A abordagem geográfica de paisagem no Brasil
Aires José Pereira
Entender um pouco sobre o estudo geográfico de paisagem no Brasil exige que se faça revisão historiográfica da própria discussão acerca do tema, verificando quais foram os pesquisadores pioneiros, as influências que receberam de pesquisadores de outros países e também, a evolução destas análises geográficas. É interessante frisar que os estudos sobre paisagem pela Geografia no Brasil tiveram influências da escola francesa e, posteriormente, da escola anglo-saxônica correlativamente aos primeiros pressupostos de afirmação da própria ciência geográfica em nosso país. Quer dizer, não dá para acompanhar a evolução do conceito de paisagem na Geografia do/no Brasil sem levar em consideração a História do Pensamento Geográfico Brasileiro.
A construção do conceito de paisagem na geografia brasileira foi influenciada pela escola francesa, inspirada especialmente nos trabalhos de Tricart. Só mais recentemente, com as técnicas de geoprocessamento, é que a influência anglo-saxônica se faz presente no conceito de paisagem como produto de estudos integrados, e em parte, na metodologia para o zoneamento ecológico-econômico – ZEE. Durante muitos anos foi utilizada uma compartimentação do relevo brasileiro, elaborada pelo geógrafo e professor Aroldo de Azevedo, em 1940 (apud ROSS, 1985). AB’SABER, em 1969, propôs os domínios Morfoclimáticos Brasileiros, considerando a “relação cobertura vegetal, tipo de clima e modelado predominante do relevo” (apud ROSS, p. 27. Em 1985, ROSS, geógrafo, professor da USP, propõe uma nova classificação do relevo brasileiro, dividindo em Unidades de Planaltos, de Planícies e depressões, formando no total, vinte e oito macro-unidades geomorfológicas, consideradas quanto à estrutura e morfoestrutura. Outros de seus trabalhos abordaram a vulnerabilidade do relevo, e foram produzidos a partir do cruzamento de informações geomorfológicas e pedológicas, aplicados em outras unidades ambientais definidas pelo padrão morfológico observado por meio de sensores. MAXIMIANO, 2004. p. 88-9.
O estudo sobre paisagem pela Geografia Brasileira ainda é incipiente, de acordo com Maximiano. Os estudos aparecem sempre relacionados às outras categorias de análises geográficas. O nosso trabalho aqui proposto, por exemplo, pretende discutir a paisagem urbana de algumas cidades brasileiras, levando-se em consideração, além dos aspectos naturais do lugar, os aspectos culturais, políticos, econômicos e históricos nessa definição dinâmica de paisagem. Referimo-nos à definição dinâmica porque acreditamos que a paisagem está passando por constantes transformações.
Consultas a anais de encontros e congressos de geografia e temas ambientais brasileiros evidenciam a pequena proporção de estudos sobre paisagem ou sua classificação. Em geral, paisagem aparece como variação de termos como: meio ambiente natural, unidade espacial, visual. Seus contornos podem ser definidos a partir de feições do uso do solo, tendo como produtos paisagem urbana, paisagem rural, degradada ou natural, ou podem ser unidades territoriais e/ou espaciais, como municípios, parques, bacias hidrográficas. São comuns pesquisas sobre um componente da paisagem, vindo depois a consideração dos efeitos de outras variáveis, como a ação humana sobre o elemento principal ou sobre o todo. MAXIMIANO, 2004. p. 89.
Para começarmos a discussão propriamente dita de ocupação do cerrado brasileiro e ver como isso se deu, ou seja, como que o homem, com suas tecnologias transformaram/transforma paisagem natural em paisagem humanizada e mudou/muda as formas de perceber, sentir, viver, agir neste espaço é interessante que entendamos todo o processo de ocupação desta área até pouco tempo atrás inóspita à economia brasileira. O cerrado só se tornou parte economicamente “ativa” da economia brasileira e internacional, uma vez que seus produtos – na grande maioria são exportados- recentemente por meio de incentivos governamentais e programas dirigidos à ocupação. Além de créditos, isenções fiscais, doações de enormes áreas aos grandes agropecuaristas, o governo ainda criou empresas agrícolas que possibilitaram às tecnologias biogenéticas capazes de tornarem um solo estéril e solo fértil e produtivo.
*Observação: este artigo faz parte de artigo publicado em Revista Científica de Geografia, bem como, de minha tese de Doutorado intitulada: LEITURAS DE PAISAGENS URBANAS: Um Estudo de Araguaína - TO, defendida em 24 de abril de 2013 na Universidade Federal de Uberlândia.
Aires José Pereira é professor do curso de Geografia e do Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis, é coautor do Hino Oficial de Rondonópolis, possui vários livros e artigos publicados. É membro efetivo da Academia Rondonopolitana de Letras e da Academia de Araguaína e Norte Tocantinense.