O negro na tv: uma pequena relfexão.
O negro na Televisão
Sabemos que o papel do negro do Brasil tem de ser revisto e mudado, a fim de desmistificar preconceitos historicamente arraigados sobre sua imagem. Existe um imaginário popular que representa o negro estereotipado, com adjetivos diminutivos e vulgares, como quando ao se referir à sua honestidade e confiabilidade. Tais adjetivos negativos não condizem com a atual visão revisada e mais atual que propõe a História Nova. Ainda assim, tal visão preconceituosa continua sendo propagada nos dias de hoje.
Uma das razões dessa visão continuar sendo perpetuada atualmente deve-se muito aos veículos de comunicação em massa, especialmente falando a televisão, sendo mais especifico a Rede Globo de Televisão, emissora nacional que se orgulha internacionalmente de cobrir 99,5 por cento do território brasileiro.
Trata-se de um ‘[...] desinteresse histórico da elite brasileira em formar um mercado consumidor amplo e a preferência pela imigração da mão-de-obra européia no período final da escravidão [...]’(ARAUJO, p-77) e que ainda se reflete:
‘[...] na atitude de empresários, publicitários e produtores de TV, na escolha de modelos publicitários, na estética da propaganda e nas dificuldades de apoio financeiro e de incentivo cultural aos programas de TV voltados para a população afro brasileira. [...]’ (ARAUJO, p-77).
O empresário parece não acreditar que o negro seja uma força econômica. Ele o vê através de uma simples lógica: preto é sinônimo de pobre e pobre é sinônimo de consumo de subsistência, falando-se em termos econômicos, não participando do que se denomina “consumo do status social”, justamente porque sua posição histórica o colocou fora dessa perspectiva..
A televisão torna-se o maior cúmplice na construção de um imaginário social depreciativo contra os negros ao forjar opiniões e padrões de comportamento, principalmente nestes nossos dias atuais, em que vivemos o que é conceituado pós-modernidade, no qual as relações virtuais assumem grande papel em nossas relações sociais.
Para exemplificar tomaremos o caso em que a Rede Globo, por meio de uma de suas afiliadas, noticia o caso da comunidade quilombola contra grandes fazendeiros de terra.
É preciso, antes de tudo, ter a consciência de que, quem faz um jornal televisivo, faz com o intuito de vender mais noticiários, e sem “pisar nos calos” de nenhuma pessoa influente (a menos que seja ainda mais lucrativo, ou que vá de encontro com seus interesses). Daí tira-se a conclusão de que o fato ocorrido não importa tanto quanto as formas de se noticiar esse fato, tornando-o mais atraente.
Voltando ao caso:
“[...] os quilombolas criticam a cobertura realizada pela Rede Globo a respeito dos processos de regularização das terras reivindicadas pelos afro-descendentes. Segundo uma das coordenadoras da Conaq[...] nos últimos meses, o Jornal Nacional veiculou matérias distorcidas e entrevistas manipuladas.(NUNES,2007,p.18)
A Rede Globo respondeu:
[...] em nota sobre o caso, a emissora reafirmou as denuncias de fraude nos processos de regularização e disse que elas estão baseadas em apurações corretas feitas pelos jornalistas da empresa.As comunidades quilombolas pediram direito de resposta, mas até o momento não haviam sido atendidas. .(NUNES,2007,p.18).
Clédis Sousa, líder da Conaq e quilombola da comunidade Rincão dos Martinianos(RS), reclama que:
[..] As reportagens não mostram a razão histórica do pleito quilombola. Para nos deslegitimar, entrevistaram peões dos fazendeiros que, apesar de serem quilombolas, negam essa condição por que sofrem ameaças. Entrevistas feitas com quem não tem ligação com os fazendeiro não vão ao ar.[...] .(NUNES,2007,p.18).
A comunidade Quilombola procurou se organizar e promover debates para desmistificar a imagem passada pela Rede Globo de Televisão, mas fica a pergunta: qual a área de influência dessa comunidade no território nacional? Eles poderão atingir todas as pessoas que assistiram a reportagem e comunicar seu direito de resposta negado pela emissora?
Com certeza, muitas das pessoas que estavam em casa apreciando seu jantar, apenas olharam para a televisão e pensarão: “bando de pretinhos safados” e continuaram a comer, como se nada tivesse acontecido. Apenas um lado distorcido da história pode ser ouvido, o “outro” será para sempre emudecido para a grande maioria da população, reforçando o preconceito existente e dissimulado da maioria dos brasileiros.
A promoção da auto-estima ainda é uma das ações fundamentais para qualquer liderança anti-racista, contudo, deve-se ter a consciência de que a televisão se tornou a maior cúmplice na disseminação de preconceitos e o pior, não só contra negros, mas contra todo tipo de minoria ou excluso social.
É preciso ter essa consciência e compartilhar para a grande massa os perigos de se ter um meio de comunicação que atinge tantos lares e é controlado por uma elite minoritária que acima de tudo, pensa apenas em proteger seus interesses.
Referências
ARAUJO, Identidade racial e estereótipos sobre o negro na TV brasileira.
NUNES, Juliana Cezar, Revista Fórum, Setembro de 2007..