O poder da garra, determinação e resiliência para alcançar o sucesso
O Poder da Garra, Determinação e Resiliência para Alcançar o Sucesso
No percurso rumo ao sucesso, encontramos desafios e obstáculos que podem parecer insuperáveis. Contudo, aqueles que possuem garra, determinação e resiliência têm uma vantagem significativa. Enquanto alguns acreditam que talento e inteligência são suficientes, outros reconhecem a importância dessas qualidades nessa jornada. Em resumo, essas qualidades são fundamentais para enfrentar os desafios e trilhar o caminho do sucesso. É sobre isso que iremos refletir.
A vontade de não desistir e manter a motivação mesmo diante das adversidades é o que chamamos de “garra”. É a qualidade interna que impulsiona as pessoas a trabalharem incansavelmente em direção a seus objetivos, independentemente dos desafios que possam enfrentar.
A determinação é a força interior que impulsiona as pessoas a persistirem diante de obstáculos, adotando uma mentalidade focada e comprometida. É a capacidade de estabelecer metas claras e agir de forma persistente para alcançá-las.
Já a resiliência, é a habilidade que permite se recuperar rapidamente de fracassos, rejeições ou situações adversas. É a capacidade de se adaptar e aprender com as experiências negativas, transformando-as em oportunidades de crescimento e desenvolvimento.
Convido cada pessoa a refletir sobre sua jornada pessoal, os desafios que já enfrentou na vida e como os superou. A análise de nossas próprias experiências e a comparação com as vivências de outras pessoas são sempre valiosas. Portanto, vamos explorar histórias de indivíduos que alcançaram o sucesso.
Há inúmeros exemplos na história de celebridades que, na infância, eram consideradas medíocres do ponto de vista da inteligência, mas alcançaram o sucesso devido à combinação dos atributos de garra, determinação e resiliência. Vamos recordar alguns desses indivíduos que são um testemunho vivo de como a força de vontade e a resiliência podem superar as limitações convencionais e abrir caminhos para o sucesso.
Albert Einstein, cientista do século XX, foi descrito por um professor como mentalmente lento, pouco sociável e sempre perdido em seus sonhos. Louis Pasteur, renomado cientista com importantes descobertas sobre as causas e prevenções de doenças, foi considerado "medíocre" em química ao concluir sua graduação em 1842. Henry Ford, conhecido como o pai da indústria automobilística, recebeu críticas de pessoas que afirmavam que os cavalos jamais seriam substituídos por máquinas.
No entanto, o que podemos dizer sobre as pessoas que tinham um QI acima da média desde a infância? Será que um alto QI garantiu a elas sucesso na vida adulta?
Lewis Terman, professor de Psicologia da Universidade de Stanford, desenvolveu o teste Stanford-Binet para medir o QI e, a partir de 1921, começou a estudar os superdotados. Com recursos da Commonwealth Foundation, ele formou uma equipe e pesquisou crianças superdotadas em escolas da Califórnia. Cerca de 250 mil alunos do ensino fundamental e médio foram testados, e 1470 foram selecionados por terem QI superior a 140. Alguns jovens gênios atingiram uma pontuação de 200 no teste. Terman acompanhou esses gênios ao longo dos anos, observando, testando, medindo e analisando suas realizações acadêmicas, casamentos, doenças, saúde psicológica e tudo mais sobre suas vidas era registrado e interpretado. O pesquisador esperava que esses gênios se destacassem como líderes na promoção da ciência, arte, política e bem-estar social em geral. No entanto, nem todos os gênios alcançaram o sucesso desejado, alguns terminaram a vida como pessoas comuns, apesar de manterem certo brilhantismo. Isso nos faz refletir sobre até que ponto a inteligência supera outras características que podem ser desenvolvidas, como a determinação ou, como alguns chamam, a força de vontade.
O escritor e assessor de imprensa luso-brasileiro Fabiano de Abreu é membro da Mensa, uma associação para pessoas com alto QI. Para ser admitido na Mensa, é necessário estar entre os 2% com o maior QI, o que significa estar no topo. Fabiano tem um percentil de 99%, o que o coloca entre os 1% mais inteligentes do mundo, com um QI acima de 180 na escala antiga de medição. Isso supera a pontuação de Steve Jobs (140 pontos), Bill Gates (162 pontos) e Albert Einstein (160 pontos).
