Os acidentes de trânsito
A cada ano que passa aumentam no Brasil os acidentes envolvendo veículos. Nas estradas brasileiras, do Natal até o início de janeiro, houve um verdadeiro holocausto, ceifando vidas de forma cruel e preocupante. É revoltante o cinismo das autoridades creditando à imprudência dos motoristas a gênese de todo o massacre. Quando surgiu o novo Código de Trânsito, os mais ingênuos bradaram: agora sim, vão acabar os acidentes, tirar carteiras, impor pesadas multas e moralizar o mercadinho. Pergunto: E isso aconteceu? É claro que não! As multas são mais ou menos pesadas (deviam ser mais), mas quem tem um carrão importado que custa R$ 100 mil não está se preocupando com multinhas de cento e poucos reais.
A pontuação negativa que retira a carteira tem prazo de um ano. Assim, o infrator se cuida quando está perto dos vinte pontos, para depois rasgar a bandeira. E ainda tem a benesse de transferir os pontos para outras pessoas. Conheço um cidadão que transferiu mais de trinta pontos para a mulher, os dois filhos, o genro e até o cunhado.
Notaram como na maioria dos acidentes sempre tem um caminhão envolvido? Os caminhões ficaram maiores, mais pesados e as estradas são a mesma droga de sempre.
Quando JK quis, em 1960, se celebrizar pelas fábricas de caminhões, motores e pneus, o que fez? Sucateou a malha ferroviária e detonou a frota marítima de cabotagem. Cargas que poderiam ser despachadas por trem ou navio, hoje estão em caminhões, entupindo as nossas estradas, mais perigosas a cada ano.
Na necessidade de fazer a carga chegar a seu destino, a maioria dos caminhoneiros torna-se imprudente, extrapolando medidas, velocidade, carga e tempo. Não é raro ver um acidente em que o motorista extenuado dormiu ao volante.
A despeito de campanhas e ameaças, nossas estradas gaúchas não têm o policiamento que deveriam ter. Cito os trechos Novo Hamburgo-Porto Alegre, bem como Capital-Osório.
As estradas do Brasil são historicamente uma vergonha. Eu dirijo desde 1964 e as melhorias nunca foram de entusiasmar. São poucas as verbas para a educação, saúde e rodovias, porque não temos uma cultura nesse sentido. Os agentes de trânsito, em todos os níveis, são despreparados e treinados apenas para a repressão. Adoram multar, mas se esquecem de orientar. As auto-escolas dos Detrans da vida, também deixam a desejar. A pessoa sai sabendo todos os sinais e regras, mas sem preparo prático na direção.
O fato é que as leis de trânsito ainda são brandas demais e isto aliado à impunidade abre as portas da carnificina. Além dos problemas psicossociais latentes (pessoas que usam o carro para agredir), agravam o quadro o número crescente de carros, a deficiência das estradas, a falta ou má qualificação dos agentes de trânsito e a educação geral do povo que é abaixo da crítica.
Desses fatores, só o aumento de veículos é positivo, pois movimenta a economia. Os restantes, junto com a impunidade, precisam ser vistos como os verdadeiros culpados do holocausto.
Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral