As Lacunas Na História Do Brasil

Eric do Vale

A verdade absoluta é algo inexistente. A História está aí para confirmar essa afirmação: sempre haverá dois, ou mais, lados que defenderão pontos de vistas opostos. E partindo desse pressuposto, pergunta-se: qual é a História do nosso país? Tudo o que remete a trajetória do Brasil resume-se a meias verdades e, quem sabe, até inverdades.

Um exemplo disso: a história da escravidão. O que sabemos é algo extremamente vago e que se resume apenas a Lei Áurea. Assim, aprendemos, desde cedo, nas escolas que quando a princesa Isabel assinou essa legislação, "findou a escravidão do Brasil". A forma como isso nos é transmitido colocaria no chinelo qualquer conto da carochinha! E depois disso? Alguém sabe o que aconteceu? Como esses negros passaram a viver, logo após serem abolidos? Conseguiram algum emprego?

Fala-se muito na princesa Isabel e, especialmente, esse seu feitio em prol da abolição da escravatura, na medida em que Zumbi dos Palmares é colocado de escanteio juntamente com aqueles que lutaram pelo fim da escravidão, antes mesmo do advento da Lei Áurea.

Um assunto pelo qual, atualmente, vem adquirindo notoriedade diz respeito a um projeto de Lei para incluir João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no Livro (Panteão) dos Heróis Nacionais até que um comandante da Marinha tornar público o seu descontentamento, classificando todos aqueles que aderiram ao motim liderado pelo Almirante Negro, como ficou conhecido João Cândido, como “abjetos marinheiros". E que, segundo esse comandante, desrespeitaram a disciplina e hierárquica militar, utilizando equipamentos da corporação a fim de "chantagear a nação".

Qualquer pessoa que tenha algum conhecimento desse levante, ainda que dê forma vaga, ficaria abismada, ao saber que, no começo do século XX, a Marinha brasileira utilizava castigos físicos como forma de punir os marujos que violavam as regras da corporação. Vale frisar que esse tipo de punição se restringia apenas aos oficiais de baixa patente. Sendo esses, na grande maioria, ocupados por negros e mestiços.

Diante desse exposto, percebe-se que não é de hoje que o Brasil se classifica como um país paradoxal, pois torna-se inimaginável que, passados mais de dez anos da abolição da escravatura, os marinheiros de origem negra fossem sujeitados a condições degradantes, como foi o caso de serem punidos mediante a chibatadas.

Esses apontamentos permitem com que analisemos o completo descaso que muitos de nós, brasileiros, possuímos em relação a História do nosso país. Seja pela falta de conhecimento de certos episódios que constituem a trajetória do Brasil ou mediante pensamentos como o desse militar a respeito da Revolta da Chibata.