O alto QI de Fabiano certamente desempenhou um papel importante em sua conquista do sucesso e posição de destaque em sua carreira. No entanto, ele próprio relata que enfrentou vários desafios ao longo de sua vida. Na infância, teve dificuldades em se relacionar socialmente, preferindo observar ao invés de interagir com as pessoas. Sentia vergonha, era introvertido e preocupava-se com a imagem que os outros tinham dele. Isso o levava a buscar conforto em seu próprio mundo. A biografia de Fabiano de Abreu demonstra uma trajetória marcada por dedicação, determinação e uma inteligência brilhante. Em determinado momento de sua vida, após a crise de 2008, ele enfrentou uma queda significativa e teve que recomeçar do zero. Poucas pessoas, mesmo com alta inteligência, são capazes de recomeçar dessa forma.
Em uma entrevista publicada pela MF Press Global em 29/04/2019, Fabiano afirma: "Quando eu ponho uma meta na cabeça eu não desisto daquilo, eu vou até as últimas consequências". Quando questionado sobre como ele lida com pessoas que têm um QI mais baixo que o seu, ele responde que não se sente superior a elas, mas que prefere se afastar daqueles que são preguiçosos em aprender ou buscar aperfeiçoamento.
Considerando minha experiência como educadora, durante a década de 1990, quando comecei a lecionar para o público da educação de jovens e adultos, já pude perceber o quanto o empenho e a dedicação dos alunos influenciam de maneira positiva em seu desempenho acadêmico. Para melhor compreensão, gostaria de fornecer um breve contexto sobre essa experiência.
No Brasil, pela primeira vez em sua história, o artigo 208 da Constituição, promulgada em outubro de 1988, conferiu o direito à educação fundamental para a população jovem e adulta, tornando os poderes públicos responsáveis por oferecer esse nível de ensino de forma universal e gratuita àqueles que não tiveram acesso e progressão na infância e adolescência.
A década de 1990 marcou os esforços de países e organizações de cooperação internacional que participaram da Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jontiem, Tailândia, em março de 1990. O objetivo era atender às necessidades básicas de aprendizagem de crianças, jovens e adultos. Uma das metas estabelecidas na época era ampliar os serviços de educação básica e capacitação para pessoas jovens e adultas.
Durante o período em questão, houve uma desaceleração do crescimento econômico que afetou seriamente o país. Isso resultou no aumento do desemprego, do trabalho informal e autônomo. Além disso, a década de 80 marcou o início do uso generalizado das tecnologias da informação, o que exigiu uma maior qualificação da mão de obra e uma busca por melhorias na qualidade dos produtos, otimização dos processos de produção e aumento do valor agregado.
As diversas crises econômicas das décadas de 80 e 90 e as novas demandas do mercado de trabalho, impulsionadas principalmente pelo avanço tecnológico, afetaram profundamente os profissionais. Foi nesse contexto que, entre 1993 e 1998, comecei a lecionar para adultos trabalhadores que não haviam concluído o Ensino Fundamental e Médio. As aulas eram realizadas nas sedes das empresas, em parceria com instituições de ensino credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC). O programa de ensino para jovens e adultos tinha a duração de dois anos em cada nível, com aulas presenciais diárias, sistema de avaliação e certificação.
Trabalhei em cerca de vinte empresas no estado de São Paulo, em diversos setores como metalurgia, papel e papelão, transporte, têxtil, alimentício, entre outros. Em cada uma dessas empresas, havia alunos na faixa etária de 30 a 65 anos que ainda não haviam concluído a educação básica e precisavam alcançar esse objetivo para manterem seus empregos.
Nessa época, iniciei minha pós-graduação em Psicopedagogia e comecei a estudar as teorias de aprendizagem e sua aplicação aos jovens e adultos trabalhadores. Acompanhei de perto como a força de vontade, ou garra, poderia levar ao sucesso no curso.
