Morais e materiais
Não há dúvidas de que, basicamente, são dois os sofrimentos que experimentamos na vida humana: os sofrimentos morais, oriundos das aflições, remorsos, medos, entre outros quesitos e os materiais, próprios da vida material e muitas vezes independente da nossa vontade.
Interessante porque no caso das enfermidades, os sofrimentos se confundem nos aspectos moral e espiritual, face às origens e desdobramentos dos mesmos.
A questão se torna ainda mais abrangente quando percebemos os sofrimentos oriundos do orgulho ferido, da ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme e todas as paixões, em uma palavra, constituem torturas para a alma.
Sim, torturas. Invejosos e ciumentos torturam-se com a alegria e o progresso do próximo, o que é uma bobagem. Antes, mais inteligente, é alegrar-se com as conquistas, alegrias e vitórias de outras pessoas. Mais inteligente porque estamos melhorando o ambiente, o psiquismo do planeta. Afinal, estamos todos destinados à felicidade e o momento difícil que possamos enfrentar é apenas o indício de felicidade futura. Mas, pela tendência humana egoística, estacionamos na comparação, o que causa sofrimento.
A inveja e o ciúme são autênticos vermes roedores da tranqüilidade. Com eles não há calma, nem repouso. São como verdadeiros fantasmas que não dão trégua e costumam tirar até o sono, causar úlceras. É como se fosse uma febre contínua, que não cessa. Tudo pelo efeito da comparação, da baixa auto-estima.
É que não percebemos. Alimentando vaidades, ambições, ansiedades, invejas e ciúmes, lutamos contra nossa própria paz.
Do ponto de vista dos sofrimentos materiais, muitas vezes somos os próprios artífices dessas ocorrências. São decorrentes dos descuidos, negligências, atrasos, impaciências e precipitações, entre outras causas. Em alguns casos independem de nossa vontade, como nos casos de acidentes causados por outras pessoas ou mesmo nas calamidades naturais.
Todavia, pequena reflexão nos fará ver que no caso dos sofrimentos morais nossa responsabilidade é ainda maior. Muitos deles poderiam ser evitados com a calma, a paciência, a fé e mesmo a confiança na vida. E mais ainda se dermos um basta na maledicência, , na revolta interior, na inconformação, na reclamação ou na perniciosa tendência de diminuir-se e fazer comparações com bens e posições de outras pessoas.
Ora, cada pessoa está no estágio e posição que lhe é própria. Ninguém é maior do que ninguém, nem menor. Por isso, não há porque se sentir diminuído ou preterido. Em tudo há sábias razões da vida que visam nos proporcionar aprendizados.
São reflexões que extraímos da sabedoria da questão 933 de O Livro dos Espíritos, cujo pensamento se completa com outra notável afirmação: “(...) Deus deixa ao homem a escolha do caminho; tanto pior para ele, se toma o mau: sua peregrinação será mais longa. Se não houvesse montanhas, o homem não poderia compreender que se pode subir e descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem e o mal. (...)”, conforme encontramos na resposta da questão 634, que transcrevemos parcialmente.