Que tal chorar?
Eia! Subamos possuamos a terra, porque certamente prevaleceremos contra ela!
(Números 13:30)
Uma das maiores indústrias de móveis de escritório da América do sul, tinha a filial do Rio de Janeiro, dirigida pelo belga, Flavius van Maengo. Com aparência de estadista e tamanho de Rottweiller, de muito fino trato, possuía uma capacidade ímpar de se comunicar com a simpatia de um poodle e a gentileza de uma flor.
A imponência monarca estampada no rosto e comprovada pelas atitudes nobres de seu Maengo, fazia a organização lembrar firmas européias, certificadas com o selo “by appointment” (acreditação de rei). Por conta de tudo isso, os empregados eram fiéis à sua direção, empreendendo qualquer tipo de esforço no desempenho de suas tarefas.
O Gerente de Vendas, Almeida Pau Ferro, estava nervoso, naquele verão. A empresa estava tocando H.M.S. Pinafore, de Gilbert and Sullivan. Era o aviso sutil que seu Maengo estaria convocando todos para a reunião geral. Trocava a música ambiente por essa ópera acontecida em um navio inglês, sempre que precisava dirigir a palavra aos empregados.
-- Senhorras e Senhorres. Todos nós sabemos que existe uma crrise na prraça e não tenemos como negar. Nossa indústrria não trrabalha mais com madeirra legítima. Agorra, o aglomerrado tomou conta de tudo. Na verdade, o que mantém nossa qualidade é a parte de aço que compõe nossos móveis. – e o simpático belga continuou:
-- Querro minha gente! Fazer um apêlio drramático, parra que se dediquem e batam a meta. Estamos encerrando o ano e em todos os meses não conseguimos. Vocês vão me ajudar? – latiu, ou melhor, agradeceu o diretor.
A matriz em São Paulo, mandou chamar van Maengo e Pau Ferro para uma reunião. Quando o presidente ia bater o martelo para fechar a filial do Rio, o Gerente de Vendas, pediu a oportunidade de ser o Diretor por 90 dias, prometendo se não cobrisse a cota, proceder ao encerramento das atividades.
Chocado com a audácia do Português, que fora Vendedor da empresa por dez anos e era Gerente há apenas 12 meses, como quem paga para ver, o dono atendeu à solicitação lusitana.
-- Pessoal. Eu não tenho a experiência, a cultura, a credibilidade de seu Maengo. Sou uma pessoa de trabalho como vocês e venho de baixo. Os mais antigos sabem que comecei como Vendedor e agora estou como Diretor. Vou usar as mesmas palavras de nosso ex-diretor: faço um apelo dramático. Dessa vez, um pouco diferente. Esqueçam a crise. Ou melhor esta palavra está proibida aqui nesse lugar. Acompanharei os senhores nas visitas aos principais clientes e não aceito perder nenhum negócio. Se eu não ultrapassar a meta nos próximos 90 dias, estarei me retirando do cargo. Voltarei para Portugal. Não aceito de forma nenhuma envergonhar minha presidência. A reunião está encerrada. Bom Trabalho e Boas Vendas! – terminou o novo Diretor Almeida Pau Ferro.
O modo pragmático de agir de Pau Ferro, fê-lo conhecido no mercado. O Belga dispunha de uma bagagem incomum e muito necessária no mundo dos negócios. Seu erro era transmitir preocupação com a crise aos comandados. Isso causava um desânimo, enchendo as pessoas de um negativismo enorme. Alguns começaram mesmo a beber, de tanta preocupação com a crise.
Van Maengo, viajou de volta para a Bélgica. Tipo Seleção Brasileira quando perde a copa e retorna para casa.
Almeida Pau Ferro, representa atualmente com exclusividade um dos maiores fabricantes de cadeira do mundo.
Chegou da Europa de férias em um transatlântico. Estava sentindo saudades de Van Maengo. O comandante do navio inglês, esqueceu de tocar Cidade Maravilhosa. Em seu lugar ouvia-se a lindíssima música preferida do amigo Belga: H.M.S. Pinafore.
--Que tal Chorar?