Esses alunos enfrentavam uma rotina de trabalho árdua nas linhas de produção das fábricas e, às vezes, eu era convidada a observá-los durante o expediente. Minha admiração e respeito por eles só aumentavam, pois eu conseguia imaginar o quão desgastante era o trabalho em um ambiente quente, fechado, com máquinas em pleno funcionamento e exigindo total atenção e produtividade. E ainda assim, depois de um turno de trabalho exaustivo, eles tinham a garra necessária para enfrentar a jornada extra de estudos.
Durante o primeiro mês de aulas, deparei-me com o problema de evasão escolar, que se intensificou após o primeiro semestre, devido aos resultados insatisfatórios dos alunos nas avaliações. Diante dessa questão, busquei compreender as razões e motivações que levavam esses estudantes a abandonarem o curso. Analisei o perfil dos alunos, seus conhecimentos prévios, seus interesses, além de refletir sobre a metodologia das aulas, sistema de avaliação e maneiras de adaptar o curso para atender a essas demandas.
Um fato que me chamou atenção foi que alguns alunos, notadamente mais inteligentes do que a média, desistiram do curso, enquanto outros com dificuldades evidentes de aprendizagem persistiram. Mais uma vez, ficou evidente que a garra, determinação e resiliência eram as principais características dos alunos que chegavam até o final, mesmo que isso lhes custasse mais tempo e exigisse um semestre adicional de estudos. Simplesmente, alguns alunos não se permitiam desistir antes de alcançar a meta estabelecida.
Essa meta era clara para eles: obter a certificação do Ensino Fundamental e Médio para manterem seus empregos. Quando confrontados com os obstáculos ao longo do caminho, eles mencionavam a importância da família, o bem-estar dos filhos e a relevância do emprego em suas vidas. A motivação principal surgia desses aspectos e os impulsionava a persistir.
No início dos anos 2000, iniciei minha trajetória como supervisora de ensino em uma Instituição privada sem fins lucrativos que abrange um total de 40 escolas em todo o território nacional. Nessa função, tive a oportunidade de percorrer todos os Estados brasileiros, interagindo com estudantes inseridos em variados contextos sociais e em regiões distintas. Essa experiência englobou desde escolas localizadas em grandes metrópoles do Sudeste até estabelecimentos de ensino situados em áreas remotas do Norte e Nordeste do Brasil.
Independentemente da região em que os alunos estudavam, todas as escolas seguiam um currículo comum e a Instituição oferecia várias atividades extracurriculares, como robótica, teatro, coral, banda, dança, grupo de iniciação científica, oficinas de redação, entre outras.
Os alunos que se destacavam nessas atividades geralmente eram reconhecidos pelos professores pelo alto nível de comprometimento e dedicação. Eles eram incansáveis na busca por resultados melhores e nunca desistiam diante de obstáculos ou desafios. A determinação desses alunos era evidente em cada exercício repetido, em sua vontade de entender os erros e em sua busca incessante por alcançar as metas.
Por outro lado, havia outro grupo de alunos que não tinham metas definidas, que nunca concluíam uma tarefa ou que não se dedicavam aos estudos com empenho. Quando convidados a participar das atividades extracurriculares, esse grupo geralmente se recusava imediatamente ou começava, mas logo desistia por diversos motivos.
Ao comparar as atitudes desses dois grupos - os que persistiam e os que abandonavam as atividades - cheguei à conclusão de que a determinação estava relacionada ao propósito e à convicção de poder conquistar algo melhor em suas vidas. Os alunos que participavam das atividades extracurriculares com determinação tinham um discurso de esperança em relação ao futuro, alimentavam sonhos sobre o que seriam na vida adulta e como contribuiriam para melhorar o mundo. Já o grupo dos que desistiam diante das primeiras dificuldades tinha um discurso pessimista sobre o futuro, sem metas definidas ou possibilidades alcançáveis.
A expectativa de que amanhã será melhor do que hoje nos faz acreditar que o esforço vale a pena. Isso é uma característica das pessoas otimistas, que mesmo diante de muitos motivos para desistir, continuam superando obstáculos e encarando as dificuldades como parte do caminho, temporárias e passíveis de mudança. Já os pessimistas veem a adversidade como algo permanente e, portanto, não enxergam o futuro como promissor e cheio de possibilidades.
