Emoção na Geladeira!
O Administrador Ben, deixou seu país para fazer uma Pós em São Paulo. Sua família é dona de uma indústria na ilha de Nevis, na América Central. Os negócios tiveram bastante impulso quando a gestão de vendas, nestes últimos dois anos, foi a ele confiada.
“Quem somos nós” What The Bleep do we Know?, é o título de um filme bem maçante, que pretende mistificar a ciência. Essa película sinistra alongou ainda mais o trecho de 7 horas que separa a casa do jovem, da cidade de Sampa. Haja chateza no documentário! No avião, deve causar o maior enjôo. O pior que esse treco foi convertido em livro, já estando à venda na terra tupiniquim. Respeito sua opinião, caso goste, certo?
Enquanto fazia o curso, uma jovem, convidara-o para assessorar sua mãe em uma empresa de logística. Era a chance para o rapaz colocar em prática a especialização que se propusera a fazer.
A concomitância estudo-trabalho, compõe um modelo ímpar que quase dispensa busca por resultados, pois eles se apresentam de forma espontânea, acompanhados de surpreendente e extraordinário retorno. Não são todos os dias que você dispõe de várias cabeças especiais (colegas do curso) interessadas no seu sucesso.
A fábrica de doce de porte razoável, que atendia somente parte da Ilha de Nevis, após passar pelas mãos do garoto Ben, já começa a receber encomendas da ilha maior, São Cristóvão. A idéia agora é aproveitar a leitura da marca da empresa, que reflete credibilidade e segurança, servindo-se de sua estrutura para implantar uma co-irmã, voltada para a área de serviços.
Durante esse ano, a Companhia da mâe da Júlia passou a “bombar”. Ben, é mesmo um homem talhado para os negócios.
Júlia, há cerca de 14 meses, pediu à sua mãe para fazer a viagem de férias para as Ilhas São Cristóvão e Nevis. Juntas formam o menor país da América Central.
Júlia e a mãe, passaram duas semanas, hospedadas na residência de Ben. Gostaram tanto de Nevis, que mesmo sendo bem menor do que São Cristóvão, não sentiam vontade de se afastar de seu pequeno perímetro. Não gostaria de correr o risco de turvar a impressão paradisíaca, emanada pela ilhota e seus habitantes.
As casas ficam sempre de portas abertas. Quando os moradores chegam, têm por hábito abrir o refrigerador, para ver se alguém deixou um presente. É normal um vizinho ou amigo subtrair do cardume pescado, alguns exemplares e com um bilhetinho colocar dentro da geladeira. Quando a maré não ta pra peixe, recorre-se à imaginação para ocupar o espaço gelado, que está tradicionalmente vazio aguardando a costumeira cortesia.
Assim na rua você encontra os amigos e agradece pela gentileza e esse gesto fica impregnado no seu espírito. A forma gentil de se viver nesse local, torna absolutamente inesquecível cada rosto da ilha. As pessoas se amam e demonstram isso “na boa”. O acolhimento assaz familiar, torna perplexos os estrangeiros, que alucinados, resistem em deixar o local. É difícil alguém partir sem escrever um poema, compor uma música ou urdir alguma idéia ainda que louca, para morar para sempre nesse lugar.
Não foi diferente com Júlia. Desde que Ben, veio ao Brasil, a convite dela, a candura do rapaz, a fazia tremer.
Quando Ben, estava hospedado em sua casa, no Morumbi, Júlia, adquiriu a maluquice de olhar no interior da geladeira para ver se tinha algo do rapaz para ela ou sua mãe. Coisa que o jovem jamais esquecia.
“Ben”, a vida continua. O menino foi levado ao aeroporto agora de manhã e à noite, na hora do Jornal Racional, certamente a geladeira de Ben, terá alguma lembrança dos amigos que ficaram sem ele nesses longos e infindáveis meses.
Ah! como seria bom voltar a me alegrar com uma simples geladeira. – imaginou Júlia. Tentou convencer sua mãe a adotar esse costume, mas ela, justificando a arcaicidade desse hábito não se permitiu motivar.
Duas horas depois de ter colocado Ben, no avião, a linda Júlia esta em casa, comportando-se assim:
-- Já que estou ficando doida, não custa nada falar sozinha. -- Disse Júlia. E em lágrimas continuou a falar:
-- Vou abrir essa geladeira só para lembrar do Ben. Mamãe tem razão. É inteiramente irracional, procurar outra coisa a não ser comida nesse horrível guarda-roupa de esquimó.
Quando abriu a geladeira, algo, fê-la sentir sua medula fazer companhia às lágrimas quentes, permitindo-se congelar. Num papel de alumínio, enfiado em uma torta, com caneta de CD, Ben, escreveu:
Confirme o casamento comigo, mês que vem presenteando-me agora “mesmíssimo” com o torpedo mais lindo de minha vida.
Arrepiada com as idéias glaciais de Ben, enviou esse torpedo:
Casamento confirmado. Você acaba de me degelar. Só você, Benzinho, coloca tanta Emoção na Geladeira!