ESTÉTICA DA CORRUPÇÃO – SORDIDEZ DECLARADA
O Mensalão e o Petrolão foram dois grandes Esquemas de Corrupção que marcaram uma época nojenta e nefasta dentro da política brasileira. Aqueles desvios de recursos foram tão evidentes, que foram fartamente propagados por toda a Mídia nacional e internacional. Quando ocorreu o primeiro esquema, o famigerado Mensalão, o sarcástico e bom jornalista Arnaldo Jabor, de O Globo, escreveu um artigo “em 2012”, irreverente e verdadeiro sobre os canalhas corruptos que foram pegos e negavam tudo na maior cara de pau. O título do artigo, “Estética da Corrupção” e, ele começa assim – Meus Deus, como a CPI do Cachoeira e o “Mensalão” de Zé Dirceu têm nos ensinado no último ano .... Aprendemos muito sobre a estética da corrupção e sobre a semiologia dos casos cabeludos. Eu adoro o vocabulário das defesas, das dissimulações, as carinhas franzidas dos acusados na TV ostentando dignidade, adoro ver ladrões de olhos em brasa, dedos espetados e aos uivos de falsas virtudes.
Me emociona a amizade dentro das famílias corruptas. São inúmeros os primos, tios, ex-sócios, ex-mulheres que assumem os contratos de gaveta, os recibos falsos, todos labutando unidos. Fico imaginando os cálidos abraços, os sussurros de segredo nos cantos das varandas, o piscar de olhos matreiros, as cotoveladas cúmplices quando uma verba é liberada em 24 horas.
Adoro ver as caras dos canalhas. Muitos são bochechudos, muitos cachaços grossos, contrastando com o estilo anoréxico das vítimas da seca e da fome. Os corruptos tendem para a obesidade e parecem acumular dentro das barrigas suas riquezas sempre iguais – piscinas, fazendas, luxuosos iates, carrões, “Miamis”(assim mesmo, com a forma irreverente de se pronunciar uma dessas ostentações deles).
Amo o vocabulário dos velhacos, que com suas caras indignadas e de falsa honestidade, teatralizam na TV, buscando e rebuscando interjeições e adjetivos raros – “Ilibado”, “Estarrecido”, “Despautério”, “Infâmias” e “Aleivosias”.
Outra coisa maravilhosa desses canalhas é a falta de memória, fazendo até descaso com o dinheiro, mas que na vida real nunca deixam de farejar qualquer grana como perdigueiros e, no entanto, dizem nos inquéritos – “Ih!... Como será que apareceram esses dez milhões de reais na minha conta? Nem reparei! Ah!... essa minha memória!...
Adoro esses exemplos de sordidez descarada, que tanto ensinam sobre o nosso Brasil. Amo também o balé jurídico da impunidade, em que os juízes das comarcas amigas, dão liminares e mandados de segurança de madrugada e de pijamas, no sólido apadrinhamento oligárquico e na cordialidade forense.
Adoro a paisagem vagabunda de nossa vida brasileira, que na hora que os gatunos são pegos com a boca na cumbuca, ali na hora da “mão grande”, surgem logo os advogados, com seus ternos brilhantes, semblantes sisudos e com liminares nas cintas. Imagino a adrenalina que lhes acende o sangue quando a mala preta voa em sua direção, cheia de dólares, fruto da própria ou outras corrupções.
Enfim, Arnaldo Jabor deu um show ao descrever de uma forma sarcástica e bastante irreverente todas as facetas da Corrupção Explícita que existiu naquele período, mas que continua viva até hoje, trilhando por novos caminhos...