O esforço de uma pessoa otimista não é tão pesado a ponto de fazê-la desistir de seus objetivos. A cada novo obstáculo, ela encontra maneiras de lidar e seguir em frente, criando um ciclo virtuoso que fortalece ainda mais sua determinação.
Partindo da convicção do poder da garra, determinação e resiliência no alcance dos objetivos, costumava instruir os estudantes que diante de um problema, temos duas opções: tentar e ter a oportunidade de acertar ou desistir e aceitar o fracasso como garantido. Essa ideia também se aplica a todas as situações da vida. Se você deseja desenvolver essas características das pessoas de sucesso, não desista antes de terminar.
Lembro-me de uma vez em que desisti de algo importante para mim e perdi uma grande oportunidade no início da minha carreira. Eu era muito jovem, logo após concluir meu curso de Pedagogia, consegui um cargo como orientadora educacional em uma escola em São Paulo, mas abandonei o emprego logo no primeiro mês. Sentia-me despreparada para a função e encarei isso como uma situação permanente, acabando com qualquer chance de superação. Não me dei a oportunidade de cometer erros e aprender. Faltou esperança e determinação. Faltou a mentalidade de crescimento que nos faz acreditar que é possível aprender e melhorar.
Muitos jovens agem dessa forma, desperdiçando uma oportunidade após a outra, alimentando uma mentalidade fixa que faz com que encarem os contratempos como prova de sua inadequação. Por isso, é tão importante e necessário que os adultos - pais, professores, mentores - ajudem os jovens a acreditarem que é possível mudar de verdade. Devemos educar os jovens para a determinação, para que se tornem confiantes no crescimento, conscientes de que não existe um caminho sem obstáculos, mas que, com uma mentalidade de crescimento, podemos cometer erros, refletir e depois acertar.
Algumas pessoas são criativas, estabelecem grandes objetivos para suas vidas, definem metas e são dedicadas quando as coisas estão indo bem, mas logo desanimam e abandonam seus propósitos diante das primeiras dificuldades.
A oportunidade de evoluir não é reservada apenas para pessoas medíocres. Mesmo aquelas dotadas de alta inteligência e talento podem evoluir por meio do esforço. Caso contrário, uma pessoa com um QI acima da média ou talento musical, por exemplo, não precisaria se dedicar aos estudos e treinamentos. Portanto, a determinação pode ser desenvolvida por qualquer pessoa, independentemente de possuir um QI excepcional ou não.
Temos inúmeros exemplos no mundo do esporte, das artes e das ciências que destacam o poder da determinação e comprovam que pessoas bem-sucedidas são modelos de perseverança.
Não se pode negar que algumas pessoas possuem talentos específicos, como cantar, tocar um instrumento musical ou resolver equações matemáticas. No entanto, o ambiente cultural em que vivemos também influencia nosso nível de determinação. A experiência tem um impacto direto na rapidez com que desenvolvemos habilidades. Muitos cientistas acreditam que tanto a natureza quanto a cultura desempenham um papel na definição de atributos como determinação e talento.
Esses dois atributos, talento e esforço, geram habilidade. E a habilidade combinada com o esforço leva ao sucesso. Não há uma fórmula mágica ou atalho para a perfeição; é necessário esforço para desenvolver habilidades, mesmo para pessoas talentosas.
Recentemente, o maestro João Carlos Martins, conhecido por sua determinação e garra, compartilhou como estava usando seu tempo durante o isolamento social durante a pandemia de Covid-19. Ele disse que estava praticando sete horas por dia para voltar a tocar com os dez dedos das mãos, usando luvas especialmente projetadas para ele. E ele concluiu dizendo que, quando completar 80 anos, fará um plano para os próximos vinte anos de sua vida. É um exemplo vivo de que o talento e a determinação podem ser desenvolvidos.
A verdade é que gostar de algo não significa que você seja ou se tornará excelente nisso. Insisto na prática disciplinada, que leva ao sucesso. O sucesso não tem nada a ver com sorte, mas é resultado da combinação de quatro recursos: interesse, prática, propósito e esperança.
