I SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO - PALESTRA SOBRE O TEMA A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
A leitura e a escrita estão entre os temas mais debatidos e pesquisados na atualidade. Essa preocupação se origina de uma longa história, de um longo processo de descaminhos no ensino da língua portuguesa.
Houve um período de intolerância e de crença no purismo, uma espécie de arianismo lingüístico, pode-se dizer assim. Gerações e gerações se formaram sob a égide do preconceito, da discriminação e do constrangimento. Como resultado, as pessoas passaram a se intimidar, a se afastar, evitar e até entram em pânico quando expostas a situações da comunicação oral ou escrita.
A língua reflete o espírito e a cultura de um povo. Por isto mesmo não poderia estacionar no tempo e no espaço. Não se quer dizer que se ignore, abandone ou desrespeite o passado, as origens. As mais importantes manifestações artístico-culturais da humanidade são preservadas em museus. A língua também deve ter organizado o seu museu onde se possa pesquisar e admirar suas obras.
Há um tímido e hesitante ensaio social para a aceitação da língua em todas as suas manifestações e variações.
Muitos só compreendem a duras penas que criticar uma pessoa pela sua maneira de falar e de escrever é o mesmo que criticá-lo por ser gordo, magro, deficiente; de uma cor de pele ou de outra. Outros, entretanto, continuam teimosamente tentando padronizar a língua, assim como se faz com as garagens de um condomínio. “... mas com gente é diferente”.
Outro ponto a ser considerado é o ensino da norma gramatical, na verdade, inúmeras vezes, o “avesso do avesso” da língua. Por favor, não venha lançar aqui a ira dos fiéis seguidores da gramática. A gramática é necessária, mas seja colocada no seu devido lugar. O lugar da língua é o primeiro.
Naturalmente, um casal de namorados não trocará juras de amor, de paixão usando a linguagem científica. Também não se produzirá um texto científico usando a linguagem popular/regional. Se a pesquisa científica, entretanto, discorre sobre a linguagem popular, esta pontuará o texto, obviamente.
Portanto, insistindo, cada coisa no seu lugar, tal qual no dito popular: “cada panela com o seu texto e cada macaco no seu galho”.
Elabora-se o texto científico utilizando a forma oficial da linguagem padrão. Fazem parte dele palavras e expressões próprias da área focalizada. Nem sempre essas palavras e expressões estão listadas em dicionários.
Quando se faz a leitura de teóricos da educação, como Paulo Freire, por exemplo, encontra-se formação de palavras por diversos processos, inclusive neologismos. Existem dicionários específicos e especializados em determinadas áreas para auxiliar na compreensão e interpretação de textos.
A linguagem do texto científico deve primar pela objetividade, pela clareza, coerência e coesão. No melhor dos sentidos, precisa alcançar o alvo com exatidão, como as modernas armas de guerra.
Nos anos 70, o curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe solicitava aos seus formandos a apresentação da chamada Grande Pesquisa. Àquela época não havia o cinto de castidade das normas. Pelo menos, não se cobrava dos pesquisadores iniciantes.
Hoje estão disseminadas no meio acadêmico as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Essas normas regem a estruturação do trabalho científico (projetos de pesquisa, resumos, fichamentos, monografias, etc.).
O manual da ABNT tem recebido versões em algumas faculdades. Os compêndios sobre a metodologia do trabalho científico, sem a devida orientação de mestres, têm causado alguns transtornos à vida dos acadêmicos. E até a dos professores, emaranhados em um festival de normas e exigências para a digitação.
A desorientação é grande. Chega a causar a impressão que a forma vale mais do que o conteúdo, a digitação mais que a teorização e todas estas coisas mais que a linguagem.
No tocante à elaboração de monografias, pré-requisito fundamental para a graduação, cumpre frisar algumas ocorrências:
• Falta de planejamento;
• Preocupação centrada na forma: n° de linhas, n° de páginas, colocação puramente decorativa de notas de rodapé e anexos, etc;
• Definição de objetivos em função da variação/alternância de verbos;
• Partes textuais desconexas;
• Justificativa incoerente;
• Citações avulsas, desconectadas do tema;
• Orações, períodos, parágrafos mal estruturados, vagos;
• Bibliografia insuficiente e de qualidade questionável;
• Falta de orientação para a seleção da bibliografia;
• Indisponibilidade de fontes de consulta;
• Conclusões difusas e não-convincentes;
• Pobreza de estilo;
• Sensação de que aquele texto monográfico é um desperdício de tempo, dinheiro, papel, e de que se não existisse não faria falta;
• Supervalorização da leitura do manual em detrimento da leitura das fontes de pesquisa.
Afora este quadro, frise-se, inclusive, o estado emocional de universitários estressados e procurando de qualquer forma solucionar o problema para conseguirem concluir seus estudos.
O leitor, por certo, poderá perguntar: Como resolver a situação? Quais as sugestões? Quais as soluções? Perguntas simples que remetem a respostas complexas.
Antes de começar o seu trabalho de pesquisa reflita sobre o seguinte:
• Trata-se de uma pesquisa e não apenas de um trabalho de digitação;
• É impossível fazer monografia sem a leitura de fontes específicas;
• A variação lingüística que é usada na elaboração de uma monografia é a padrão/oficial regida pela gramática normativa;
• Não tema escrever. Há especialistas em correção gramatical;
• Antes de começar o seu texto defina o tema, delimite-o e trace o plano/roteiro da pesquisa com a ajuda do professor orientador;
• Procure utilizar palavras e expressões íntimas da sua área;
• Organize o material necessário ao seu trabalho;
• Estipule um horário de trabalho;
• Quando iniciar a elaboração de seu texto, declare também uma “perseguição” ao tema;
• Leia e releia incansavelmente a sua produção textual, etapa por etapa;
• Mantenha um nível alto de exigência quanto à seleção da bibliografia e às fontes eletrônicas;
• Selecione as citações sempre em função da temática;
• Não esqueça: a atriz principal é a língua. A norma exerce papel de coadjuvante.
I SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO
DIRETÓRIO ACADÊMICO LIVRE DOS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO
ACARAÚ – UVA/SE
TEMA DO SEMINÁRIO: O PAPEL DA EDUCAÇÃO EM TEMPO DE CONFLITO
Nossa Senhora da Glória/SE – 04/05/2003