O vazio como sintoma e solução para um novo Homem
E de repente o nada. O vazio como expressão absoluta do inexistente, do não ser. O vazio como outra possibilidade, talvez, a do vir a ser. Mas...vir a ser o quê? Vir a ser outra coisa que anula o inexistente, e tão somente isso? Será, então, a possibilidade do vir a ser que inaugura um outro modo de existir, que capacita um novo, e até, já velho e ultrapassado olhar, sobre o outro que se anulara no instante que se o colocou na gaveta do inexistente, do não visto? E o que será, então, essa outra maneira de se chegar ao existente como um contraponto ao inexistente, ao vazio, senão a reinauguração de uma outra visão, outrora autenticadora de uma existência que se perdeu no vazio cognitivo e, quiçá, ontológico? Advém, então, desse vazio ontológico, a ausência de uma vontade de existir, de se fazer sujeito num mundo atomizado e propagador de individulismos como um novo modo de existir? Mas se assim é, se assim está, o que esperar, então, de um novo De Vir como resposta possível desse vazio mundo. Note, vazio mundo, não vazio do mundo. Com vazio mundo proponho tratar -se de "existir" como se flutuando. Como se nada houvesse como algo possível de referência, como se estivesse em estado de completa ausência de gravidade, ou seja, como se não estivesse em nossa órbita. Ao contrário, vazio do mundo, se insere num contexto de estar nesse mundo, sujeito às suas leis (leis naturais, gravidade, por exemplo), não às leis ordenativas da vida cotidiana. Vazio do mundo se refere a não se sentir inserido no mundo material e espiritual presente. O sujeito não se reconhece, embora esteja, subordinado às leis desse mundo.
Ora, pois, o que pode a psicanálise explicar a partir da colocação "e de repente o nada"
Terá a psicanálise algo a se dizer quando se defronta com algo tão final, tão cerrado, tão peremptório, que parece não ser possível qualquer tentativa de resposta?
E de repente o nada como um chamado, uma inadiável convocação para que do nada se possa extrair algo, para que o vazio mundo, como sintoma de algo que deixa suspenso, algo ainda por vir, e que, por isso mesmo, ignorado, possa possibilitar um mínimo de compreensão. Nesse sentido, se espera da psicanálise, instituída de ferramentas que permitem acessar áreas ou zonas da psiquê, atravéz do despojamento julgador do espírito, para, talvez, chegar ao entendimento desse estado de suspensão e buscar acessar as razões desse vazio mundo. Ou seja, apostar na psicanálise como veículo possível de acesso às sensações, será a garantia, ou a possibilidade de garantia, de que não há nada na psiquê humana que não possa ser acessado, que não possa ser conhecido. Todavia, "acessar" a psiquê humana não significa dizer que o profissional lance mão de metologia que lhe permite "entrar" na mente do paciente. O método psicanalítico, para ser efetivo e, eticamente, válido, não pode ser invasivo, nem, tampouco, enunciador de comportamento. O método analítico tem como ferramental a capacidade de análise do profissional em olhar as associações trazidas pelo analisando/paciente. Mas pode a psicanálise possibilitar respostas a ess Vazio mundo, a causa dessa suspensão, desse não sentir -se parte, mas o contrário, sentir -se fora, ausente, sentir -se estrangeiro num espaço em que deveria ser de todos? E se pode, qual será? Penso a psicanálise como um meio, um caminho possível de se relacionar com as demandas do mundo, não como um fim que responde a tudo. Por fim, será esse Vazio Mundo a predominância de uma sensação de fracasso, de vencido, num mundo em que se enaltece o "herói" como a medida de todas as coisas? O que se dirá daquele que opta por reclusão, quer dizer, que escolhe apartar -se dessa permanente passarela que se transformou a vida e as relações que lhe dão sentido? Vivemos como se estivéssemos o tempo todo defronte ao espelho. O espelho não mais como o objeto que reflete nossa imagem. O espelho como referência a partir do olhar do outro, ou seja, se existe não mais porque se tem uma individualidade, uma razão própria de existir. Se existe porque o outro existe e é a partir dele, da avaliação que tem mim, que existo. Existo para o outro numa relação que não é mais dialógica; é uma relação de subordinação, de avaliação. É nisso que consiste o Vazio Mundo: o sujeito não é mais o que é, está suspenso, está noutro patamar que não se vê no mundo.
E daí, quiçá, poderá, ao valer -se dessa condição, da, e na qual, não tem consciência de imediato, o sujeito (que já nem se vê como sujeito), ao se deparar com esse Vazio Mundo, e tomado dessa consciência, poderá voltar à vida como uma nova possibilidade, com novas ressignifi ações. Será o nascimento de um novo Homem, uma nova humanidade, sem sobressaltos e inquietações.