Ao relembrar a trajetória do ídolo do esporte automobilístico Ayrton Senna, que conquistou 41 vitórias ao longo de sua carreira de dez anos na Fórmula 1, temos um ótimo exemplo de sucesso baseado nos pilares do interesse, prática, propósito e esperança. Um momento marcante dessa trajetória brilhante foi o Grande Prêmio do Brasil de 1991, quando Senna realizou um de seus grandes sonhos - vencer a corrida em casa. Sobre essa prova, Senna afirmou: "Não foi minha maior vitória, mas foi a mais sofrida. Ficará guardada na minha memória para o resto da vida". Ele estava se referindo ao esforço que precisou fazer ao longo da corrida: "Eu precisava mudar as marchas sem passar pela quarta, tinha que fazer um esforço tremendo com o braço. Com isso, além de perder tempo, comecei a ter um desgaste (físico) maior do que teria já com o acumulado da corrida”
É inspirador assistir à celebração de Ayrton Senna na televisão após aquela corrida. Ele estava exausto, com espasmos e dor nos braços, mal conseguindo erguer a garrafa de champanhe para comemorar. Esse é um excelente exemplo de alguém que não se deixava levar apenas pelo talento. Senna possuía interesse, prática, propósito e esperança. Ele tinha garra.
Se a garra, a determinação e a resiliência são tão importantes e já vimos que elas podem ser desenvolvidas ao longo da vida, quem são as pessoas capazes de incentivar esses valores, especialmente em crianças e jovens que estão em pleno processo de desenvolvimento e representam a esperança de um futuro melhor?
Os pais certamente têm essa responsabilidade, mas também é incumbência dos adultos que convivem com as crianças e jovens. Parentes, amigos e professores que se tornam referências em suas vidas podem desempenhar esse papel.
Eu acredito fortemente no poder do exemplo. O escritor e ativista James Baldwin disse: "As crianças nunca foram muito boas em ouvir o que os mais velhos dizem, mas nunca deixaram de imitá-los".
Portanto, devemos refletir sobre as teorias que temos sobre nós mesmos e sobre o mundo, pois isso influenciará nossas escolhas e ações. Que mensagem estamos transmitindo aos nossos filhos, alunos ou outras crianças e jovens que nos veem como referência?
Educar para a determinação é responsabilidade de todos, e não basta apenas teorias e discursos vazios. É necessário ter intencionalidade e praticar diariamente, pois isso servirá de exemplo para os mais jovens.
A esperança no futuro é o combustível que alimenta a determinação no presente. Se não houver esperança, não há razão para o esforço e a disciplina na prática. E hoje, diante do cenário político e social complexo em que vivemos, é comum que os pais, mesmo desejando um futuro brilhante para seus filhos, caiam na armadilha de cultivar a desesperança, a ideia de que nada que façamos irá mudar essa realidade, que tudo está perdido e as coisas só tendem a piorar. Muitas vezes, não é apenas o discurso, mas também a prática desencorajadora que prevalece no lar. Pais que desistem de lutar por seus próprios sonhos, se julgam velhos demais para mudar de opinião, não se permitem realizar pequenos prazeres, como fazer uma viagem, ter um hobby ou planejar o futuro.
Quantas crianças começam uma atividade esportiva, escolar ou de qualquer natureza e, diante da primeira dificuldade, pensam em desistir? Alguns pais têm uma atitude encorajadora e ajudam os filhos a perseverarem, não se deixando vencer antes de concluir. Já outros pais tendem a aceitar passivamente as desistências dos filhos, não dando a eles a oportunidade de superar as frustrações e obstáculos, persistir e desenvolver a determinação.
Nas escolas em que trabalhei, era comum ouvir reclamações dos pais sobre a quantidade de lição de casa que os filhos tinham, sobre textos longos para ler ou sobre o peso dos materiais que os adolescentes precisavam carregar. Os pais sempre encontravam justificativas para aliviar as dificuldades dos filhos. Essas atitudes contribuem para enfraquecer a determinação.
