LIBERDADE DEMOCRÁTICA
Meio século mais uma década é realmente muito tempo, mas quando se fala em lembranças e recordações, parece que foi ontem. Eu tinha 17 anos de juventude e sonhos, e nesta idade quase todo mundo é poeta e feliz. Passei a infância e a juventude na Freguesia do Ó, bairro que ostenta o título de ser o mais velho de São Paulo e que foi eternizado por Gilberto Gil na música “Punk da Periferia”. Por isso, muito antes dos Racionais eu já sabia, que “Da Ponte pra Cá”, a coisa é diferente.
Freguesia do Ó um distrito que se localiza na zona noroeste de São Paulo e servia de passagem entre a cidade e a região de Jundiaí e Campinas é hoje conhecido por abrigar diversas escolas de samba. Abriga também a primeira igreja matriz que foi construída por Manuel Preto que era praticante das indulgências, por isso os padres se comprometeram a rezarem cinco missas anuais em prol da salvação da sua alma .
Manuel Preto foi um bandeirante paulista, nascido na segunda metade do século XVI e falecido em São Paulo em 1630. Era filho de António Preto, juiz da câmara que veio na armada de Diogo Flores de Valdés em 1582, e devido a sua importância ganhou do rei de Portugal aquela sesmaria. Manuel era irmão de Sebastião Preto, tendo casado com Águeda Rodrigues, filha do português Gonçalo Madeira e de Clara Parente. Era um dos quatro herdeiros, e herdou dos pais parte daquela imensa gleba de terras a noroeste do centro da vila, que daria origem ao atual bairro da Freguesia do Ó.
Antífonas maiores são pequenos refrões para serem cantados na Oração da Tarde, são aclamações a Cristo precedidas pelo vocativo “Ó”, assim o povo passou a denominar esta solenidade religiosa de louvação na igreja, como Nossa Senhora do Ó.
Pelo radio de pilha, ali no Ó da periferia, em 1964 eu ouvia a recomendação que era melhor ficar longe da região central da cidade, que estava convulsionada com passeatas, e exército nas ruas. O Golpe Militar de 1964 foi resultado de uma conspiração realizada por grupos conservadores da sociedade brasileira e deu início ao período da Ditadura Militar no Brasil aquela que durou 21 anos chamados de anos de Chumbo, e que algumas pessoas juram de pés juntos que ela nunca existiu.
O nome que se dá à articulação golpista que, entre 31 de março e 9 de abril de 1964, realizou a tomada de poder, subvertendo a ordem existente no país e dando início à Ditadura Militar, regime ditatorial que se estendeu no Brasil de 1964 até 1985, é Golpe Civil-Militar de 1964, e se caracterizou por censura, sequestros e execuções cometidas por agentes do governo brasileiro.
As Reformas de Base foram as causadoras da rachadura ideológica entre direita e esquerda, a conspiração em curso contra o governo de João Goulart foi resultado do temor de grupos conservadores com a ascensão dos movimentos sociais, como os movimentos de camponeses, operários e estudante, e temia-se que o Brasil viesse a se tornar um país comunista como a China, ou Cuba.
Há não muito tempo, no Governo Bolsonaro, sob a mesma alegação, só que agora o medo era o Brasil se tornar uma Venezuela, houve uma tentativa de golpe com conservadores auto denominados patriotas, pedindo nas ruas a volta da ditadura militar , que mais uma vez, também agora, tem gente que jura que a tentativa de golpe nunca existiu. O dia 31 de Março deve sim ser lembrado como marco da volta a liberdade democrática.