Angústia como estado único

Angústia é parcela integrante do caráter constitu-tivo de nossa existência. Ela não é algo a ser evitado. Não é algo a ser medido, não é algo de que temos de comba-ter. Em contraponto, configura-se num caminho que nos coloca face a face com o nosso Eu íntimo, diante de nos-sas próprias condições absolutamente únicas e singulares. Angústia é aquilo que não é marcado por um objeto parti-cular. Ela é a união de fatores preponderantes e edifica-dos à miúde.

Ela é diferente do medo e da tristeza, é diferente do desespero e do rancor. Angústia é um estado disposto no nosso organismo que nos coloca em uma ocorrência de profundo mal-estar; contudo, não pode ser lançada ao nada de modo subjetivo ou despretensioso. Ela não se configura em um objeto concreto ou palpável. De modo preciso, a angústia nos mostra o possível do possível; em outras palavras, ela não se volta a nós em uma relação com o nosso Eu essencial. São nossas possibilidades úni-cas, não as expectativas que são depositadas sobre nós.

Em tom mais severo, a dimensão da angústia é mensurada por precisões em relação ao que se trata de aspectos ásperos e dissociados. Ilustrando: é um instante justamente preciso em que sua resistência no aqui e agora da sua vida se decide se você tem uma relação de auten-ticidade consigo mesmo ou você está de modo disposto, que o afasta do seu Eu íntimo. Em suma, você encontra-se meramente desempenhando papéis de expectativas impostas e, de tal modo, experimenta essa vivência em dado instante do processo de angústia, o qual se instau-rou no seu íntimo. O dado instante pode configurar-se em plenitude de sentimento (estando você em processo de distanciamento do que o aflige) ou traz consigo a desper-sonalização de suas ações frente à angústia.

Uma questão essencial na ocorrência da angústia enquanto mal-estar constante e recorrente, é a problemáti-ca da repetição dos sintomas. Dependendo da maneira como você vive a repetição, ela irá surgir como uma mal-dição. Isso é, a priori, a prova de que você é um mero espectador dos poderes naturais, do que é história, ou até mesmo da repetição das coisas em si.

Pode ser que você venha possuir a oportunidade de tomar para si, efetivamente, consciência de que você é uma força singular da natureza e não o que a sociedade impôs como um “tomar posse de si mesmo”, perspectiva-mente gravado como fonte de repetição.

Essa repetição é um paradoxo que apresenta a profundidade da ironia de que o tornará a ser, o tornar a acontecer não é algo que nos inflige a repetir ocorrências passadas, entretanto, faz-nos abrir a vida para uma pers-pectiva de futuro. Em outro tom, retomar a posse do nos-so Eu íntimo, fazer da angústia um obstáculo mais suave a ser vencido. É a recuperação de nossa autenticidade enquanto seres únicos e ao mesmo tempo plurais. É nossa redenção…

Gimi Ramos
Enviado por Gimi Ramos em 18/05/2024
Código do texto: T8066023
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