Subdesenvolvimento Cultural
Hoje vi um comercial de televisão apelando para a compra de um liquidificador “bem melhor”, não simples como os outros, pois tratava-se de um “blender”. Isso mesmo, acreditam? Essa foi a justificativa. Na condição de consumidor, e de brasileiro, senti-me, pois, ofendido. Como podem falar mal de minha pátria, de cara lavada, e ainda querer meu dinheiro? Quer dizer que se eu começar a vender “ice-cream”, em vez de sorvete, o produto terá muito mais sabor?! Poupe-me desse devaneio!
Com certeza, a mídia é o que o povo quer ver e ouvir, caso contrário a falência dela seria destino fatal. Esse reclame é, portanto, espelho do pouco valor que é dado por nós aos nossos produtos, aos nossos serviços e à nossa cultura. Vivemos um subdesenvolvimento histórico-cultural que, de certa forma, está enraizado de forma subliminar no nosso modo de ser e agir.
Desde os tempos de colégio, por exemplo, somos obrigados a pronunciar as palavras estrangeiras como os nativos dela a pronunciam. Que absurdo! A menos que esteja no contexto de comunicação com estrangeiros, ao nos deparar com a palavra – play – o adequado seria falarmos – plai – e não – plei. De início, já evitaria a famosa pergunta: como é que se escreve mesmo?
Lembra-se da copa do mundo na França? O Ronaldinho era super querido lá, mas nem por isso via-se um mínimo de esforço deles para se pronunciar seu nome como ele é falado aqui. Ouvíamos com todo fervor e veneração: Ronaldô! Ronaldô! Isso sim, ao meu ver, é exemplo de patriotismo e valorização da pátria amada!
No Brasil, em contrapartida, cai muito bem o ditado popular: “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”. Isso porque, a cada dia, de forma sutil, somos levados a acreditar que a competência vem de fora e não está aqui dentro. Como brasileiro, entretanto, acredito que esse país é exemplo, para toda a humanidade, de amor, de paixão, de compaixão, de força! Falta-nos apenas um empurrãozinho para sair dessas amarras passadas que prendiam nosso olhar no que vem do outro lado da fronteira.
Percebam que o Jornal Nacional, da emissora Globo, comunga dessa visão estereotipada, dita anteriormente, ou parece querer que permaneçamos assim. Estamos sofrendo uma determinação polêmica do CONTRAN sobre regulamentação do capacete e outros afins do motociclista e, acreditem, tivemos míseros poucos segundos nesse jornal para tratar do problema, enquanto que para mostrar a política dos EEUU gastou-se minutos. É visível o tempo que se gasta nesse jornal, que se diz nacional, para falar de acontecimentos externos!
Resta-me, apenas, meu brado e minha conclamação para mudarmos esse jogo, essa humilhação a que somos submetidos todos os dias: ‘Vamos sair dessa mentalidade subdesenvolvida!’
São muitas décadas de submissão! Precisamos ter paciência e acreditar no futuro da nossa nação! Somos um barril de pólvora que pode detonar o mundo: de conhecimento, de cultura, de idéias. A cada dia, se disseminarmos essa condição e fazermos acreditar, faremos acontecer! Seremos uma nação a ser imitada e não mais uma imitação como querem que sejamos. Caminhemos, pois, ao rumo de nos mostrar para o mundo que somos melhores, mas não melhores do que eles, como fazem, e sim melhores para eles, para nós, para todos!