O SIGNIFICADO DO NATAL NA INFÂNCIA
Os períodos natalinos sempre nos trazem à lembrança momentos marcantes na nossa vida. Sem dúvida é na nossa infância que ficam as marcas mais significativas desta fase da nossa jornada, passagens essas que, todos os anos retornam ao pensamento, fazendo-nos reviver aqueles momentos, alguns felizes, outros nem tanto, mas que continuam a povoar o nosso consciente e a influenciar o nosso estado de espírito nesta especial fase do ano.
Para quem é cristão e católico, como a maioria do povo brasileiro, é sempre um período de contemplação, de reflexão e de esperança de dias melhores, reveladas na figura de Cristo menino, no seu berço em Nazaré, figuração que nos traz a expectativa de uma nova vida pela frente, a começar no Ano Novo que está para chegar e que o olhar para o Deus menino fica entusiasmado por tudo o que o futuro poderá lhe revelar, simbolizados pelo alvorecer dessa nova vida e o florescer de oportunidades.
Na minha infância vivi fases bem distintas: até aos sete anos, na minha cidade do Porto, onde nasci e onde conheci as primeiras revelações do Natal, passando a valorizar tais momentos pela expectativa dos presentes, colocados sorrateiramente na meia colocada estrategicamente em cima da lareira na casa de meus avós, em Vila Nova de Gaia. A família de meu pai (e que era muito grande) se reunia em volta de uma enorme mesa (que naquela ocasião me parecia bem maior) com a minha saudosa avó na cabeceira (que na época já era viúva), oportunidade na qual se festejava aquela data, com uma ceia de Natal onde não faltavam os assados e o indispensável bacalhau cozido à portuguesa, ao qual se seguiam inúmeras sobremesas com as quais nos deliciávamos constituídas de frutas, de doces, onde pontificavam as frutas cristalizadas, as nozes, as avelãs, os figos, as passas, onde também não faltava a aletria, as rabanadas e as castanhas, tudo isso acompanhado dos vinhos (isso só para os adultos) e dos sucos e dos refrigerantes, deixando-nos (as crianças) envolvidos naquele ambiente familiar e acolhedor e que continuava no dia seguinte com o cabrito e o perú assados e seus acompanhamentos. Sempre acompanhados pela troca de impressões entre os participantes e onde não faltavam lembranças de outros Natais e das pessoas que ali já não estavam, ou porque não tinham podido vir, ou porque tinham emigrado, ou mesmo por já terem falecido. Eram momentos de encanto e de emoção e que eram aguardados por todos, durante o decorrer do ano, para ali serem vividos com todo o entusiasmo e fervor. Lembro, claramente, que a minha mãe tinha que fazer um esforço todo especial para me fazer dormir, tal era a ânsia de saber o que o Pai Natal iria trazer após a meia noite e, logo nas primeiras horas do dia seguinte, o dia de Natal, eu acordava, pedindo à minha mãe para me levar até à lareira para descobrir o que o bom velhinho teria deixado.
Posteriormente, embora trasladado para o Rio de Janeiro, para onde meus pais emigraram (isto há 54 anos), as tradições a que me tínha acostumado desde essa tenra idade, continuaram a fluir e passamos a nos encontrar na casa de minha tia Rosa, no bairro de Rio Comprido, onde ela fazia questão de reviver as tradições e o ambiente familiares a que estávamos acostumados desde Oliveira do Douro. O tempo foi passando e as pessoas mais velhas foram nos deixando, outros novos membros da família foram chegando, mas eu continuo a exercitar a minha memória e a relembrar os momentos tão felizes e significativos que a infância me deixou nessas comemorações natalinas, procurando transmitir a meus filhos, à minha neta, aos sobrinhos e aos meus familiares, esta tradição tão cristã e portuguesa, fazendo reunir na minha casa todos eles, na expectativa de que as crianças de hoje possam vir a ter os momentos de felicidade e de encanto que eu pude usufruir naqueles Natais da minha infância e que me marcaram definitivamente por toda a vida. O Natal é, sem sombra de dúvida, uma festa de amor, de compreensão e de paz, sentimentos que devemos preservar e que as crianças conseguem nos transmitir melhor do que ninguém. Que as alegrias do Natal repercutam por todo o ano de 2008, trazendo a todos os emigrantes portugueses muito progresso, reconhecimento público da sua importância, valorização e desenvolvimento social. Feliz Ano Novo!
Eduardo Artur Neves Moreira
Vice-Presidente da Academia Luso-Brasileira de Letras