Os professores também desempenham um papel importante nesse processo de construção da garra, determinação e resiliência. Quantas vezes presenciei alunos em salas de aulas entregando suas atividades em branco, alegando que não sabiam responder a nada. Como podemos aceitar uma atitude assim sem ao menos refletir que é importante tentar, pois ao buscar formas de resolver as questões, há a chance de encontrá-las? Quando desistem de tentar resolvê-las, estão garantindo o fracasso. Isso é educar para a determinação. Não aceitar o mínimo esforço, ser exigente sem subestimar as dificuldades do aluno. Ensinar que o erro é uma oportunidade de crescimento, desde que seja refletido e que o pensamento possa ser reestruturado.
Garra, determinação e resiliência são conceitos que estão intrinsecamente relacionados.
Existe um consenso entre os estudiosos mais recentes de que pessoas resilientes também estão sujeitas a vulnerabilidades. Em outras palavras, não há uma resiliência absoluta que dê às pessoas superpoderes capazes de protegê-las totalmente dos efeitos de qualquer adversidade que a vida possa apresentar.
Também há consenso entre os autores de que não existe uma correlação observada entre resiliência e inteligência, assim como entre resiliência e classes socioeconômicas. Isso significa que todas as pessoas enfrentarão adversidades em algum momento da vida, temporárias ou permanentes, e em diferentes níveis de complexidade. No entanto, também é consenso que todas elas possuem mecanismos individuais e/ou coletivos para aumentar a resiliência.
Quando somos surpreendidos por eventos inesperados, sofrimentos imprevistos e até mesmo tragédias, é comum sentirmos medo, desamparo, fragilidade e uma série de sentimentos que abalam tanto nosso corpo quanto nossa mente. Essa sensação de ter um "peso nos ombros" é literalmente sentida, nos deformando e causando sofrimento. Nessas situações, ter uma alta resiliência faz a diferença para que essa "deformação" seja elástica e temporária. Mesmo que as experiências difíceis e dolorosas deixem marcas em nós, se possuirmos resiliência, essas marcas não serão suficientes para mudar quem somos. Pelo contrário, elas podem até nos tornar mais fortes para enfrentar outras crises.
As pessoas resilientes tendem a encarar as circunstâncias de forma mais positiva e otimista. Elas não se vitimizam diante das dificuldades e fracassos. Pelo contrário, assumem a responsabilidade pelo que lhes compete, externalizando a culpa e internalizando o sucesso. Parece difícil, não é mesmo? Porém, não é impossível, como veremos ao longo de nossas reflexões.
Assim como acontece com a aprendizagem de outros valores, é possível aumentar nossa resiliência.
Considerada um aspecto psicológico, a resiliência pode ser definida como a capacidade que um indivíduo possui para lidar com problemas, enfrentar adversidades e superar obstáculos, mantendo o equilíbrio. É um fato que a vida, de tempos em tempos, nos coloca à prova. Por isso, o primeiro passo nessa jornada é o autoconhecimento. É necessário responder sinceramente à seguinte pergunta: o que você faz quando se depara com um grande problema? Você foge, se esconde, chora ou encara de frente?
Em momentos desafiadores, superar as adversidades e manter nossos objetivos é de extrema importância. No entanto, para algumas pessoas, esse processo pode ser doloroso e difícil, não acontecendo de maneira instantânea. Não basta apenas querer superar, é necessário utilizar diversos mecanismos de defesa psicológica e física para enfrentar crises com resiliência.
A verdade é que ninguém nasce pronto para lidar com adversidades. É necessário desenvolver habilidades que nos fortaleçam, sendo um processo contínuo de conquista diária. Precisamos aprender a nos levantar após cada queda, avançar mesmo que haja retrocessos e compreender que sempre há a possibilidade de tentar novamente, mesmo que de maneira diferente.
Quando passamos por momentos difíceis e trágicos, nosso desejo é recuperar o equilíbrio e retomar o controle de nossa vida. Isso não significa reconquistar o passado, mas sim aprender com novos métodos, procedimentos e ferramentas que a crise nos apresenta. Ao superarmos as adversidades, abrimos espaço para transformar os momentos difíceis em oportunidades de aprendizado, crescimento e mudança. Pessoas resilientes amadurecem emocionalmente e se tornam mais fortes após superarem as fases negativas.
