Desafiando o ageísmo. Por Meraldo Zisman

…com o tempo correndo à minha frente, como se zombasse de meus passos mais lentos, me deparo com outro inimigo: o ageísmo. Ser velho, aos olhos da sociedade, é ser invisível.

O ageísmo, termo cunhado em 1969 pelo gerontologista Robert Neil Butler, refere-se à discriminação dirigida a quem envelhece. Seus exemplos se multiplicam na sociedade: o idoso tratado como criança, criticado por ousar iniciar novos relacionamentos ou rejeitado ao procurar emprego, simplesmente por já viver mais do que o esperado.

Carrego em mim o peso de cinco mil anos de história. Não falo apenas dos anos que já acumulei, mas da ancestralidade que pulsa, vibrante, nas minhas veias. É uma herança feita de dores, lutas e de uma resistência que atravessa séculos.

O preconceito? Não é novo. Ele sempre caminhou ao meu lado, discreto e implacável, desde o meu nascimento, enredado na minha origem judaica. E agora, com o tempo correndo à minha frente, como se zombasse de meus passos mais lentos, me deparo com outro inimigo: o ageísmo. Ser velho, aos olhos da sociedade, é ser invisível.

Não sou mais aquele que carrega em si memórias e experiências que poderiam orientar os mais jovens. Aos olhos deles, sou um estorvo, uma lembrança incômoda do que o futuro lhes reserva. O que eles não sabem, ou talvez não aceitem, é que o tempo é um professor e quem o teme, teme a si.

Eu, que sobrevivi às mais diversas formas de intolerância, não me deixo abater. O preconceito contra a idade é apenas mais um teste, um eco das discriminações que enfrentei. Ageísmo é, no fundo, o medo do futuro, o reflexo de uma sociedade que evita encarar aquilo pelo qual inevitavelmente passará. Assim como o antissemitismo ignora a profundidade da minha herança, o ageísmo rejeita o que está destinado a acontecer com todos: envelhecer, e se tivermos sorte, nos tornarmos mais sábios.

Poucos querem ouvir a voz dos mais velhos. O silêncio que se impõe à nossa presença não é por falta de histórias a contar, mas pela recusa em aceitar que nossas experiências valem. Mas eu resisto. Como judeu, aprendi a não aceitar a invisibilidade que me foi imposta tantas vezes. Recuso-me a ser calado, a ser esquecido. Minha história, meu legado, não são apenas meus, são de todos nós que resistimos à passagem do tempo. A velhice não é uma doença, é um troféu. Não preciso da aprovação de quem não enxerga além das aparências. Cada cicatriz que o tempo me deixou é a prova de que estou aqui, de que vivi e de que sobrevivi. Aquele que teme o futuro deve aprender, com o tempo, a valorizar o presente e reconhecer o passado. A idade não é um peso, mas um presente que nos permite saborear a vida em suas nuances mais profundas.

E você, que me lê, qual é o seu papel nessa história? Está disposto a construir um mundo onde a velhice seja celebrada, onde a sabedoria acumulada por tantos anos seja respeitada? Um mundo onde envelhecer seja sinônimo de dignidade, não de desprezo? A mudança começa em cada um de nós. E você, está pronto para ser a diferença?