SABER ENVELHECER

De certa forma à medida que avançamos em idade nos aproximamos cada vez mais, inevitavelmente, da morte. Mas não parece ser este o motivo principal que impede tantos hoje de evitarem o envelhecimento. Numa sociedade que cultua e aspira um corpo perfeito, jovem, belo e forte, o ato de envelhecer não é desejável. Ninguém em sã consciência deseja envelhecer e nem sempre vê com bons olhos as marcas que insistem em se mostrar, como canta Leo Jaime: “quando olho no espelho. Estou ficando velho e acabado”.

Por isso, o “elixir da eterna juventude” toma novas formas e roupagens. Tem sido cada vez mais recorrente a utilização de plásticas, remédios, cosméticos e o emprego de todos os recursos possíveis que possam livrar o corpo das inevitáveis e incômodas marcas do tempo, inclusive, por jovens que não querem deixar aparecer qualquer traço que aponte para um possível envelhecimento.

Mas essa resistência em aceitar o envelhecimento ou as inevitáveis leis da natureza, ao invés de prazer e alegria, acaba por se transformar, muitas vezes, em fonte geradora de desconforto, angústia e sofrimento, uma vez que a velhice é uma realidade irremediável, inevitável e incontornável. Independente de raça, cor, sexo, nacionalidade, condição social ou financeira, da velhice ninguém consegue se livrar.

É importante saber envelhecer, livre de quaisquer pressões e aproveitar a vida realizando o que de fato importa para nós e não para os outros. Daí as lindas palavras do escritor português Vergílio Ferreira, que oferecem um caminho e apontam para a importância da atenção que devemos dar ao momento presente:

“Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até a última gota de sangue. É um instante banal. Nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E, no entanto, ele é o único por ser não repetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti impregna-te dele e que ele não seja, pois, em vão no dar-se todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira a profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa eu és”.

Saber envelhecer é um aprendizado, que requer esforço, dedicação, atitude mental positiva, adaptação às mudanças, atividade física e cerebral, alimentação saudável, vida espiritual, além de convívio social saudável e, principalmente, manutenção da capacidade de sonhar e aspirar por dias melhores. Sobretudo é importante ter sempre em mente o que ensina o poeta Samuel Ullman:

“A juventude não é um período da vida. É um estado mental; não significa ter bochechas rosadas, lábios vermelhos e articulações ágeis. É uma questão de desejo, da qualidade na imaginação, no vigor das emoções. É o frescor de uma profunda primavera da vida”.

E não por acaso propõe Coelho Neto:

“Não choremos jamais a mocidade!

Envelheçamos rindo! Envelheçamos

Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória da alegria e da bondade,

Agasalhando os pássaros nos ramos”.

Robson Rodrigues da Silva