Mau cheiro

Desesperado e sem saber a quem recorrer, um leitor de um dos jornais onde possuo coluna, me procurou para relatar sua desdita, com relação ao atendimento do SUS de Canoas. Ele tem o perfil do excluído: negro, pobre, de baixa escolaridade e subempregado. Pois o rapaz, com menos de trinta anos, é caminhoneiro, o que não o impede de ser alocado como ajudante de carregador de cargas pesadas. Isso lhe acarretou uma hérnia, em que pelo esforço excessivo, abre-se a parede abdominal, ocasionando a possibilidade de escape do intestino por aquela abertura.

Trata-se de um problema que não se resolve por si, mas só através de uma cirurgia. Seguindo o padrão usual, o SUS deu-lhe uma licença enquanto aguarda a cirurgia, prevista para dali a dois anos. Essas licenças a gente conhece: o salário dos primeiros quinze dias é suportado pelo empregador; o restante, num percentual de xx % é concedido pela Previdência. Ora, se o salário normal é insuficiente, o que dizer de uma remuneração reduzida.

Numa dessas, de tanto reclamar a demora da cirurgia, o segurado recebeu do SUS a notícia de, mesmo com a hérnia saindo para fora, e sem cirurgia, que ele devia voltar ao trabalho, podendo carregar pesos de “até cinco quilos”. Parece brincadeira, né? O cara volta a trabalhar com uma balança do lado. “Isto tem mais de cinco quilos? Não posso carregar!”. Tudo sem contar o perigo de haver um “estrangulamento” da hérnia e acontecer uma explosão de merda sem precedentes.

Aí a gente não vai saber se o mau cheiro é das fezes ou do descaso oficial.

Burocratas

Há dias escutei numa entrevista matinal, um “burrocrata”, se não me engano um RP da Policia Rodoviária Federal, filosofando sobre acidentes de trânsito e enfatizando as proibições e punições que assolam os motoristas.

Esqueceu-se de falar aquele teórico, que atribuiu todas as mazelas aos motoristas, na preparação deficiente das auto-escolas, da má conservação das estradas e em sua péssima sinalização.

Deixou de falar também que trânsito é questão de cultura social e educação, com um forte componente psicossocial. Não se combate infrações apenas com multas. É como instituir “pena de morte” para coibir a criminalidade.

Tiro no pé

As oposições do Congresso, formadas pelas “direitas raivosas”, demonstraram burrice e deram um tiro no próprio pé. Com medo de que o dinheiro da CPMF desse a Lula uma arma para um terceiro mandato, votaram contra aquele recurso, taxando-o de politiqueiro. Eles sabem que, apesar do que disserem, se o Presidente se candidatar de novo, ganha “com o pé nas costas”.

Pois agora não tem a CPMF. O Governo vai usar uma verba especial de noventa bilhões para o PAC. Perdeu a saúde, outras áreas estratégicas e o Senado mostrou que, por oposição raivosa, é burro e sem visão política.

Filósofo e escritor

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 14/01/2008
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