipo: um ano, para que, de fato, tanto o trabalhador quanto o empresariado não sejam prejudicados.
Enfim, a polêmica está aí.
Acredito que deve haver outras formas mais eficazes de garantir qualidade de vida aos trabalhadores, sem ser apenas alterando a escala 6 x 1.