Algumas considerações sobre conceito de paisagem
Para entender o conceito de paisagem reinante hoje entre e nas várias ciências, bem como, nas artes, na filosofia e no senso comum, é interessante que se estude a sua “história” tanto temporal como espacial e como a sociedades em sua “intimidade” tem debruçado seus olhares sobre ela. Quer dizer, a noção de paisagem vai estar diretamente relacionada ao ambiente cultural, histórico, espacial, estético, ético, étnico, de um povo, ou mesmo de um indivíduo dentro de uma coletividade maior. Raul Seixas já dizia que “cada cabeça é um universo”. Acreditamos que a paisagem pode representar formas diferenciadas aos olhares dicotômicos que as veem. Além disso, a evolução do homem enquanto ser social vai “contornando” a sua forma de percepção da paisagem e ela está presente em sua memória desde os primórdios da humanidade.
A noção de paisagem está presente na memória do ser humano antes mesmo da elaboração do conceito. A ideia embrionária já existia na observação do meio. As expressões desta memória e da observação podem ser encontradas nas artes e nas ciências de diversas culturas, que retratavam inicialmente elementos particulares como animais selvagens, um conjunto de montanhas ou um rio. As pinturas rupestres são uma referência para esta percepção direcionada a alguns componentes do ambiente. MAXIMIANO, 2004. p. 84.
Como se vê, as expressões culturais de um povo já são por si só, manifestações da própria percepção do espaço e da paisagem que são criadas ou potencializadas pelo homem. Quando afirmamos criadas, estamos nos referindo aos edifícios, as casas, pontes, indústrias, etc. que o homem cria ao longo de sua história enquanto ser social. Quando referimos às paisagens “potencializadas”, queremos dizer que a própria natureza é uma paisagem (natural) e o homem dá o seu toque social nessa paisagem a “organizando” de acordo com sua cultura, seu jeito de pensar, sentir, agir e ser. É claro, o modo de produção também se insere nessa paisagem, indiscutivelmente.
As diversas disciplinas científicas e mesmo o senso comum têm uma explicação própria do que seja paisagem. Há variações do conceito, conforme a disciplina que o elabora, mas também há parâmetros mais ou menos comuns mantidos nas definições. MAXIMIANO, 2004. p. 84.
A noção de paisagem vai estar diretamente relacionada com o “olhar” científico desta ou daquela disciplina que esteja estudando-a. Além desse método particular que cada área científica possui, há também, embutido nesse olhar científico do cientista, a sua própria cultura, seu modo de ver, perceber, ser e agir no mundo. Há também, os parâmetros científicos que são obedecidos pelos cientistas, mas a abordagem que cada ciência faz sobre a paisagem com certeza difere uma da outra.
Embora a participação humana na paisagem seja admitida praticamente como consenso, paisagens têm sido estudadas sob ênfase diferenciadas, onde nem sempre as sociedades humanas são consideradas no mesmo nível que outras variáveis. MAXIMIANO, 2004. p. 88.
Já entrando um pouco na concepção de paisagem pela ciência geográfica, vamos perceber que existem várias formas de sua percepção... Essas percepções vão desde a Geografia “Física” à Geografia “Humana”, ou, em alguns casos, na “junção de ambas”, mas em todas elas se admitem a dialética como fazendo parte desta ou daquela paisagem. A paisagem é dialética. Ele une os contrários. Dessa forma:
A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indispensável, em perpétua evolução. A dialética tipo-indivíduo é próprio fundamento do método de pesquisa. BERTRAND, 2004. p. 141.
*Observação: este artigo faz parte de artigo publicado em Revista Científica de Geografia, bem como, de minha tese de Doutorado intitulada: LEITURAS DE PAISAGENS URBANAS: Um Estudo de Araguaína - TO, defendida em 24 de abril de 2013 na Universidade Federal de Uberlândia.
Aires José Pereira é professor do curso de Geografia e do Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis, é coautor do Hino Oficial de Rondonópolis, possui vários livros e artigos publicados. É membro efetivo da Academia Rondonopolitana de Letras e da Academia de Araguaína e Norte Tocantinense.