REFLEXÕES DA VELHICE.
Charles Chaplin escreveu: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, sorria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” Se com a velhice não nos tornamos mais sábios, que pelo menos sejamos mais prudentes, cuidando da saúde da mente e do corpo, sem lamentar o passado, sem nos afligir com o futuro e sem antecipar preocupações.
Vamos viver sabiamente o presente momento. Nos últimos dias, tenho visto a vida como se de uma grande altitude, uma espécie de paisagem, e com um senso profundo de conexão com todas as suas partes.
A idade e a finitude das forças por conta do tempo nos convidam a refletir: Este assunto nos diz respeito, sim; ele pertence ao nosso futuro. Nós, setentões, não podemos fingir que não estamos velhos e com medo. Embora tenhamos predominantemente gratidão, não podemos esquecer que temos mais passado que futuro e que é necessário fazer as pazes com o mundo, pois a qualquer momento o deixaremos...
Quando jovens, transbordávamos saúde, nos sentíamos fortes e navegávamos em mares de Almirante. Hoje, sentimos a calmaria chegando, e por falta de vento, nosso barco navega lentamente.
Os hospitais têm sido nossa colônia de férias. Quem nos atende hoje, apesar de vestir "branco", não são garçons, mas sim médicos. Não nos dão drinks, mas sim remédios. Diagnósticos leves, outros um tanto pesados, mas todos indesejáveis.
Somos gratos, sim, por termos recebido do Criador o dom da vida, mas como toda máquina, existe um prazo de validade pelo tempo de uso, e requer manutenção. Somos "usados", bem "usados". Por isso, então, devemos imprimir uma velocidade controlada, ficar atentos à manutenção preventiva e descartar os problemas.
Depende de nós agora escolher como levar os anos que nos restam. É de bom alvitre, então, vivermos doravante de maneira mais racional e consciente de nossas limitações. A sabedoria reside em quem tem disposição moderada, temperamento controlado, humor alegre, é afeito a relacionamentos e que não seja colecionador de inimigos. Não há tempo para nada que não seja essencial.
Precisamos amar mais, para que sejamos igualmente amados; focarmos em nós mesmos e em tudo que nos dê prazer. Não devemos mais assistir ao Jornal Nacional todas as noites, prestar atenção à política, importar-nos com a crise no Oriente Médio ou discussões sobre o aquecimento global, muito menos com a desigualdade social. Isso não é mais assunto nosso; pertence ao futuro, que está nas mãos dos jovens. Nossa geração está de saída, indo embora e nos fazendo padecer com a ruptura, como se dilacerasse um pedaço de nós.
Levando em consideração que podemos morrer a qualquer minuto, por que esperar até que estejamos “condenados” para correr atrás de nossos sonhos e de uma vida mais leve e mais alegre? Não vale a pena viver tudo isso enquanto ainda há tempo?..
A vida é fruto da decisão de cada momento. O futuro se planta hoje, com nossas escolhas, nossos amigos e os valores que abraçamos; tudo será determinante para a colheita. Ainda há muito o que fazer, viver e plantar; mesmo que a colheita não seja farta, a vida ainda não terminou; os sonhos não envelhecem. - Vamos em frente. Sorriso no rosto e firmeza nas decisões. O tempo de ser feliz é hoje!
Manoel Lobo.