Ética e moral

Ética e moral

Por Américo Fernandes

A origem da palavra ética vem da palavra grega ethos, que significa um modo de ser, um caráter. Os romanos traduziram o grego ethos para o latim mos (ou moralidade no plural), que significa o caminho de onde vem a palavra moralidade.

Tanto ethos (caráter) quanto mos (hábito) referem-se propriamente ao comportamento humano que não é natural, não nasce com ele como um instinto, mas "adquirido ou conquistado como um hábito"

(VÁZQUEZ). Portanto, a ética e a moral estão etimologicamente relacionadas à própria realidade humana, que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas das pessoas nas sociedades onde nascem e vivem.

No nosso dia a dia não diferenciamos entre ética e moralidade, usamos essas duas palavras como sinônimos. Mas os cientistas fazem uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moralidade é definida como um conjunto de normas, princípios, regras, costumes, valores que orientam o comportamento de uma pessoa em seu grupo social. A moralidade é normativa. A ética é definida como a teoria, conhecimento ou ciência do comportamento moral que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moralidade ou moralidade da sociedade. A ética é filosófica e científica.

"Nenhum homem é uma ilha." Esta famosa frase do filósofo inglês Thomas Morus nos ajuda a compreender que a vida humana é coexistência. A vida humana vive junta. É precisamente na convivência, na vida social e comunitária que o homem se descobre e se realiza como ser moral e ético. Surgem problemas e questões morais em relação aos outros: O que devo fazer? Como se comportar em determinada situação? Como me comporto com os outros? O que fazer em caso de corrupção e injustiça?

Portanto, em nossa vida diária, encontramos constantemente situações que causam problemas morais. Trata-se dos problemas práticos e concretos da nossa vida social, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos - que exigem julgamento, consideração, julgamento de valor entre o que é considerado socialmente bom ou mau, injusto, certo ou errado . à moralidade atual. O problema é que não tendemos a pensar e procurar o “porquê” das nossas escolhas, comportamentos e valores. Agimos com base em hábitos, costumes e tradições, tentando criar uma realidade social, política, económica e cultural. Com isso, perdemos a capacidade crítica de enfrentar a realidade. Em outras palavras, geralmente não praticamos a ética porque não criticamos nem procuramos compreender e explicar a nossa realidade moral.

O Brasil tem vários exemplos do que descrevemos acima. Historicamente caracterizada por injustiças socioeconômicas, preconceitos raciais e de gênero, exploração do trabalho infantil, “jeitinho” e “lei de Gerson”, etc., a realidade do Brasil nos traz problemas éticos gravíssimos. No entanto, já estamos demasiado habituados a todo tipo de miséria. Naturalizamos a injustiça e consideramos normal que mansões e barracos, crianças e mendigos de rua convivam lado a lado; Achamos que é inteligente tirar vantagem de tudo e tendemos a considerar qualquer um que tente ser honesto como um idiota.

Em nossa história recente não faltam exemplos da vida pública: "gnomos orçamentários", acusação do presidente de corrupção, compra de deputados para reeleição, drogas, máfia do crime organizado, desvio de verbas dos mais variados setores, etc. Não é à toa que falamos de crise ética, porque tal realidade não pode ser reduzida apenas à esfera político-económica. Inclui questões de valor, coexistência, consciência e justiça. Envolve vidas humanas. Quando a vida humana está em jogo, surge inevitavelmente um problema ético. O homem, como ser ético, vê o próximo e não lhe é indiferente. O apelo dos outros para mim é tratá-los como pessoas, não como objetos ou animais. Nesse sentido, a ética condena toda realidade em que uma pessoa é objetificada e animalizada, ou seja, onde uma determinada pessoa não é respeitada em suas condições humanas.

AD, 26/5/2024.