É sempre válido lembrar de exemplos de pessoas resilientes que deixaram um impacto significativo na superação de problemas sociais e na transformação da realidade social e política. Vamos recordar duas personalidades que representam bem o conceito de resiliência.
O primeiro exemplo é Nelson Mandela (1918 - 2013), líder do movimento negro na África do Sul. Ele lutou incansavelmente contra o regime de segregação e discriminação conhecido como apartheid. Após décadas de luta, Mandela foi eleito como o primeiro presidente negro do país. Durante sua jornada, ele passou 27 anos preso em uma cela minúscula, separado de sua família. Mesmo assim, Mandela não demonstrou ódio ou desejo de vingança. Após ser libertado, seus discursos transmitiram serenidade e sua mensagem de paz e justiça social ecoou pelo mundo. Ele é, sem dúvida, um exemplo extraordinário de resiliência humana.
Outra personalidade que exemplifica bem o conceito de resiliência é o renomado físico teórico e cosmólogo Stephen Hawking. Diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica aos 21 anos, uma doença grave que gradualmente paralisou todos os músculos do seu corpo, Hawking enfrentou essa adversidade ao longo de mais de cinquenta anos. Apesar de ter quase nenhum controle sobre seu próprio corpo, isso nunca o impediu de continuar trabalhando e conquistando feitos notáveis. Além de ser pai de três filhos, ele recebeu inúmeros prêmios em reconhecimento aos seus estudos científicos e participou de algumas séries e filmes. Stephen Hawking soube transformar sua própria tragédia em uma história extraordinária de superação.
Viktor Frankl é um exemplo notável de pessoa resiliente. Ele sobreviveu a um dos eventos mais terríveis e sombrios do século XX: os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. Durante três anos, o médico psiquiatra austríaco viveu o inferno em quatro campos de concentração nazistas diferentes: os guetos de Theresienstadt, Auschwitz, Kaufering e, por fim, Tiierkheim.
Separado de sua família, Viktor conseguiu manter a calma e resistir aos horrores do local ao concentrar-se em seu trabalho. Utilizando folhas de papel roubadas do escritório nazista, ele começou a escrever seu livro mais famoso. Em 1945, Viktor descobriu que toda a sua família havia sido assassinada nas câmaras de gás de Auschwitz. Mesmo após tantas tragédias, ele conseguiu superar a depressão e tornou-se um dos psiquiatras mais respeitados do mundo, sendo convidado para lecionar em importantes universidades, como Harvard e Cambridge.
Frankl é conhecido por ser o fundador da Logoterapia, uma abordagem psiquiátrica que explora o sentido da existência individual e sua dimensão espiritual. Seus estudos estão intimamente relacionados aos conceitos de resiliência.
Uma das frases mais conhecidas de Viktor Frankl é: "Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas - escolher sua atitude diante de um determinado conjunto específico de circunstâncias, escolher seu próprio caminho". Essa citação destaca a importância da liberdade de escolha e da atitude perante as adversidades, um aspecto fundamental da resiliência.
Ao examinarmos as histórias de pessoas altamente resilientes, como Nelson Mandela, Stephen Hawking e Viktor Frankl, identificamos características comuns: capacidade de adaptação, visão otimista do futuro, valores internos fortes, atitudes positivas em tempos de crise, aprendizagem contínua, senso de defesa ao mobilizar recursos adequados para enfrentar situações de ameaça, autoestima elevada, relacionamentos saudáveis e conexão com outras pessoas, criatividade e intuição, busca pela melhoria contínua.
Essas características demonstram que a resiliência envolve uma combinação de habilidades e atitudes que nos ajudam a enfrentar desafios e superar adversidades, permitindo-nos crescer e prosperar mesmo diante das circunstâncias mais difíceis.
O sucesso, portanto, é uma meta alcançável. O caminho pode ser desafiador, mas é possível desenvolver essas qualidades e atitudes para alcançar o sucesso desejado. O importante é sempre começar e recomeçar!
Neusa Maria Cesarino Martins
Psicopedagoga
16/02/2024